“Por isso, a pergunta retorna com ainda mais força. O que a Amazônia – sua indústria, sua inteligência e seus compromissos registrados no Manifesto – pretende entregar ao mundo após a COP?”
Coluna Follow-Up
A COP30 encerrou-se em Belém com o título audacioso de COP da implementação. No entanto, quando a diplomacia se afasta dos holofotes e as demandas urgentes voltam a bater à porta, permanece uma pergunta essencial – e incômoda. Quem, afinal, implementa aquilo que a COP não conseguiu entregar?
Governos negociam, assinam e anunciam. Mas a transformação das metas globais em resultados concretos (infraestrutura verde, descarbonização, rastreabilidade, inclusão produtiva e inovação) depende das empresas. É nelas que se concentra a força econômica, logística e tecnológica que atua na vida real, no território, na floresta e nas cidades.
Ricardo Mussa, da Sustainable Business COP30, enfatizou que a sustentabilidade deixou de ser peça decorativa da responsabilidade social para ocupar o centro das estratégias empresariais. Não funciona mais como ornamento reputacional, mas como vetor de sobrevivência e competitividade, uma espécie de novo pacto entre consumidores, governos e o próprio planeta.
Essa também é a visão sustentada há anos por Denis Minev. Para ele, não existe Amazônia sustentável sem Amazônia produtiva, não existe transição climática sem mercados em funcionamento e não há implementação possível sem a presença do setor privado.
A COP30, porém, revelou algo ainda mais profundo: a Amazônia não está apenas esperando ou reagindo. Ela está propondo.
A prova mais contundente disso é o Manifesto da Indústria da Amazônia para a COP30, assinado pelo CIEAM, pelas empresas da Zona Franca de Manaus, pelo Observatório ESG Amazônia, por trabalhadores e por pesquisadores. O documento traduz em linguagem de ação aquilo que a própria COP não conseguiu organizar, ao apresentar um plano de implementação, com metas, métricas, compromissos e rotas de entrega até 2035.
O Manifesto sintetiza um posicionamento histórico ao afirmar: “Produzir com responsabilidade. Distribuir com justiça. Inovar com propósito.” Não se trata de uma peça de retórica institucional, mas de um programa de trabalho.
E também responde, de modo direto, à pergunta que ficou no ar após o encerramento da conferência. Quem implementa as decisões que não avançaram na COP? Implementa quem já começou a fazê-lo.
Com a neutralidade de carbono com metas auditáveis, inclusão real da biodiversidade e dos povos indígenas nas cadeias, equidade de gênero e raça nas lideranças, economia circular como regra operacional e meta em movimento; projetos jurisdicionais de carbono e o selo “ZFM+ESG – Amazônia Industrial Sustentável”, sob a batuta da SUFRAMA, com uma visão de futuro que não depende de retórica, mas de capacidade instalada.
Os dados apresentados pelos pesquisadores – a poronga acesa da evidência – reforçam essa trajetória. O Amazonas mantém 97% da floresta preservada, gera mais de meio milhão de empregos, sustenta 52% do VBP estadual, responde por 35,3% da arrecadação tributária da região Norte e possui o maior tempo médio de permanência no emprego do Brasil, tudo isso sem derrubar árvores.
Esse conjunto não expressa uma promessa. É implementação em andamento.
Por isso, a pergunta retorna com ainda mais força. O que a Amazônia – sua indústria, sua inteligência e seus compromissos registrados no Manifesto – pretende entregar ao mundo após a COP?
A resposta, apresentada pelo CIEAM e pelas empresas da região, já está posta. Trata-se de um pacto climático com raízes amazônicas, onde produzir significa conservar e conservar representa desenvolver. A Amazônia não ocupa uma posição periférica no mundo industrial; ela é um centro estratégico.
A COP30 terminou. A implementação, não. E o setor privado amazônico mostrou que não aguarda a iniciativa alheia. Ao contrário: convida o mundo a acompanhar o ritmo da floresta, da indústria e da ciência que aqui já caminham juntas. Esta é a convocação. Este é o manifesto. E este Follow-Up registra que a indústria da Amazônia não pede permissão para existir. Ao atuar no coração da floresta, ela abre caminhos para que o planeta sobreviva.