Desinformação e o desafio das fake news nas eleições municipais

No Brasil, mais de 20% das pessoas confiam muito nas mídias sociais, mas são justamente esses indivíduos que encontram maior dificuldade em identificar fake news, refletindo o grande desafio das fake news no país, com uma taxa de acerto de apenas 54%, segundo pesquisa da OCDE

No contexto das eleições municipais, o Mito da Caverna de Platão oferece uma metáfora poderosa para refletir sobre a percepção da realidade e a verdade em tempos de campanhas eleitorais. Escrito há mais de dois mil anos, o mito descreve uma caverna onde pessoas estão acorrentadas, forçadas a olhar para sombras projetadas nas paredes, acreditando que essas sombras representam a realidade. Assim como os prisioneiros da caverna que tomam as sombras por verdade, os eleitores podem ser enganados pelas promessas e narrativas dos candidatos, muitas vezes projetadas para seduzir e manipular, sem a intenção de se traduzirem em ações concretas.

Aparências que enganam

Essa comparação torna-se ainda mais relevante na era digital, onde deep fakes e fake news funcionam como as sombras da caverna de Platão, distorcendo a percepção dos eleitores e criando uma falsa realidade que influencia as escolhas nas urnas. Assim como Platão nos convida a questionar as sombras e buscar a verdade além das aparências, os eleitores de hoje devem ser incentivados a sair da caverna da desinformação, examinando criticamente as informações que recebem e buscando a verdadeira substância por trás das promessas políticas.

Fake News e Deep Fakes: o que são?

Fake news são informações falsas criadas com o objetivo de enganar o público e manipular opiniões. Elas podem se apresentar em várias formas, como textos, imagens ou vídeos, e são disseminadas rapidamente pelas redes sociais. As deep fakes representam um estágio mais avançado dessa desinformação, sendo montagens sofisticadas de imagens, vídeos e áudios gerados por inteligência artificial. Essas montagens são tão realistas que, muitas vezes, é quase impossível distinguir o que é verdadeiro do que é manipulado.

DESAFIO DAS FAKE NEWS

No contexto eleitoral, essas tecnologias são usadas para manipular a percepção dos eleitores, influenciar resultados e desacreditar adversários políticos. A disseminação de deep fakes é particularmente perigosa porque, além de enganar, ela semeia desconfiança, fazendo com que as pessoas questionem até mesmo informações verdadeiras, contribuindo para uma erosão geral da confiança na mídia e nas instituições.

Impacto na qualidade e credibilidade dos governos

Governos eleitos com base em campanhas de desinformação enfrentam desafios significativos. A credibilidade desses governos é comprometida desde o início, uma vez que as promessas feitas durante a campanha podem estar enraizadas em falsidades. Isso cria um ambiente de ceticismo e desconfiança, dificultando a implementação de políticas públicas e a obtenção de apoio popular.

Além disso, a disseminação de fake news e deep fakes pode resultar em uma sociedade profundamente dividida, onde a polarização se intensifica e o diálogo construtivo se torna cada vez mais raro. Isso pode levar a uma governança instável e a um ciclo vicioso de desinformação e desconfiança, comprometendo a própria democracia.

Brasileiros campeões da desinformação

Relatório da OCDE realizado em 21 países mostra que brasileiros são os piores em identificar notícias falsas. Um aspecto crucial destacado no estudo é a relação dos cidadãos com as redes sociais como fonte de informação. Brasil, Colômbia e México são os campeões do mundo em obter suas informações por meio dessas mídias, superando 50%, enquanto no Japão apenas 25% recorrem às redes sociais para se informar. Além de serem os que mais consomem informações pelas redes sociais, os brasileiros também são os que mais confiam nelas. Enquanto a média global de pessoas que confiam muito nas mídias sociais é de 9%, no Brasil esse número ultrapassa 20%. Aqueles que mais confiam nas redes sociais são justamente os que têm mais dificuldade em identificar fake news, com uma taxa de acerto de apenas 54%, a menor da pesquisa.

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O que fazer para reverter essa desordem?

Para enfrentar esse desafio, os eleitores precisam adotar uma postura proativa, desenvolvendo habilidades críticas para avaliar a veracidade das informações, aprendendo a reconhecer fontes confiáveis e entendendo como a desinformação é disseminada. Antes de compartilhar qualquer conteúdo, é essencial verificar a origem das informações. Plataformas de checagem de fatos, como #Fato ou Fake?, podem ser ferramentas valiosas nesse processo.

Consumir notícias de uma variedade de fontes confiáveis ajuda a evitar bolhas informativas e a ter uma visão mais equilibrada dos acontecimentos. Este treino, indiretamente, nos ajuda a prevenir golpes que se baseiam na boa-fé de nossas crenças, que nos levam a acreditar naquilo que está escrito ou publicado.

Ações públicas e pedagógicas

As autoridades também têm um papel fundamental na proteção da integridade do processo eleitoral. Por isso, é necessário atualizar e reforçar a legislação relacionada à desinformação e ao uso de deep fakes. São instrumentos para punir severamente aqueles que utilizam essas ferramentas de manipulação.

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Trabalhar em caráter colaborativo com empresas de tecnologia para monitorar e remover rapidamente conteúdos falsos e deep fakes é essencial, especialmente durante períodos eleitorais. Promover, igualmente, campanhas públicas para educar os eleitores sobre os perigos da desinformação e as técnicas de manipulação digital.

Educação, legislação e vigilância 

Em um mundo onde a desinformação se espalha mais rápido que a verdade, é de extrema importância que tanto os eleitores quanto as autoridades estejam vigilantes e preparados para enfrentar esse desafio. Somente com educação, legislação e vigilância, em contexto de ação proativa, será possível proteger a integridade do processo eleitoral e garantir que a democracia continue a funcionar de maneira saudável e justa.

Belmiro Vianez Filho é empresário do comércio, ex-presidente da ACA e colunista do portal BrasilAmazôniaAgora e Jornal do Commércio

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Redação BAA
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