Área de garimpo ilegal já ocupa 45% mais área do que a mineração regular no país

Segundo estudo, pelo menos 77% das áreas de garimpo ilegal na Amazônia, há três anos, já mostravam sinais explícitos de ilegalidade

Embora o garimpo seja frequentemente associado a uma atividade de subsistência, ele já se transformou em um setor de grande porte. Hoje, os garimpos utilizam equipamentos modernos, como bombas, dragas, retroescavadeiras e peneiras vibratórias, exigindo altos investimentos financeiros e mão de obra numerosa. Entretanto, essa ampliação vem acompanhada de ilegalidade nas atividades do garimpo.

Segundo um estudo publicado na revista Nature (Uncontrolled Illegal Mining and Garimpo in the Brazilian Amazon), desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Pará, pelo menos 77% dos garimpos na Amazônia, há três anos, apresentavam sinais explícitos de ilegalidade.

Polícia Federal combate garimpo ilegal no Pará.
Polícia Federal combate garimpo ilegal no Pará | Foto: Polícia Federal/Divulgação

Garimpo ilegal, narcotráfico e meio ambiente

O garimpo ilegal, por exigir altos investimentos financeiros, muitas vezes está associado ao narcotráfico na região amazônica. O ouro extraído ilegalmente se torna uma fonte de financiamento para as operações do tráfico, enquanto as rotas usadas para trazer drogas ao Brasil também servem para o contrabando de ouro para outros países.

Por operar na clandestinidade, esse tipo de atividade não respeita leis ambientais nem trabalhistas. Grandes áreas são desmatadas, e os leitos dos rios são dragados sem controle, o que resulta em graves impactos ambientais e na destruição dos ecossistemas amazônicos.

Área degrada no garimpo ilegal no Uraricoera, terra Yanomami, alvo das atividades da Rainha do Garimpo
Área degrada no garimpo ilegal no Uraricoera, terra Yanomami, alvo das atividades da Rainha do Garimpo | Foto: Divulgação

O chamado desmonte hidráulico, técnica muito usada no garimpo, contribui diretamente para a devastação do meio ambiente nos locais da garimpagem. Ele consiste no uso de bombas potentes para lançar jatos d’água que dissolvem o solo ao redor e destroem margens de rios. Esse material é então processado com o uso de mercúrio ou cianeto, substâncias altamente tóxicas, que contaminam rios, peixes e populações locais.

Quando uma área se torna improdutiva, ela é abandonada pelos garimpeiros, deixando um cenário de desmatamento, erosão e contaminação. Os resíduos de mercúrio e cianeto, utilizados no processamento do ouro, permanecem no solo e na água, se espalhando pelos cursos d’água, afetando a biodiversidade e colocando em risco a saúde das populações locais.

Povo Munduruku em protesto contra o garimpo ilegal, em 2022
Povo Munduruku em protesto contra o garimpo ilegal, em 2022 | Foto: Tuane Fernandes/Greenpeace

Além do impacto ambiental, garimpos ilegais frequentemente invadem terras indígenas, subjugando comunidades e gerando conflitos pela posse da terra. Segundo a pesquisa publicada na Nature, há diversos relatos de confrontos em territórios dos Kayapós, Mundurukus e Yanomamis, evidenciando os riscos sociais e humanitários dessa atividade ilegal.

Combate ao garimpo ilegal

A responsabilização dos verdadeiros mandantes em cadeias de garimpo ilegal é complexa, já que os financiadores e proprietários dos equipamentos raramente são identificados. Assim, os trabalhadores da extração são quem recebem as autuações, na maior parte dos casos.

Nesse cenário, medidas como o fortalecimento da fiscalização e o combate à comercialização do ouro ilegal são essenciais para enfrentar o problema.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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