Ministério do Meio Ambiente justifica licença da Petrobras para perfuração na Foz do Amazonas

Proam estima que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas pode emitir mais de 13 bilhões de toneladas de CO₂, gerando impacto global na descarbonização.

Faltando menos de três semanas para a COP30, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) divulgou nota oficial defendendo a licença ambiental concedida pelo Ibama à Petrobras para perfuração do poço exploratório Morpho, na bacia da Foz do Amazonas. 

O bloco FZA-M-59, localizado na costa do Amapá, é considerado uma das regiões mais ecologicamente sensíveis do país. Segundo o MMA, a autorização de exploração na Foz do Amazonas é resultado de um processo técnico iniciado em 2014, com a realização de três audiências públicas e 65 reuniões técnicas. 

Mapa com os Estados das Bacias da Margem Equatorial, Petrobras pretende iniciar exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Mapa da Margem Equatorial localiza Bacia da Foz do Amazonas. Foto: Divulgação/G1.

O governo também reforça que o Ibama impôs condicionantes à Petrobras, como a instalação de um Centro de Reabilitação e Despetrolização em Oiapoque (AP) e a ampliação das embarcações de resgate da fauna em caso de acidentes. A nota ressalta que a decisão do Ibama tem caráter técnico e que cabe ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deliberar sobre a conveniência da exploração. 

A medida provocou reações imediatas de ambientalistas e lideranças indígenas. Em nota, o Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) afirmou ter “intensa preocupação” com a liberação da atividade exploratória na bacia da Foz do Amazonas, que pode conter até 30 bilhões de barris de petróleo. A entidade estima que a queima desse volume poderia liberar entre 420 e 430 kg de CO₂ por barril, o que totaliza cerca de 13 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.

Carlos Bocuhy, presidente do Proam, estima que o impacto seria da ordem de US$ 15 trilhões, com base em pesquisas de Stanford. “Às portas da COP30, ocorre o imponderável: o Brasil abre portas para a extração petrolífera no coração de sua maior riqueza, a Amazônia, vulnerabilizando a maior floresta tropical global, que abriga a maior biodiversidade planetária”, afirmou. 

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) classificou o projeto como “predatório” e denunciou a ausência de consulta prévia, livre e informada, prevista na Convenção 169 da OIT. “Esperamos que seja revista essa autorização, pois os nossos direitos não podem ser negociados. O direito de quem cuida e vive naquele território há milhares de anos não pode ser ignorado”, declarou Luene Karipuna, coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp).

Grupo indígena em manifestação, segurando faixas e cartazes contra exploração de petróleo na Foz do Amazonas.
Indígenas da região Norte protestam contra a exploração petrolífera na Amazônia. Foto: Divulgação/Coiab
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

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