A monocultura de café em Una, Bahia, cresceu de 25 para 119 hectares entre 2008 e 2022, gerando preocupações ambientais. Saiba como produtores defendem suas práticas e as alternativas sustentáveis propostas para proteger a biodiversidade local.
Nos últimos anos, a expansão da monocultura de café no município de Una, na Bahia, tem suscitado preocupações significativas entre ambientalistas e pesquisadores. O impacto negativo dessa prática na Mata Atlântica e nas espécies ameaçadas, como o mico-leão-da-cara-dourada, está no centro das discussões. Este artigo resume a matéria da Mongabay sobre a situação atual, os desafios enfrentados e as possíveis soluções propostas.
Entre 2008 e 2015, a área de cultivo manteve-se em 25 hectares. No entanto, em 2020, essa área aumentou para 60 hectares e, em 2022, chegou a 119 hectares. Este crescimento acelerado preocupa ambientalistas devido à fragmentação dos remanescentes florestais e à perda de habitat para inúmeras espécies em risco de extinção.
Impacto no mico-leão-da-cara-dourada
Uma das espécies mais afetadas pela expansão da monocultura de café é o mico-leão-da-cara-dourada. Nas últimas três décadas, a população dessa espécie diminuiu em 60%, com estimativas atuais variando entre 16 mil e 21 mil indivíduos. A área de ocorrência do mico-leão-da-cara-dourada foi reduzida de 22.700 km² para 13.215 km², principalmente devido ao desmatamento para a agropecuária.
O desmatamento ilegal é uma preocupação crescente na região. Em 2023, o ICMBio emitiu 57 autos de infração por desmatamento em unidades de conservação federais na região, com multas totalizando R$ 1,2 milhão. Adicionalmente, o Ibama identificou 532,8 hectares desmatados e aplicou R$ 2,8 milhões em multas. A equipe regional do ICMBio enfrenta desafios significativos devido à falta de pessoal e recursos, complicando a gestão e a proteção das reservas.
Soluções propostas
Café sombreado
Uma alternativa sustentável à monocultura é a adoção do café sombreado. Especialistas sugerem essa prática como uma maneira de preservar as cabrucas e a biodiversidade, mitigando os impactos ambientais negativos.
Planos de manejo
O ICMBio está desenvolvendo Planos de Manejo para o Parque Nacional, o Refúgio de Vida Silvestre de Una e a Reserva Biológica de Una. Esses planos visam uma gestão mais eficiente e integrada das áreas protegidas, promovendo a conservação da biodiversidade.
Cacau agroecológico
Ricardo Gomes, do Instituto Arapyaú, sugere que a tradição de cabrucas, combinando geração de renda com conservação da biodiversidade, poderia ser uma alternativa sustentável à monocultura cafeeira. Sistemas agroflorestais são vistos como uma solução viável para manter o equilíbrio ambiental.
Perspectiva dos produtores
Os produtores de café defendem que estão em conformidade com as leis ambientais. David Sousa, presidente da Associação dos Produtores e Agricultores Rurais de Una (Aparuna), afirma que a expansão da cafeicultura não está reduzindo florestas ou áreas de cabruca. Ele destaca que os investimentos são financiados por bancos que exigem conformidade ambiental e que a Prefeitura monitora as propriedades, dificultando a depredação das reservas ambientais.
Microcrédito e certificação
A ONG Tabôa Fortalecimento Comunitário, em parceria com o Instituto Arapyaú, criou o CRA Sustentável, que beneficia famílias locais com assistência técnica para manter plantações de cacau e outros cultivos agroecológicos. Esta iniciativa resultou em um aumento de renda de 35% a 45%. Além disso, a certificação orgânica participativa e o selo de Indicação Geográfica para o cacau de cabruca garantem sustentabilidade e acesso a mercados de alto valor agregado.
Em 2022, um projeto do Instituto Arapyaú venceu um edital do BNDES, assegurando R$ 10,5 milhões para 600 agricultores na Bahia e no Pará. Este financiamento promove Sistemas Agroflorestais na Amazônia, reforçando a sustentabilidade e a conservação das cabrucas.
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