“O estímulo ao ganho imediato e as facilidades de acesso tornam esses jogos uma ameaça real para o desenvolvimento saudável da juventude e para a produtividade dos profissionais. Combater essa prática exige um esforço conjunto de educadores e gestores, buscando conscientizar, prevenir e apoiar aqueles que se encontram vulneráveis.”
Por Nelson Azevedo
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Já estão sendo distribuídas as peças educativas e de esclarecimentos produzidas pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) sobre os jogos de azar na internet estimulados por uma enxurrada publicitária jamais vista na mídia tradicional e digital. O objetivo é alertar para os riscos da compulsão, um problema de saúde mental que tomou proporções alarmantes entre jovens estudantes e trabalhadores. A sugestão é apostar na saúde mental.
Tecnologia e legislação
O avanço da tecnologia e as brechas da legislação tem promovido a expansão de plataformas de jogos de azar on-line, onde apostas esportivas e cassinos virtuais atraem um público cada vez mais diversificado. As facilidades do acesso remoto e a presença de anúncios que prometem lucros rápidos são elementos que contribuem para a popularização desses jogos, especialmente entre jovens e adolescentes, incluindo trabalhadores no setor produtivo. São episódios que vem levantando uma série de preocupações, principalmente sobre seus impactos na educação e no desempenho no ambiente de trabalho. Nos casos extremos, endividamento extremo com implicações de toda ordem no seio da família.
Armadilhas do Jogo
Embora plataformas de jogos e apostas exijam teoricamente uma idade mínima, a realidade é que jovens têm fácil acesso a esses espaços virtuais, onde a verificação de idade muitas vezes é superficial. Esse cenário coloca crianças e adolescentes em contato precoce com uma prática potencialmente viciante, afetando diretamente seu desempenho escolar. A atração por recompensas imediatas cria um ciclo de gratificação que concorre com a disciplina exigida para o aprendizado, comprometendo a concentração e a dedicação aos estudos e a concentração no trabalho no ambiente fabril.
Efeitos psicológicos
Estudos apontam que o contato precoce com jogos de azar pode levar ao desenvolvimento de problemas psicológicos, como ansiedade e impulsividade. Em um ambiente educacional, esses fatores se traduzem em comportamentos desatentos e em dificuldades de aprendizado. No caso dos adolescentes, os efeitos se ampliam, promovendo a crença de que os ganhos rápidos do jogo são uma alternativa viável ao esforço contínuo exigido pela educação formal. Tal mentalidade impacta o desenvolvimento pessoal e limita a capacidade de planejamento, fundamental para a vida adulta e o ingresso no mercado de trabalho. E no ambiente de trabalho, o que se observa é uma onda de danos psicológicos e comportamentais.
Ilusão do ganho fácil
O vício em jogos de azar não afeta apenas jovens em idade escolar, mas se estende também aos trabalhadores. A tentação constante de apostar pode comprometer a produtividade e afetar a saúde mental, com impactos negativos sobre a carreira. No Brasil, onde a legislação sobre jogos de azar on-line ainda está em discussão, o impacto potencial sobre o desempenho profissional é preocupante. A ilusão do ganho fácil pode levar à compulsão por apostas. Isso reduz a capacidade de concentração, desvia o foco das responsabilidades e promove comportamentos financeiros arriscados, que se refletem em maior rotatividade de emprego e menor desempenho.
Sugestões para educadores e gestores
Dicas que podem ajudar a integrar e compartilhar soluções. A campanha da CNI foi executada por profissionais em comunicação e o público alvo foi definido tanto nas escolas de SESI e SENAI como nos ambientes de trabalho das empresas. Uma sugestão é ensinar desde cedo sobre gestão financeira, riscos de investimentos e as armadilhas dos jogos de azar. Isso pode ajudar os jovens a entenderem as consequências dessas práticas e a desenvolverem um pensamento crítico sobre ganhos e perdas.
Dispersão e ansiedade
Capacitar professores e lideranças para identificação de sinais de envolvimento com jogos de azar, como a falta de concentração, ansiedade ou relatos frequentes sobre apostas. Essas observações podem levar a intervenções preventivas e a diálogos com a família ou com as entidades. Como se trata de um assunto que tem atingido um contingente significativo de pessoas, mais facilmente educadores e gestores terão facilidade de orientar os casos para os grupos e programas de ajuda.
Saúde mental
A campanha CNI propõe estabelecer campanhas educativas no ambiente de trabalho, abordando os riscos do vício em jogos de azar e como ele pode impactar a produtividade e a vida pessoal dos empregados. Além disso, em casos específicos, oferecer suporte psicológico em Programas de Bem-Estar. São programas de saúde mental que ofereçam apoio psicológico a empregados que enfrentam problemas com jogos de azar. Esses programas podem incluir orientação financeira e acesso a serviços de recuperação e tratamento.
Habilidades e orientação financeira
Políticas claras sobre o uso de dispositivos pessoais durante o trabalho e sobre o acesso a sites de apostas nas redes corporativas podem reduzir o tempo gasto em atividades não relacionadas ao trabalho. Através de workshops e treinamentos, os gestores podem ajudar seus empregados a desenvolverem habilidades de planejamento financeiro e a buscarem crescimento pessoal e profissional como alternativas para o ganho imediato.
Ameaças contornáveis
Os jogos de azar on-line representam um fenômeno moderno com consequências que transcendem o entretenimento, afetando a educação e o mercado de trabalho de maneira preocupante. O estímulo ao ganho imediato e as facilidades de acesso tornam esses jogos uma ameaça real para o desenvolvimento saudável da juventude e para a produtividade dos profissionais. Combater essa prática exige um esforço conjunto de educadores e gestores, buscando conscientizar, prevenir e apoiar aqueles que se encontram vulneráveis.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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