Estudo mostra que a Amazônia recicla água da seca via evapotranspiração, sustentando o ciclo da água e os rios voadores no Brasil.
Um estudo publicado na PNAS mostrou que a Floresta Amazônica recicla rapidamente a água da própria estação seca para gerar chuvas na Amazônia. A pesquisa, realizada na Floresta Nacional do Tapajós (PA), analisou duas áreas contrastantes — um platô com lençol freático profundo e um baixio próximo a um igarapé. O resultado surpreendeu: em média, 69% da transpiração no platô e 46% no baixio vieram da água armazenada nos primeiros 50 centímetros do solo.
Essa água é proveniente das chuvas recentes, que infiltram no solo raso, são absorvidas pelas raízes e retornam quase imediatamente à atmosfera em forma de vapor, em um processo de evapotranspiração. Esse mecanismo garante a continuidade das chuvas mesmo no período seco, quando a floresta mais precisa de umidade e, ao mesmo tempo, mais contribui para produzi-la.
A diversidade de espécies desempenha papel crucial nesse ciclo da água. Árvores com maior capacidade de extrair água de solos secos, função chamada de embolismo, conseguem devolver grandes volumes de vapor à atmosfera, reforçando a reciclagem das chuvas. Espécies mais vulneráveis dependem de raízes profundas, acessando reservas mais estáveis.

Os pesquisadores destacam que, sem floresta, não há chuva. A evapotranspiração na Amazônia é vital não apenas para manter o bioma, mas também para sustentar os chamados rios voadores, que transportam umidade para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, garantindo a agricultura e o abastecimento hídrico.
O alerta ganha força diante da aprovação do chamado “PL da Devastação”, que pode acelerar o desmatamento. A equação é direta: menos árvores significam menos chuva, mais risco climático e ameaça à segurança alimentar e econômica do país.
O estudo confirma que o ciclo da água na Amazônia é rápido mesmo na seca: a chuva cai, infiltra, é reciclada e volta à atmosfera. A floresta é, de fato, uma verdadeira fábrica de chuvas.