“Neste Natal, que a luz da estrela de Belém não seja apenas um eco do passado, mas uma guia para o presente e para o futuro. Que ela nos inspire a abraçar a coexistência entre amor e dor, entendendo que o sofrimento de muitos não pode ser ignorado e que a solidariedade é o caminho para a verdadeira redenção.”
Por Nelson Azevedo
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O Natal é, em sua essência, uma celebração do nascimento da esperança. A vinda de Jesus ao mundo, anunciada pela luz de uma estrela, representa um marco espiritual, social e histórico. Contudo, essa mesma história de redenção é inseparável da dor, simbolizada pela tirania de Herodes e pela perseguição que culminou em sofrimento para tantos inocentes. É nesse paradoxo que reside o verdadeiro significado do Natal: uma coexistência de luz e trevas, amor e dor, promessa e luta.
Crueldade versus fraternidade
A narrativa bíblica do Natal nos remete a um tempo de profundas desigualdades e injustiças. Herodes, movido pelo medo de perder o poder, ordena a morte de crianças inocentes, transformando o nascimento de Cristo em um evento cercado por sangue e lágrimas. Ao mesmo tempo, a estrela que guia os Reis Magos até a manjedoura de Belém simboliza a força do amor e da fé diante das adversidades. O Natal, desde o princípio, foi um evento que uniu os extremos da condição humana: a crueldade do poder desmedido e a redenção através da humildade e da solidariedade.
O Natal é Luz num mundo de desigualdades
O mundo moderno, como na época de Herodes, vive seus próprios paradoxos. Nunca foram geradas tantas riquezas, nunca também a pobreza nunca foi tão avassaladora. Enquanto a tecnologia e a globalização criam riquezas inimagináveis, milhões ainda vivem na penúria, sem acesso ao básico para uma vida digna. A desigualdade, ampliada pela má distribuição de bens e oportunidades, é uma ferida aberta na consciência da Humanidade e que contrasta com o espírito natalino de fraternidade.
Construção de pontes
O Natal, entretanto, insiste em nos lembrar de outro caminho. A luz da estrela que guiou os Magos ainda brilha como um convite para a solidariedade. Ela nos chama a construir um mundo mais justo, onde os bens materiais não sejam acumulados por poucos à custa da miséria de muitos. A mensagem do Natal é clara: é preciso restaurar o valor do amor ao próximo, partilhar, compreender e construir pontes que unam em vez de dividir.
Lições de uma contradição
Assim como o cantos dos poetas do Norte, que denunciam a desigualdade em relação ao Sul, e que misturam dor e amor sem separá-los, o Natal nos convida a refletir sobre a interdependência entre sofrimento e redenção. A história de Jesus é um testemunho de que a dor não é o fim, mas parte do caminho para a luz. É a partir da dor que o amor se torna mais necessário e mais pleno. E é exatamente na época do Natal que somos convidados a relembrar que, mesmo em meio à injustiça e à tirania, a esperança não morre; ela renasce na fé e na ação.
Um convite à justiça fraterna
A estrela do Natal é um símbolo de alerta e de inspiração. Ela nos chama não apenas para celebrar, mas para agir. Num mundo onde a divisão de bens e oportunidades continua a alimentar a injustiça, o Natal é um convite para refletir e transformar. É um chamado à partilha, à construção de um espírito comunitário, e à redescoberta do significado de fraternidade.
Solidariedade é o caminho
Neste Natal, que a luz da estrela de Belém não seja apenas um eco do passado, mas uma guia para o presente e para o futuro. Que ela nos inspire a abraçar a coexistência entre amor e dor, entendendo que o sofrimento de muitos não pode ser ignorado e que a solidariedade é o caminho para a verdadeira redenção.
Que o Natal seja, acima de tudo, um tempo de reflexão e de ação. Um momento de transformar a dor em amor e a injustiça em esperança.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.