Apesar do potencial da tecnologia para apoiar a transição energética, o consumo de energia trazido por sua implementação já vem sendo debatido pelas empresas
Cada comando enviado a uma ferramenta de inteligência artificial possui um fluxo intenso não só de informações, mas também de energia. É o que mostra uma pesquisa da Deloitte, organização focada em oferecer soluções de auditoria e consultoria financeira, intitulada “Impulsionando a inteligência artificial – Um estudo sobre a pegada ambiental da IA— hoje e no futuro“. O estudo, divulgado em parceria com concessionárias de energia elétrica globais e compartilhado com o portal Um Só Planeta, alerta para o impacto ambiental significativo do funcionamento de centrais de dados que suportam sistemas de inteligência artificial, e estima que o consumo energético para manter esses servidores deve triplicar na próxima década, agravando os desafios ambientais associados à IA.
A análise revela que a grande capacidade de processamento necessária para cada mensagem gera um consumo de energia e custos ambientais silenciosos, mas perigosos a longo prazo. O uso global de eletricidade por data centers alcançou mais de 380 TWh em 2023, correspondendo a 1,4% do consumo mundial de eletricidade e 0,3% das emissões globais de gases de efeito estufa. Esse consumo deve mais que dobrar até 2033, segundo os dados, atingindo 1.000 TWh, ou 3% da energia mundial. Ao mesmo tempo, a indústria da inteligência artificial deve receber mais de US$ 200 bilhões em investimentos até 2025, com setores como energias renováveis e economias limpas planejando expandir seu uso de IA.
Assim, apesar do potencial da tecnologia para apoiar a transição energética ser reconhecido pelas empresas, há um debate crescente sobre os impactos ambientais causados pelo aumento do consumo energético associado à sua implementação.
“As inovações de IA e eficiência dos data centers são fundamentais para moldar um cenário energético sustentável. Adequar o uso da energia nos data centers é parte dos movimentos que cada empresa precisa fazer para apoiar o compromisso de mudança climática a favor do planeta”, avalia Guilherme Lockmann, sócio-líder da Deloitte para Sustentabilidade e o segmento de Power, Utilities e Renewables.
Apesar dos impactos ambientais associados ao uso de IA ainda serem incertos e variáveis de acordo com fatores como o ritmo e escala de adoção dessas tecnologias e potenciais avanços nos centros de dados em relação a eficiência energética, se a taxa de crescimento atual da capacidade dos data centers de inteligência artificial for mantida, o consumo global de energia desses centros poderá atingir 2.000 TWh até 2050, cerca de 3% do consumo global de eletricidade até 2050.
Como administrar o cenário
O estudo destaca que alinhar o desenvolvimento da inteligência artificial às metas globais de sustentabilidade requer colaboração contínua para maximizar seu potencial transformador sem prejudicar o meio ambiente. Embora o consumo crescente de energia seja preocupante, há oportunidades importantes para reduzir o impacto ambiental dos data centers e medidas como o uso de tecnologias de eficiência energética, incluindo sistemas de resfriamento avançados, otimização de cargas de trabalho e integração de fontes de energia renovável podem contribuir significativamente para mitigar os efeitos ambientais do crescimento do uso de IA.
“Governos e empresas são cruciais para reduzir o impacto climático da IA, por meio da adoção de práticas sustentáveis, alinhando incentivos de mercado com operações, investindo em novas tecnologias e apoiando estruturas regulatórias favoráveis”, enfatiza Lockmann.