Alguns anos em poucos meses. Pelo menos para o varejo, a aceleração da transformação digital, que levou 7 milhões de consumidores a comprarem online pela primeira vez durante a quarentena, segundo dados da Nielsen em parceria com a Compre&Confie, foi um dos grandes legados deixados pela pandemia em 2020.
Eduardo Terra, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo), não só destaca uma profunda mudança nas formas de vender e consumir, mas sinaliza cenários e tendências para 2021. Em qualquer um deles, a digitalização continuará como grande protagonista das relações de consumo.
Antes da crise da covid, uma base de cidadãos digitais amadurecia no Brasil, com 220 milhões de smartphones, 80% dos lares com acesso à internet e 120 milhões de usuários de WhatsApp, destaca. Mesmo assim, havia uma certa inércia no comportamento de consumo, e pouco impulso para comprar pelo digital.
E a pandemia quebrou essa inércia: a partir de março, as pessoas foram tomadas pelo receio de ir às lojas, mesmo no varejo considerado essencial, afirma Terra. Já no varejo que ficou quase 100 dias fechado, os canais digitais viraram a única opção, e quem nunca tinha comprado nada pela internet teve a primeira experiência.
Mas essa aceleração não aconteceu só no e-commerce: Terra cita outra pesquisa, da Accenture em parceria com o Facebook, que mostra que 82% das pessoas usaram o WhatsApp em algum momento da jornada de compra, seja para procurar loja, pesquisar preços ou buscar qualquer outro tipo de informação.
Ou seja, houve também uma mudança de comportamento do consumidor online. E para 2021, que começa ainda com pandemia e a expectativa pelo início da vacinação, em um cenário econômico de incerteza e alta volatilidade como nunca se viu, a aceleração digital será ainda maior, destaca Terra.
“Tem 5G chegando, consolidação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), maturidade do PIX, open banking, o crescimento do e-commerce com ajuda dos marketplaces…”, diz. “Com isso, este ano deve marcar não só essa aceleração no grande varejista, mas uma ainda maior do pequeno e médio nesse mundo digital”.
A seguir, Terra faz um panorama dos pontos que deixarão o varejo ainda mais online este ano:
PIX: Agenda imediata do varejo, o sistema instantâneo de pagamentos deve diminuir consideravelmente o custo das transações com cartão de crédito e débito, segundo Eduardo Terra. “Com ele, as tarifas que o lojista pagava para o banco vão passar por uma melhora de competitividade e redução de custo ao longo de 2021”.
LGPD: A entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados em 2021 vai regular coleta e armazenamento de um dos maiores ativos das empresas hoje em dia: os dados. Porém, esse avanço regulatório exigirá que o varejo tome mais cuidado em sua relação com os clientes, afirma.
Em especial o menos estruturado, como o pequeno e médio, que deverão ficar atentos à dinâmica de envio de ofertas e promoções, além de repensarem como cuidam do cadastro e dos mailings para evitar problemas jurídicos ou até multas. “A LGPD não é exatamente um benefício, mas um ponto de atenção”, alerta.
MARKETPLACES: A estratégia para estimular o pequeno e médio varejo a vender online na quarentena, copiada dos grandes varejistas pelos shoppings para evitar um fechamento ainda maior de lojas-satélite, reforçou a operação dessas plataformas, que os hospedam em troca de divulgação e estrutura logística.
Por isso, em 2021, a presença dos marketplaces deve aumentar de forma significativa. “Essas plataformas estão se preparando para colocar cada vez mais pequenos e médios lojistas no ambiente digital”, sinaliza.
5G: A quinta geração da internet móvel chegará prometendo altíssima velocidade para downloads e uploads, cobertura mais ampla, conexões mais estáveis e baixa latência, ou seja, menor tempo de resposta.
Essa mudança radical e importante para o varejo deve chegar para valer em 2022, segundo Terra, e 2021 será o ano das discussões regulatórias e técnicas. “A conectividade na loja será maior, o PDV mais rápido, o consumidor se conectará com produtos e com a loja… O 5G será de fato uma grande revolução”, destaca.
OPEN BANKING: O marco tecnológico que vai facilitar o trânsito das pessoas por instituições bancárias e mais ainda, o crescimento do e-commerce, é uma agenda futura, mas de médio prazo, afirma o especialista.
Apesar de afetar menos o varejo, a tecnologia que permitirá ao consumidor fazer portabilidade da sua conta bancária levando seus dados, que até então pertenciam à instituição financeira, aumentará a dinâmica de competição entre elas. “Carregar seu histórico de dados dará mais força a esse consumidor”, reforça Terra.
Fonte: Jornal do Commercio – JCAM
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