Austrália abate quase 700 coalas após incêndios florestais em decisão polêmica

Embora o abate aéreo seja uma prática comum no controle de espécies invasoras como veados e porcos, essa foi a primeira vez que animais selvagens, como coalas, foram abatidos por razões de bem-estar

Nas últimas semanas, o governo da Austrália tomou a decisão polêmica de autorizar o abate de centenas de coalas no Parque Nacional Budj Bim, no sudoeste do estado de Victoria. A ação foi mais um fruto das consequências de incêndios florestais que ocorreram no início de março no país, que, intensificados pelas mudanças climáticas, tem dizimado populações da espécie.

Estima-se que entre 600 e 700 animais foram mortos a tiros de helicópteros. A medida, considerada extrema, foi tomada pelas autoridades locais diante das condições críticas enfrentadas pelos animais sobreviventes, muitos dos quais estavam gravemente feridos, desidratados e famintos devido à destruição de vastas áreas de eucaliptos, seu habitat natural.

Embora o abate aéreo seja uma prática comum no controle de espécies invasoras como veados e porcos, essa foi a primeira vez que animais selvagens foram abatidos por razões de bem-estar.

Austrália abate quase 700 coalas após incêndios florestais em decisão polêmica.
Austrália abate quase 700 coalas após incêndios florestais em decisão polêmica | Foto: Pexels/Chris F

Em entrevista ao The Guardian, James Todd, diretor de biodiversidade do Departamento de Energia, Meio Ambiente e Ação Climática do estado de Victoria, explicou que a decisão pelo abate aéreo foi tomada porque outras opções se mostraram inviáveis. Ele destacou o terreno extremamente acidentado, a dificuldade de acesso seguro por terra, a localização remota dos animais no alto das copas das árvores e os riscos representados por árvores danificadas pelo fogo como fatores que inviabilizaram ações de resgate.

“As opções eram simplesmente deixá-los [os coalas] se deteriorar ou tomar medidas proativas para reduzir o sofrimento usando avaliações aéreas”, salientou Todd, acrescentando que a decisão foi tomada por um veterinário experiente e por especialistas em ética do bem-estar da vida selvagem. Além disso, todos os coalas foram avaliados individualmente e, segundo ele, os disparos aéreos foram precisos e humanitários.

Repercussão polêmica

Mesmo com a justificativa do governo australiano, a operação gerou indignação e revolta entre ambientalistas.

A Friends of the Earth Melbourne publicou uma declaração afirmando que o episódio representa uma “novidade australiana” com um “precedente ético desagradável”, classificando a ação como mais um capítulo de uma “história de terror” envolvendo coalas em uma região que já teve outros episódios de abate nas últimas décadas.

A organização também questionou a transparência e a precisão das avaliações feitas pelas autoridades, alegando que nenhum socorrista especializado foi autorizado a entrar na área afetada, o que levanta dúvidas sobre o real estado de saúde dos animais antes da decisão de abate.

pexels ifaw 5487067
| Foto: Pexels/ International Fund for Animal Welfare

Em entrevista à ABC Radio Melbourne, Jess Robertson, presidente do grupo Koala Alliance, reforçou as críticas, afirmando que, antes de qualquer decisão de eutanásia, os animais deveriam passar por exames clínicos, como coleta de sangue e pesagem. Além disso, alega que não é possível garantir, por helicóptero, que um disparo seja letal e indolor.

O governo de Victoria, no entanto, defendeu a operação. Segundo o jornal The Independent, a premiê Jacinta Allan afirmou que o Departamento de Meio Ambiente realizou avaliações da vida selvagem e agiu com base em recomendações veterinárias especializadas.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

Artigos Relacionados

Espetáculo de criaturas marinhas na Califórnia esconde possível sinal das mudanças climáticas

O aparecimento dessas colônias de criaturas marinhas em grande número podem estar ligados a desequilíbrios ecológicos amplificados pelo aquecimento global, como o aumento da temperatura superficial das águas.

Prática sustentável eleva em até 10% a produção agrícola e reduz impacto ambiental

A rotação de culturas se faz uma prática sustentável por contribuir significativamente para melhorar a qualidade do solo, pois favorece o equilíbrio nutricional, reduz o esgotamento de nutrientes específicos e aumenta a matéria orgânica

Vai faltar banana? Como o avanço da crise climática ameaça a produção da fruta mais popular do mundo

Países como Índia, Brasil, Colômbia e Costa Rica, que atualmente são importantes produtores, devem enfrentar queda significativa no cultivo de banana já até 2050 graças a crise climática