Um estudo recente da First Street Foundation revela que o aumento do risco de inundações, exacerbado pelas mudanças climáticas, está impulsionando uma migração hiperlocal no Condado de Bexar, Texas (EUA), afetando o crescimento populacional e a dinâmica habitacional em áreas urbanas.
Nas últimas duas décadas, San Antonio e a área circundante do condado de Bexar no Texas viram um aumento populacional de mais de 600 mil habitantes. Surpreendentemente, cerca de 17% dos quarteirões da cidade tiveram uma diminuição na população.
Esta diferença significativa é atribuída principalmente ao risco de enchentes agravadas pelas mudanças climáticas. Um relatório recente da First Street Foundation, uma organização sem fins lucrativos focada em dados climáticos, destaca essa realidade.
Tendência de migração
Localizado na área conhecida como Flash Flood Alley no Texas, o condado de Bexar reflete uma tendência nacional de migração hiperlocal para escapar das inundações. Esse fenômeno está esvaziando quadras urbanas, como revelado no relatório.
A pesquisa foi baseada em um modelo publicado na revista Nature Communications. Esse estudo analisou as mudanças populacionais usando dados detalhados do Censo dos EUA e levou em conta fatores além das inundações, como oportunidades de emprego e qualidade das escolas.
A First Street descobriu que, entre 2000 e 2020, aproximadamente 3,2 milhões de americanos se mudaram de áreas com alto risco de inundação. No entanto, a maioria dessas pessoas não se mudou para muito longe.
Jeremy Porter da First Street comentou sobre a existência de “vencedores e perdedores” no que se refere ao impacto do risco de inundação na demografia dos bairros. Isso afeta o valor das propriedades, a composição dos bairros e a viabilidade comercial.
Projeções para o Futuro
A análise também prevê que, nos próximos 30 anos, áreas vulneráveis continuarão a perder população.
Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, os Estados Unidos testemunharam um aumento na frequência de desastres causando danos de pelo menos US$ 1 bilhão. O aquecimento global intensifica fenômenos como inundações, elevação do nível do mar, furacões mais intensos e chuvas mais prolongadas.
A migração climática é uma realidade, desde a perda de terras na Costa do Golfo até incêndios florestais na Califórnia. Contudo, quantificar o impacto das mudanças climáticas na migração a nível de bairro é um feito inédito em escala nacional.
A First Street concentrou sua pesquisa exclusivamente nas inundações, considerando-as o desastre climático mais comum. Os pesquisadores desenvolveram um modelo que avalia mudanças populacionais até o nível dos quarteirões, a menor unidade geográfica do Censo dos EUA. Eles combinaram esses dados com históricos de inundações para analisar a influência das inundações na migração, diferenciando-a de outros fatores sociais e econômicos.
Ponto de virada
O estudo identificou um ponto de virada: quando 5% a 10% das propriedades em um quarteirão correm risco de inundação, as pessoas começam a se mudar, mesmo na presença de atrativos como uma bela vista costeira. Esse fenômeno pode levar ao declínio de áreas anteriormente prósperas ou ao abrandamento de um crescimento que seria mais rápido.
Analisando especificamente o condado de Bexar, foi observado que bairros com menor risco de inundação cresceram mais rapidamente do que aqueles com alto risco.
Kristina Dahl, cientista climática da Union of Concerned Scientists, apontou que as razões para as pessoas se mudarem podem ser complexas. Embora ela reconheça a qualidade do modelo da First Street, ela observou que as conclusões desafiam a maioria das literaturas científicas atuais. Segundo Dahl, fatores ambientais geralmente têm uma prioridade mais baixa nas decisões de mudança, com as pessoas se preocupando mais com oportunidades de emprego ou proximidade com a família.
A matéria completa pode ser lida no site da Folha de São Paulo
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