Na madrugada desta terça-feira, 6 de maio, uma denúncia contundente lançada pela CBN São Paulo expôs ao Brasil o avanço de uma das técnicas mais brutais de desmatamento ilegal utilizadas hoje no país: o uso do correntão — um verdadeiro instrumento de guerra contra a floresta.
O que é o correntão?
Quem explica o correntão nos detalhes é a jornalista Rosana Jatobá: A prática é simples e devastadora: uma corrente naval gigantesca, daquelas utilizadas em grandes embarcações, é presa entre dois tratores de alta potência. Eles percorrem áreas de floresta nativa arrastando a corrente entre si, devastando tudo pela frente — árvores centenárias, vegetação rasteira, animais, cursos de água, o solo.
O impacto é tão veloz quanto irreversível: até 10 campos de futebol podem ser desmatados em apenas uma hora. A vegetação é arrancada pela raiz, os animais são esmagados, o solo é compactado de tal forma que a água da chuva deixa de infiltrar, inviabilizando qualquer regeneração natural.
Crime ambiental de alta intensidade
Essa tática — cruel, arcaica e absolutamente predatória — vem sendo utilizada principalmente para abrir espaço para a pecuária extensiva. Trata-se de um processo de transformação criminosa da floresta nativa em terra arrasada, a serviço de uma lógica de curto prazo que sacrifica o futuro em nome do lucro imediato.

A passagem do correntão pela floresta não é apenas destruição: é um massacre silencioso, um genocídio da vida em todas as suas formas. A cada metro arrastado, milhares de seres vivos são esmagados sem chance de fuga. Macacos, antas, aves, filhotes em ninhos, insetos polinizadores, árvores centenárias — tudo vira entulho sob o peso brutal do ferro e da ganância.
🔵- O solo, antes vivo, fértil, respirando com a floresta, é compactado até sufocar. Sua estrutura se desfaz, sua fertilidade desaparece. É como asfixiar a terra com as próprias mãos. O que antes brotava com abundância, agora não germina mais. Nem capim.
🔵- As nascentes, pequenos olhos d’água que alimentavam rios, comunidades e lavouras, são destruídas sem piedade.O ciclo da água se rompe. O que a natureza demorou séculos para organizar é interrompido em poucas horas de devastação mecânica. A chuva que cai, já não infiltra. Escorre, leva embora o pouco que resta.
🔵- E o que sobra? Não é campo. Não é floresta. É deserto. Uma terra estéril, um vazio esverdeado que nada produz, nem abriga. Uma área antes pulsante de biodiversidade se transforma num cemitério ecológico, sem retorno, sem futuro.
🔵- Sem floresta, sem solo, sem água: não há agricultura que sobreviva. A produção de alimentos despenca. A pecuária, que motivou a destruição, é a primeira a sucumbir. O ciclo perverso do lucro imediato implode sobre os próprios ombros de quem o alimentou.

Essa é a verdadeira face do correntão: a fábrica da morte que transforma riqueza viva em paisagem morta.
Legislação emperrada: o Projeto de Lei 5.268/2020
Tramita desde 2020 no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 5.268/2020, que proíbe expressamente o uso do correntão em todo o território brasileiro. A proposta está parada, mesmo diante de alertas de cientistas, ambientalistas e procuradores da República. A urgência de sua aprovação nunca foi tão evidente.
A aprovação dessa lei representa uma fronteira civilizatória: ou o Brasil assume a defesa de seus biomas com seriedade ou afunda na barbárie do desmatamento industrial.
Mobilização popular: a hora é agora
Está sendo organizada uma petição nacional pedindo a aprovação imediata do PL 5.268/2020. O movimento também exige fiscalização rigorosa por parte do IBAMA, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, com responsabilização criminal dos envolvidos e embargo imediato das áreas devastadas.
O uso do correntão não é uma inovação tecnológica — é uma arma contra a floresta e contra o futuro do país. É uma técnica que representa o que há de mais atrasado, violento e insustentável na forma de se fazer riqueza.
Isso é desenvolvimento ou devastação?
É inaceitável que, em pleno 2025, diante da emergência climática e da responsabilidade internacional do Brasil sobre seus biomas, ainda se tolere a aplicação de métodos tão destrutivos. A destruição das florestas com correntão não é apenas um crime ambiental, mas uma traição ao próprio desenvolvimento nacional.