Negativa da China de aporte a Fundo de Florestas Tropicais enfraquece plano do Brasil de captar US$ 25 bilhões para mecanismo que remunera países por conservação florestal.
A China recusou investir no Fundo de Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF), iniciativa liderada pelo Brasil que busca captar US$ 25 bilhões como base para um mecanismo financeiro de conservação. O anúncio foi feito durante a COP30, em Belém (PA), e representa um obstáculo para a concretização dos planos brasileiros.
Segundo a Bloomberg, representantes chineses alegaram que cabe às nações desenvolvidas — e não a países em desenvolvimento como China, Brasil e Indonésia — aportar recursos em fundos multilaterais. A decisão isolou os dois únicos países do Sul Global que haviam manifestado apoio oficial ao fundo, Brasil e Indonésia.
O TFFF propõe um modelo inédito de financiamento climático. O mecanismo prevê o pagamento de US$ 4 por hectare de floresta preservado, com base em dados de monitoramento via satélite. Em caso de desmatamento ou degradação por fogo, os repasses são penalizados.
Ao contrário de fundos baseados em doações pontuais, o Fundo de Florestas Tropicais investirá os recursos arrecadados em ativos de renda fixa, garantindo autossustentação com retorno anual estimado em US$ 4 bilhões. Parte dos lucros será distribuída entre mais de 70 países tropicais e ao menos 20% devem ser destinados a comunidades locais ou indígenas.
Apesar da meta brasileira, o fundo soma até agora cerca de US$ 5,5 bilhões em promessas — vindas de Noruega, França e Indonésia. A Alemanha prometeu um aporte futuro, mas o Brasil deve encerrar a conferência com menos da metade da meta intermediária de US$ 10 bilhões até 2025. Reino Unido, Japão, Índia, Holanda e Canadá demonstraram interesse, mas ainda sem compromissos oficiais.
Apesar da recusa ao Fundo de Florestas Tropicais, a China tem mostrado protagonismo em outras frentes da agenda climática. O país lidera a produção global de painéis solares, turbinas e veículos elétricos. No primeiro trimestre de 2025, as emissões chinesas caíram 1,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, ficando 1% abaixo do pico histórico. Para o Brasil, que abriga dois terços da Amazônia, o TFFF pode representar até R$ 5 bilhões anuais, três vezes o orçamento discricionário atual do Ministério do Meio Ambiente.