Como funciona o Fascismo?

Deixo a sugestão do livro “Como funciona o Fascismo”. No mínimo merece uma reflexão para o mundo de hoje, pois não podemos normalizar o anormal.

Por Augusto César Rocha
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Estudar política é uma necessidade desde sempre. No mundo agitado da falta de reflexão e de tempo, onde a pressão por resultados, mensagens, e-mails, reuniões e toda uma enxurrada de informações que chegam por todos os lados, faz-se necessário encontrar um tempinho para ler textos com mais calma. Para quem não possui este tempo, fiz aqui um breve resumo do texto do Prof. Jason Stanley, da Universidade de Yale, que sumariza um conjunto de características do Fascismo.

Afinal, Hitler e outros Fascistas não surgiram do “nada”. Eles se candidataram a partir de um regime democrático, ascendendo ao poder gradualmente. Convém entender um pouco da caminhada. Analisar a história, décadas depois do que aconteceu, é relativamente fácil, quando comparada a uma análise no desenrolar contemporâneo. Segundo o autor, o “nós contra eles” é derivado deste ambiente.

Assim, ele enumera dez características que, se consideradas em conjunto, caracterizam a construção Fascista.

A primeira delas é o passado “mítico”, onde ele seria melhor do que o presente ou futuro. Com isso, existe uma ideia de retorno ao “passado ideal”.

A segunda é uma propaganda forte e importante – onde os “outros” são colocados como inimigos e se opõem à Nação, tornando-se “inimigos da Nação”, não apenas oponentes políticos ou com ideias divergentes.

O terceiro elemento é que o líder é quem define o que é “verdadeiro” e o que é “falso”, criando um ambiente de irrealidade. O conhecimento científico, intelectual ou qualquer outro é adequado somente quando é alinhado cegamente com o líder fascista. Assim, o centro da democracia – que é a verdade construída sob pontos de vistas distintos – vai se perdendo. Daí, com um entorno de mentiras, é fácil manipular as pessoas, pela falta de alicerces de confiança.

O quinto elemento é a hierarquia. No Fascismo, ela vira o centro – há alguém superior, outros inferiores. Assim, constrói-se uma relação de medo da perda de hierarquia. Quando alguém é convencido que é superior, começa a ser construída uma estrutura de poder e os medos associados.

O sexto elemento é a vitimização, tendo como base uma subversão das igualdades, que não são iguais.

O sétimo elemento, é a “lei e a ordem” – onde os líderes mandam, podendo quebrar as regras e leis, mas os inferiores precisam se submeter à lei e a ordem, que fica muito distante do que seria chamado de justiça.

O oitavo elemento é que é necessário um homem forte para proteger o jeito tradicional da família, que necessita desta proteção. Já que há um risco – seria fundamental o líder forte, somente por um tempo.

O nono elemento é associado com a decadência, a criminalidade e tudo que afeta o jeito de trabalho duro que existe na comunidade tradicional.

O décimo, e último elemento, estava inscrito em Auschwitz: “o trabalho faz você livre” (“arbeit macht frei”). Os minoritários são preguiçosos por natureza – judeus, comunistas e afins. Em democracias liberais respeitam-se as pessoas e diferenças. Aqui, a questão é invertida, da pessoa para o trabalho – afinal, se você trabalha, não há o que temer. Sem “nós, você tem que temer”. Estes elementos em separado, não caracterizam Fascismo, mas, segundo o autor mencionado, em conjunto, claramente há Fascismo. Deixo a sugestão do livro “Como funciona o Fascismo”. No mínimo merece uma reflexão para o mundo de hoje, pois não podemos normalizar o anormal.

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Augusto Rocha é professor da UFAM
Augusto César
Augusto César
Augusto Cesar Barreto Rocha é professor da UFAM

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