Pesquisa inédita no Brasil detecta microplásticos em placentas e cordões umbilicais

Estudo pioneiro realizado em Maceió indica que partículas de microplásticos alcançam o organismo fetal e podem afetar o desenvolvimento do bebê ainda na gestação.

Imagem de grávida com a mão na barriga. Estudo realizado pela Universidade Federal de Maceió identificou presença de microplásticos na placenta de bebês.
Estudo pioneiro, realizado pela Universidade Federal de Maceió, analisou amostras de dez gestantes atendidas em dois hospitais de Maceió. Foto: Ascom/SMS.

Pela primeira vez na América Latina, uma pesquisa comprovou a presença de microplásticos em cordões umbilicais de recém-nascidos. O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), analisou amostras de dez gestantes atendidas pelo SUS em Maceió (AL) e revelou um total de 229 partículas. Em 80% dos casos, havia mais microplásticos no cordão do que na placenta.

A descoberta levanta um alerta inédito: a contaminação plástica atinge os bebês ainda no útero. As amostras foram analisadas com a técnica de espectroscopia Micro-Raman, que permite identificar compostos com alta precisão. Os materiais mais encontrados foram polietileno, usado em embalagens descartáveis, e poliamida, presente em tecidos sintéticos.

Os pesquisadores apontam como possíveis fontes a ingestão de frutos do mar, comuns na dieta local, e o consumo de água mineral em garrafões plásticos – que expostos ao sol liberam partículas de microplástico com rapidez. 

Garrafa de água exposta ao sol.
Pesquisadores apontam que uma das fontes dos microplásticos identificados nas amostras é o consumo de água envasada em embalagem plástica, que quando exposta ao sol libera altas quantidades do composto. Foto: Mark Thiessen/ National Geographic.

Estudos anteriores já relacionaram microplásticos à prematuridade e mostraram que compostos como o poliestireno afetam o metabolismo da placenta e podem interferir no desenvolvimento fetal.

Para o pesquisador Alexandre Urban Borbely, os dados evidenciam uma crise ambiental com consequências biológicas profundas. Ele defende a regulação urgente da produção e do descarte de plásticos: “Se a gente conseguir reduzir no ambiente, consequentemente vamos reduzir o que fica na gente”, explica. 

Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

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