O título da nota não veio de um ambientalista ou ativista. Veio de Cristina Brooks, uma jornalista-sênior de uma das maiores provedoras de inteligência de mercado para as grandes corporações, a IHS Markit.
Sabe-se que mercados de carbono são um jogo de soma zero – o que um emite, outro deixa de emitir. Mas Alex Hanafi, do Environmental Defense Fund dos EUA, explica que se um país usar as receitas e reinvestir na transição energética, a soma passa a ser uma redução real de emissão. A menos, claro, que ele venda a nova redução outra vez.
Brooks ecoa a preocupação com a dupla contagem, dizendo que o texto final deixou passar créditos de carbono do tempo de Quioto que constarão da contabilização de emissões do país comprador e do inventário de emissões do país vendedor.
E Nathaniel Keohane, da CCES americana, resume dizendo que o Artigo 6 “é um motor de cooperação internacional. Mas os mercados são apenas uma força para o bem quando existem guardrails para garantir a integridade ambiental e social”, o que parece não ter sido blindado em Glasgow.
Mesmo falho, o que saiu de Glasgow parece ser mais virtuoso do que alguns dos esquemas pouco transparentes que atuam nos mercados voluntários. A tendência, segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, é a precificação diferenciada pelo mercado dos créditos de carbono mais íntegros daqueles saídos de um salão do faroeste de Hollywood.
Ontem saiu uma notícia para confirmar as mais tenebrosas preocupações com o mau uso dos créditos de carbono para prorrogar a vida dos combustíveis fósseis. O GIIGNL (sigla em inglês do Grupo Internacional de Importadores de Gás Natural Liquefeito) lançou o arcabouço de um sistema de reporte para as petroleiras declararem o uso de créditos de carbono para compensar as emissões da queima de gás. Isso já vem acontecendo aos poucos e o Grupo decidiu oficializar o negócio. A questão-raiz é que o mundo não conterá o aquecimento global se não abandonar os combustíveis fósseis e não simplesmente compensá-los com projetos outros. A Reuters comentou o arcabouço.
Fonte: ClimaInfo
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