“Turismo entra na lista dos grandes emissores de carbono, reforçando a necessidade de ações alinhadas à sustentabilidade ambiental discutidas na COP29.”
A crescente preocupação com as mudanças climáticas colocou o turismo no centro das discussões durante a COP29. Pela primeira vez, o setor, que representa 3% do PIB global e é responsável por cerca de 9% das emissões de gases de efeito estufa, foi tema de um dia inteiro de debates. Essa atenção reflete a necessidade de alinhar o desenvolvimento do turismo com metas de sustentabilidade ambiental.
O destaque ao setor não ocorre por acaso. Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature Communications revelou que o turismo é um dos principais responsáveis pelo aumento das emissões globais de carbono na última década. Entre 2009 e 2020, enquanto a pegada de carbono da economia global crescia em média 1,5% ao ano, as emissões relacionadas ao turismo subiram 3,5% anualmente. Essa diferença reflete uma expansão significativa das viagens turísticas, especialmente de longa distância, sem avanços proporcionais em eficiência energética.
A expansão do turismo e os obstáculos à sustentabilidade
O setor turístico registrou um crescimento anual de 3,8% no período analisado, impulsionado por uma demanda cada vez maior por viagens internacionais. No entanto, essa expansão ocorreu sem inovações substanciais para reduzir emissões. De acordo com Ya-Yen Sun, professora associada da Universidade de Queensland e coautora do estudo, viagens aéreas, carros movidos a gasolina e utilitários foram os maiores responsáveis pelo aumento da pegada de carbono no turismo, representando juntos metade das emissões totais do setor.
Sun destacou que esses fatores têm apresentado crescimento significativo nos últimos dez anos, tornando-se pontos críticos para o debate sobre a sustentabilidade do turismo. A falta de ações efetivas para mitigar as emissões provenientes do setor contribuiu para consolidá-lo como um dos maiores desafios ambientais globais.
Concentração das emissões e desigualdades regionais
Outro aspecto abordado pela pesquisa é a concentração das emissões em poucos países. Apenas 20 nações são responsáveis por 75% dos gases de efeito estufa do turismo, sendo Estados Unidos, China e Índia os maiores contribuidores. Juntos, esses países foram responsáveis por 60% do aumento das emissões do setor entre 2009 e 2019 e, no último ano do período analisado, somaram 39% das emissões globais do turismo.
O Brasil também ocupa posição relevante no ranking global. O país aparece em 13º lugar em emissões relacionadas às viagens realizadas por brasileiros e em 12º no turismo receptivo, que contabiliza turistas estrangeiros. Esses dados reforçam a importância de políticas públicas específicas para promover um turismo mais sustentável e alinhado com os compromissos climáticos.
As disparidades nas emissões per capita também chamam a atenção. Segundo o estudo, há uma diferença de até 100 vezes entre as pegadas de carbono dos países que mais viajam e aqueles com menor volume de deslocamentos turísticos. Esse abismo reflete não apenas desigualdades econômicas, mas também a necessidade de repensar o turismo como um setor mais equitativo e sustentável.
Propostas para reduzir o impacto do turismo
Diante dos dados alarmantes, os pesquisadores sugerem que os países líderes em emissões reavaliem suas políticas de turismo. Uma das ações propostas é reduzir o foco em atrair grandes volumes de turistas e priorizar o desenvolvimento de destinos de curta distância. Essa medida pode diminuir significativamente as emissões relacionadas a viagens aéreas de longa duração, um dos maiores contribuintes para a pegada de carbono do setor.
Outra recomendação é equilibrar os objetivos econômicos com metas ambientais, buscando formas de incentivar práticas turísticas mais sustentáveis. Além disso, os cientistas destacam a importância de contabilizar os custos sociais das emissões. Países que atualmente têm baixa pegada de carbono, mas são altamente vulneráveis a eventos climáticos extremos, podem sofrer impactos significativos com a redução do turismo em decorrência do agravamento das condições climáticas.
“Esses países precisam de apoio para se adaptarem a um cenário de mudanças climáticas, que inclui aumento de temperatura, chuvas intensas, secas e outros eventos extremos”, afirmou Sun. As ações de adaptação incluem não apenas a diversificação de suas economias, mas também investimentos em infraestrutura resiliente e iniciativas que promovam o turismo sustentável.
A inclusão do turismo nas discussões da COP29 marca um avanço importante, mas também ressalta os desafios que o setor enfrenta. Embora o turismo desempenhe um papel essencial na economia global, ele não pode continuar crescendo à custa do meio ambiente. Repensar as práticas turísticas, promover inovação tecnológica e adotar políticas públicas que priorizem a sustentabilidade são passos fundamentais para garantir um futuro onde o turismo seja um aliado, e não um obstáculo, na luta contra as mudanças climáticas.
As decisões tomadas agora terão impacto significativo não apenas nas emissões de carbono, mas também no bem-estar de milhões de pessoas que dependem do turismo para sua subsistência. O setor precisa encontrar formas de equilibrar crescimento econômico, preservação ambiental e justiça social, promovendo um modelo de turismo que beneficie todos os envolvidos – desde os países emissores até os mais vulneráveis às mudanças do clima.
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