Por Augusto César
Sorte. Estamos hoje vivendo com dependência da sorte. Não há qualquer clareza sobre o que se pretende fazer no curto, médio ou longo prazo em nossa região. Vez por outra aparece alguma métrica sobre o passado, apontando melhorias falsas ou assustando por resultados negativos dos mesmos indicadores de sempre, mas sem nenhuma comparação com metas estabelecidas.
A questão é: qual o alvo? O que se pretende para o futuro? O que será feito para o futuro? Como se medirão os avanços em relação aos objetivos traçados? Todos conhecemos os objetivos? Quais são eles? Falta clareza nos objetivos. Gestores sem objetivos não podem ser avaliados. O que se buscam são boas notícias desconectadas de estratégias, é como se estivéssemos de incêndio em incêndio (literalmente), combatendo as labaredas da inação do presente e do passado. Administrar apagando incêndios não é a melhor prática.
A novidade (que volta ao cotidiano) é a Suframa ocultando novamente os indicadores em US$ do faturamento do Polo Industrial de Manaus. Quase certamente eles não apareceram nos press-releases porque o resultado foi negativo. Tradicionalmente os indicadores da Zona Franca de Manaus são apresentados em dólares. Já há uma tradição, desde o Governo Dilma, que agora se repete, de apresentar dados em R$ para ocultar um desempenho pífio. Temos dificuldade de encarar crises e resultados negativos e por isso temos dificuldade para gerar resultados positivos. Esta é uma das diferenças fundamentais de países desenvolvidos em relação aos menos desenvolvidos: nos desenvolvidos eles sempre estão em crise, mesmo em meio à bonança. Basta ler o Wall Street Journal ou o Financial Times. Por aqui é exatamente ao contrário: sempre estamos bem, mesmo em meio às crises.
A falta de capacidade de aceitar que estamos em crise leva a uma acomodação para a gestão pública. Na iniciativa privada não há esta alternativa. Por que este medo de enfrentar a realidade? Provavelmente porque não se sabe o que fazer. Se não enfrentarmos a crise atual com novas modalidades de solução, seguiremos a afirmar que é normal tocar fogo na floresta. Não consigo achar normal queimarmos todos os anos as nossas riquezas naturais. Não podemos aceitar isso como normal. Não é normal não investir. Quais os investimentos expressivos em nossa região? Não existem.
A transformação da realidade somente acontece quando as pessoas se convencem que a situação atual não é boa. Se seguirmos no engano, assumindo que é normal esperar um tempo sem fim para obter licenças para a produção, que é mesmo necessário o estabelecimento de um processo produtivo básico para ter incentivos fiscais, que não há métodos aceitos para a produção, nem um passo a passo claro (com prazos, inclusive), com transparência, para todas as atividades econômicas, seguiremos a conviver com um desemprego expressivo.
O que é necessário fazer efetivamente para cada atividade produtiva incentivada na ZFM? Não há esta clareza na Internet. Já era tempo de ter. O que foi o resultado de cada setor da economia do Polo Industrial de Manaus no mês passado? Por que esta informação não está pública e facilmente acessível na Internet? Por que não temos grandes big data públicos, sobre o desempenho de nossa economia? Por que não há metas estabelecidas? Os controles atuais das notas fiscais eletrônicas servem apenas para monitorar as empresas, mas não servem para definir estratégias ou retroalimentar a sociedade. Há um foco no fisco e não há foco no desenvolvimento. Foco na opressão e não na geração de riqueza.
Quais as estratégias para desenvolvimento do interior do Amazonas? Quais as medidas que serão feitas para verificar se as ações planejadas estão gerando resultados? Estamos longe de ter uma mínima transparência na gestão de país e na gestão da Amazônia. Há formas diversas de perceber como vai a economia e todos sabemos que ela vai mal, mas quando as lideranças escondem dados e informações sobre a situação real, fica mais difícil de encontrar saídas. Precisamos ter de volta as medidas em dólares do faturamento do Polo Industrial de Manaus. Como comparar com o passado? Precisamos lembrar que já foi possível faturar aqui US$ 41 bilhões. Será que teremos o ânimo para voltar para este patamar e corrigir o rumo do que está errado?
Enfrentar a realidade é o primeiro passo para sair de qualquer crise. Já chegou a hora. Precisamos de um tradingeconomics.com sobre a nossa região e a coragem de fazer planos de ações. Precisamos parar de tocar fogo na riqueza e começarmos a ter chance de produzir mais. Sem destino certo, qualquer caminho serve e como são muitas as oportunidades, o mais provável é que se faça mais do mesmo: ou seja, nada e vamos esperar a sorte. Não gosto desta alternativa, mas é ela que foi adotada.
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