ESG na Amazônia: entre a retórica global e o propósito industrial da ZFM

“Enquanto o mundo revisa suas crenças sobre o ESG, a Zona Franca de Manaus reafirma um modelo de sustentabilidade real — o movimento ZFM + ESG nasce para revelar o diferencial competitivo da indústria amazônica e o capitalismo da responsabilidade”.

Coluna Follow-Up

O debate global sobre ESG (Environmental, Social and Governance) vive um momento de virada. Depois de uma década de entusiasmo, o conceito começa a ser revisto por economistas e gestores que questionam sua eficácia real. Um dos analistas mais respeitados do mercado financeiro, Matt Levine, colunista da Bloomberg Opinion, na última semana, chamou o ESG de “complexo industrial”, formado por consultorias, fundos e relatórios de boa aparência, mas pouca substância.

Sua crítica expõe uma contradição: o ESG global se transformou, em muitos casos, em produto de marketing corporativo — uma estética moral que pouco contribui para o equilíbrio entre crescimento, sociedade e meio ambiente.

Mas a Amazônia oferece uma lição diferente. Aqui, o ESG não é moda: é condição de existência econômica e ambiental. No Polo Industrial de Manaus (PIM), a sustentabilidade não se anuncia em relatórios — ela se pratica diariamente, há mais de meio século, na forma de empregos formais, inovação tecnológica e floresta preservada.

Imagem aérea da Resex Ituxi.
Imagem aérea da Reserva Ituxi. Foto: Divulgação/TV Brasil.

ZFM + ESG: o capitalismo da responsabilidade amazônica

Enquanto parte do mundo debate se é possível lucrar fazendo o bem, a Zona Franca de Manaus (ZFM) demonstra, na prática, que lucro e sustentabilidade são compatíveis.

O modelo amazônico reúne resultados que poucos países alcançaram: mais de 95% da cobertura florestal preservada, meio milhão de empregos diretos e indiretos, renda distribuída em toda a região Norte, além de investimentos contínuos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D).

O movimento ZFM + ESG surge para tornar visível essa diferença, diz Bosco Soares, titular da Suframa. “Não é uma adesão ao modismo das siglas globais, mas uma declaração de autenticidade amazônica”. Aqui, o E de ambiental é floresta em pé; o S de social é trabalho digno e formal; e o G de governança é o compliance fiscal, os fundos tecnológicos, as taxas da Suframa e a transparência das instituições empresariais como CIEAM e FIEAM.

Enquanto bancos internacionais anunciam trilhões de dólares em iniciativas “sustentáveis” que prometem salvar o planeta sem comprometer lucros, o PIM devolve ao país mais tributos do que recebe de incentivos, financia universidades públicas e sustenta a floresta que o mundo inteiro deseja proteger.

Da retórica à realidade: o diferencial amazônico

O risco do ESG global é tornar-se um teatro de intenções, uma vitrine de virtudes com pouco enraizamento social.

Na Amazônia, o desafio é inverso: revelar o que já é realidade.

A ZFM + ESG quer construir uma plataforma de mensuração, comunicação e reconhecimento internacional da sustentabilidade praticada pelo setor industrial de Manaus, reafirma Régia Moreira, da Comissão ESG do CIEAM.

“Trata-se de um movimento de autorreconhecimento e transparência, que busca traduzir os indicadores ambientais, sociais e de governança já existentes em uma linguagem acessível, inspiradora e verificável”. É também uma oportunidade de reposicionar o Brasil no cenário global como potência de economia verde e industrialização responsável.

A economia da floresta em pé como pacto de futuro

A crítica de Matt Levine, feita a partir de Wall Street, alerta para o esvaziamento ético do ESG quando ele se desconecta da produção real.

Na Amazônia, essa crítica se converte em afirmação positiva: o capitalismo pode — e deve — servir à sociedade e ao planeta quando opera sob princípios de responsabilidade, legalidade e compromisso territorial.

O movimento ZFM + ESG representa o reencontro entre indústria e floresta, entre economia e cidadania. É o passo seguinte de um modelo que há quase seis décadas mostra que é possível gerar desenvolvimento a partir da floresta em pé, sem precisar destruir o que a natureza construiu.

Mais do que uma estratégia, é um pacto amazônico de futuro: provar que o desenvolvimento sustentável não é uma promessa — é o que o Brasil já tem de mais concreto para oferecer ao mundo.


Follow-Up é publicada no Jornal do Comércio do Amazonas, às quartas, quintas e sextas feiras, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, editor geral do portal BrasilAmazôniaAgora

Alfredo Lopes
Alfredo Lopes
Alfredo é consultor ambiental, filósofo, escritor e editor-geral do portal BrasilAmazôniaAgora

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