“O Nobel para a inovação de 2025… É um complemento do de 2024, que apresentava a relação entre instituições fortes e crescimento econômico. É o esclarecimento que não basta que elas sejam fortes, é preciso que elas sejam abertas a favoráveis à inovação”
As manchetes comemoraram unânimes pelo trio laureado com Nobel em Economia. Peter Howitt, Philippe Aghion e Joel Mokyr. Diz-se que é pelas suas contribuições em inovação. No press-release divulgado pela Real Academia Sueca de Ciências, o motivo declarado foi “por terem explicado o crescimento econômico guiado pela inovação”. Como não há nada de novo debaixo do sol, ligo o desconfiômetro e investigo de onde veio tudo isso.
O conceito de inovação tem três pontos seminais. O primeiro é do economista russo Nikolai Kondratiev (1892-1938). Tendo seu foco no crescimento econômico, propôs descrevê-lo em torno de “ondas longas”, estimando ciclos de aproximadamente cinquenta anos em que há picos de prosperidade. Esses picos seriam direcionados por “abertura de fronteiras”, e a inovação seria um dos principais, mais não único, canais de abertura de novas fronteiras.
As grandes navegações, por exemplo teriam sido um dos maiores direcionadores de ondas longas. Hoje há uma linha de pesquisas apenas para descrever e testar essas ondas longas, chamadas de “ondas-K”, e os maiores direcionadores de abertura de fronteiras são as tecnologias de propósitos gerais, ou TPG’s.
O segundo ponto é do economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950). Seu foco era economia política, uma tentativa de fazer “tira-teima” na dicotomia entre capitalismo e socialismo. Pela sua tese, a única diferença relevante entre ambos é que o capitalismo dá espaço para a inovação e, tudo o mais constante, a inovação permite constantes reduções nos preços, exigindo dos trabalhadores cada vez menos salários-hora para que eles consumam os mesmos produtos ou serviços.
Secundariamente, Schumpeter afirmara que a inovação é presente mesmo em estruturas de mercado concentradas, posto que uma grande empresa monopolista ou oligopolista têm incentivos naturais e mais capacidade de buscar a eficiência. Também que a inovação não precisa de muitos recursos, visto a frequência em que pequenos empreendedores munidos tão somente de muita ambição e disciplina, e excelentes ideias, conseguem inventar um produto ou processo e assim tomar o mercado dos grandes incumbentes, levando à tal “destruição criativa”.
A linha de pesquisa derivada de Schumpeter costuma testar essa relação entre inovação e estrutura de mercado, foi uma das principais contribuições de laureado Philippe Aghion. Poucos percebem, mas a conclusão de Schumpeter é pessimista, distópica. Talvez só receba atenção quando sua previsão de fim do capitalismo se concretizar.
A terceira linha vem do economista lituano Zvi Griliches (1930-1999), pioneiro a investigar empiricamente a inovação ao nível dos agentes. Com dados da adoção de sementes híbridas de milho por parte dos fazendeiros norte-americanos, demonstrou que a variável financeira não era a única a guiar o comportamento inovador. A interação social, por exemplo, também é importante. A esta linha pertencem os estudos que tentam entender e solucionar o comportamento inovativo nas empresas, o que as restringem ou impulsionam a inovar.
Ah sim, o Nobel de 2025… É um complemento do de 2024, que apresentava a relação entre instituições fortes e crescimento econômico. É o esclarecimento que não basta que elas sejam fortes, é preciso que elas sejam abertas a favoráveis à inovação. O trio agora laureado juntou as pontas abertas por Kondratiev, Schumpeter e Griliches. E dá o caminho correto para compreendermos os motivos de não sermos prósperos nas proporções ofertadas pelas nossas potencialidades, e tomarmos as decisões adequadas.