Um grande projeto de mineração para extração de urânio e fosfato pode representar uma ameaça adicional à sobrevivência da nova espécie de cacto
Uma nova espécie de cacto 100% cearense, identificada recentemente na Caatinga, já está em potencial risco de extinção. Nomeada como Tacinga mirim, essa planta é uma versão miniatura da Tacinga palmadora, conhecida como palmatória. Ela atinge no máximo 50 centímetros de altura, enquanto a palmatória pode chegar a 4 metros.
Sua semelhança com a espécie maior levou a erros de identificação por anos. A confirmação como uma nova espécie se deu por meio de análises morfológicas e genéticas, que revelaram diferenças em tamanho, espinhos e formatos das flores, além de variações nos cromossomos.

O artigo que descreve a nova espécie de cacto foi publicado em julho no periódico científico Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, em acesso aberto.
A descoberta é dos pelos pesquisadores Marcelo Oliveira Teles de Menezes (IFCE) e Lânia Isis Ferreira Alves (UFPB). Durante trabalho de campo em dezembro de 2022, os botânicos identificaram apenas oito populações do cacto, todas localizadas na “depressão sertaneja” do interior do Ceará, evidenciando sua distribuição bastante restrita e o risco potencial de extinção. As localidades ocupadas pelo pequeno cacto somam apenas 36 km², o que acende um alerta e coloca a espécie em perigo de extinção, segundo os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
A ameaça da mineração
Os pesquisadores alertam que o habitat da Tacinga mirim está em declínio acelerado. Segundo dados do MapBiomas citados no artigo, entre 1985 e 2022, os cinco municípios onde a espécie ocorre registraram perda de cobertura de vegetação nativa entre 4% e 16%. A situação é especialmente crítica em Santa Quitéria, onde, em 2020, foi firmado um acordo para a implantação do Consórcio Santa Quitéria, um grande projeto de mineração para extração de urânio e fosfato. Isso pode representar uma ameaça adicional à sobrevivência da espécie recém-identificada.

“Considerando a gravidade e extensão dos impactos diretos e indiretos causados pela mineração, estas populações poderão sofrer impactos com a instalação do projeto. Estudos rigorosos são necessários na área de mineração proposta para confirmar a presença de T. mirim na região e, se necessário, reavaliar os impactos ambientais”, ressaltam os pesquisadores em trecho do artigo.