Ondas de calor se torna rotina em favelas e aldeias, aponta levantamento climático

Levantamento mostra como comunidades em situação de vulnerabilidade convivem com extremos climáticos, revelando desigualdade no acesso a direitos e proteção ambiental.

Em meio ao agravamento das mudanças climáticas, as comunidades mais pobres do Brasil estão na linha de frente dos impactos ambientais. Segundo o Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas 2025 — elaborado pela organização Teto em parceria com o Insper — as ondas de calor são o evento climático mais citado por moradores desses territórios: 71,4% dos entrevistados afirmam conviver com temperaturas extremas.

A pesquisa, realizada com 124 questionários aplicados em 119 comunidades de 51 municípios de todas as regiões do país, revela ainda que tempestades (56,3%), enchentes (53,8%) e falta de água (49,6%) são eventos recorrentes no cotidiano das populações vulneráveis.

Vista de casas no calor em comunidade do Complexo da Maré. Comunidades vulneráveis são as que mais sofrem com eventos climáticos extremos.
Comunidades como Complexo da Maré enfrentam os efeitos extremos do clima em meio à falta de infraestrutura, como saneamento e drenagem. Foto: Douglas Lopes (Redes da Maré)

Apesar da escassez hídrica ser um problema frequente, quatro em cada cinco comunidades estão localizadas a até 100 metros de rios, canais ou córregos — o que acentua riscos de alagamentos, contaminação e falta de infraestrutura adequada de saneamento. O levantamento mostra ainda que 65,5% das comunidades estão próximas a áreas de mata preservada, o que pode representar tanto acesso a recursos naturais quanto exposição a incêndios, queda de árvores e invasão de animais silvestres.

O estudo abrange aldeias indígenas, quilombos, favelas, ocupações urbanas e assentamentos rurais. A maior parte das entrevistas foi conduzida em São Paulo (25 comunidades), seguida por Paraná (16), Bahia (13) e Rio de Janeiro (11). As aldeias indígenas incluídas no estudo estão todas localizadas em território paulista.

Entre os problemas relatados, também aparecem quedas de árvores (37,8%), desabamentos (31,9%), secas prolongadas (21%) e deslizamentos de terra (19,3%). A pesquisa aponta variações regionais. O Sudeste e o Nordeste sofrem mais com enchentes e falta de água, enquanto Norte e Centro-Oeste lidam com secas e doenças tropicais. Já o Sul destaca-se por tempestades e frio intenso.

Como caminhos para adaptação, o relatório propõe o fortalecimento da Defesa Civil, criação de fundos comunitários para resposta rápida a desastres, moradias transitórias e obras emergenciais de drenagem, contenção e acesso a serviços básicos. As propostas respondem à realidade em que apenas 47% das comunidades contam com iluminação pública e 77% seguem sem qualquer sistema de drenagem implantado pelo poder público.

Crianças de comunidade brincam próximas a córrego poluído com lixo e esgoto, em área urbana de alta vulnerabilidade
Em muitas comunidades na Amazônia, crianças convivem com córregos contaminados e resíduos a céu aberto, cenário que agrava riscos de doenças e enchentes. Foto: Jovem Pan News,
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

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