Com negociação do Mercosul com a União Europeia e a pressão por padrões mais sustentáveis de produção, agricultores franceses protestaram por vantagens competitivas injustas, o que levou o Carrefour a cessar a compra de carnes do bloco
Uma decisão do grupo Carrefour de não vender carnes produzidas por países do Mercosul causou grande repercussão no Brasil nos últimos dias, especialmente no setor agropecuário. O anúncio inicial foi feito pelo presidente do grupo francês de varejo, Alexandre Bompard, como parte de um protesto contra o acordo comercial em negociação entre o Mercosul e a União Europeia, que levanta questões sobre a origem sustentável da carne e o desmatamento e pressiona para que o setor agropecuário diminua suas emissões de gases do efeito estufa. Segundo ele, se o acordo em questão for firmado, a França seria “inundada” com carne “que não atende às exigências e normas” do país.
No entanto, diante da forte reação, incluindo ameaças de boicote aos supermercados Carrefour no Brasil, a empresa recuou e pediu desculpas ao governo brasileiro nesta terça-feira (26). O Ministério da Agricultura e Pecuária informou que recebeu formalmente uma carta assinada por Bompard, esclarecendo sua declaração em apoio aos agricultores franceses e reconhecendo “a alta qualidade, o respeito às normas e o sabor da carne brasileira.”
“Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpa”, diz trecho do documento.
A JBS, maior frigorífico brasileiro e dona da marca Friboi, reagiu prontamente à decisão do Carrefour de suspender a venda de carnes oriundas de países do Mercosul na França e, em 21 de novembro, um dia após ao anúncio do CEO francês, interrompeu o fornecimento de carne à rede de mercados. A Friboi, marca da JBS que representa cerca de 80% das carnes comercializadas pelo Carrefour no Brasil, é crucial para o abastecimento das lojas da rede. Após a retratação, segundo o Valor Econômico, o grupo de varejo voltou a receber carnes dos frigoríficos.
O pontapé para a crise
Os produtores europeus vêm há meses demonstrando insatisfação com políticas ambientais e regulatórias mais rigorosas impostas pela União Europeia. As manifestações, que incluem bloqueios de estradas em diversos países do bloco, refletem a preocupação dos agricultores com o impacto dessas medidas em sua competitividade e sustentabilidade financeira.
Entre os principais pontos de queixa estão o excesso de burocracia e a pressão por conformidade com regras ambientais, como a redução do uso de pesticidas. Muitos agricultores franceses argumentam que essas medidas aumentam seus custos operacionais e tornam a concorrência com produtos importados, muitas vezes oriundos de países com padrões ambientais menos rigorosos, ainda mais desafiadora. Com o novo acordo firmado com o Mercosul, eles também alegam que produtores dos países do bloco teriam vantagens competitivas injustas no mercado, o que diminuiria ainda mais a margem de lucro dos fornecedores locais no mercado europeu.
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