Alguém explica a estupidez humana…

O humorista Marcius Melhem, provavelmente desfalcado de temas inovadores na mesmice da pilantragem onde atua, palco em que inventaram a corrupção do combate à corrupção, saiu-se com uma provocação desprovida de qualquer sentido para quem se diz jornalista e atuou no mercado financeiro antes de fazer piada barata na TV. “Alguém me explica a Zona Franca”,  num artigo dominical da Folha de São Paulo. Seu padrão de humor resvalou na incapacidade de diferenciar patifaria de seriedade no cotidiano.
Nada contra o humor, posto que ele é uma das saídas da diáspora grega, há 5 milênios, para buscar o sentido da existência, ao lado do ceticismo e do estoicismo dogmático. Supõe-se, entretanto, que a postura irônica tem por mérito desconstruir uma estrutura social, econômica, ambiental e moral injusta ou anômala como as manchetes diárias da mídia descrevem o País. Este humor mal intencionado, porém, vive de brecar chances de promover visibilidade das ações acertadas que brotam e florescem na rotina de milhões de pessoas que aqui vivem.
Esse cidadão não merece resposta, nem respeito, e certamente não está interessado em qualquer coisa que venha explicitar sua estupidez. Certamente não lhe comove a calamidade humana, ética, financeira em que foi transformado o Rio de Janeiro, onde nasceu, cujos governantes responsáveis pela tragédia sem precedentes, foram saudados pelo repertório oportunista de suas comédias de mau gosto. Sem querer, porém, ele abriu   um espaço de esclarecimento neste cataclismo de (des) informação que vivemos, onde a comunicação fragmenta a consciência, aparta as pessoas, mascara certezas e impõe a  uma disputa entre aqueles que poderiam lutar contra a manipulação hipócrita de espertalhões amorais.
A ZFM não conseguiu imunizar-se dos arautos da enganação, e assim como no resto do Brasil, tem sido alvo do paradigma filosófico de muitos  humoristas e vigaristas só focados em se dar bem a qualquer custo. Entretanto, este acerto fiscal tem reconhecimento socioambiental da União Europeia, da OMC, e da própria ONU,  e seus  incentivos foram reconhecidos e prorrogados pela absoluta maioria do Congresso Nacional. Com todos os delitos constitucionais, é o melhor acerto fiscal da história da República para reduzir as desigualdades regionais do país. Estudos do TCU  confirmam que só  esta modelagem fiscal apresenta rigorosa prestação de contas, feitas pela Suframa. E os acertos vão além da geração de emprego. A ZFM  guarda a floresta, conservando mais de 95% da cobertura vegetal e uma riqueza biológica incalculável.
Não se trata de nenhuma blague ecológica, a floresta transpira, irriga os reservatórios do Sudeste, com suas nuvens transformadas em “rios voadores” equacionando  a escassez de água, produzindo energia, empregos e alimentos da agricultura. E mais: 59% da energia do Sudeste  vem das águas que a floresta estoca e distribui.
Todo o Norte  do país – 2/3 do território nacional –  utiliza pouco mais de 12% da renúncia fiscal, enquanto o Sudeste maravilha – a região mais rica do país – abocanha mais de 53%, desde 1955, com a indústria automobilística e outras sinecuras fluminenses. Não somos o problema fiscal do Brasil, a não ser para os mal intencionados, mas temos solução de economia de baixo carbono, na Zona Franca do Brasil, onde pululam as oportunidades de geração de riquezas sem agressão ao meio ambiente, onde também se abomina o deboche e a desinformação marota contra quem constrói a prosperidade com dignidade, trabalho e obstinação.
Alfredo Lopes
Alfredo Lopes
Alfredo é consultor ambiental, filósofo, escritor e editor-geral do portal BrasilAmazôniaAgora

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