“A insanidade das queimadas, entre tantos malefícios socioambientais, econômicos e climáticos, comprometem diretamente a demonstração científica da neutralidade nas emissões de carbono das indústrias instaladas em Manaus. Ou seja, a responsabilidade pela insensatez é coletiva pois a insanidade do crime atinge a todos, muito mais do que poderíamos supor.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Coberta por uma fumaça com poder de letalidade no caso de crianças e idosos, a capital do Amazonas experimenta a pior série de queimadas dos últimos 25 anos, segundo o INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, com 9 mil focos em 2023. As pesquisas sobre as queimadas em todo o território nacional estão a cargo de apenas cinco funcionários para monitorar os eventos. É evidente a necessidade de uma resposta urgente para lidar eficazmente com a situação. Mas aos funcionários cabe apontar os fatos. O problema é saber qual sua origem, quem a patrocina e como fiscalizar, punir e remover essa prática tão danosa.
A Polícia Federal e o ICMBio também se empenharam no desafio de conter a insensatez das queimadas, com poucos agentes também, e sem os instrumentos adequados para fiscalizar e impedir a amplitude da prática incendiária. Conseguiram deter alguns sujeitos em flagrante e, em seus respectivos relatórios, reportam que os episódios se expandiram intensamente após os primeiros sinais de aprovação do Marco Temporal. Seria a indicação de revolta de alguns empresários do campo com a resolução de assegurar aos indígenas a posse da terra por eles ocupada? Dura lex sed lex.
Não se trata aqui de apontar este ou aquele ator pela tragédia atmosférica das queimadas. Isso nos escapa. Importa, sim, assinalar seus efeitos em toda a sociedade, incluindo o setor produtivo. A insensatez das queimadas na Amazônia se revela não apenas no impacto direto sobre o meio ambiente, mas também em suas consequências para a saúde humana, o clima global e a biodiversidade. E o cotidiano de uma cidade industrial que sequer permite chaminés.
Recente estudo conduzido por cientistas brasileiros e britânicos, publicados nesta semana pelo portal BrasilAmazôniaAgora, ilustra com clareza as sequelas drástico aumento de temperaturas em áreas desmatadas/queimadas, reforçando a ideia de que o desmatamento é uma das principais causas do aquecimento na região. O calor em Manaus está, simplesmente, insuportável.
Nesta semana, a FAPEAM, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado, publicou editais para pesquisa sobre efeitos climáticos extremos no valor de R$ 3 milhões. Quando se trata de pesquisa científica com a gravidade resultante do aquecimento extremo de Manaus, o investimento é obviamente pífio. Precisamos investir em tecnologias avançadas de monitoramento como o acesso a satélites de alta resolução, drones e sistemas de inteligência artificial. Só assim podemos ajudar a identificar e responder rapidamente a focos de incêndio, e seus mandantes, mesmo com uma equipe pequena. Importante é ter estrada e fiscalização em estado de alerta.
E as medidas para enfrentar a gravidade dos fenômenos deveriam estar infladas de vontade política, pois não se trata de patrocinar soluções para problemas que estavam previstos desde 2022 e, o que é pior, são sazonais. A vazante de 2005, 2010, a propósito, foram criticamente bem semelhantes a de 2023. E a vontade política, por sua vez, deveria estar em linha com os atores federais, com a mobilização da academia local e regional.
Para quem não está acompanhando, é importante investigar os avanços assegurados pela Comissão de Logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas –CIEAM no trato deste fenômeno sob o ponto de vista de seus impactos logísticos. Um deles é a decisão compartilhada entre os afores federais com presença regional de formatar um Plano de Logística Amazonense de Transportes. Aliás, é importante priorizar a existência do segmento industrial da Zona Franca de Manaus de onde emana 85% da economia que dá suporte material e financeiro ao Estado.
Finalmente, é extremamente relevante ponderar que essa entidade que representa as empresas da indústria estão empenhadas em demonstrar, através de sua Comissão de ESG (Meio ambiente, Social e Governança, na sigla em inglês), na dinâmica do carbono relacionada às emissões do Polo Industrial de Manaus, baseado na estimativa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, de que há uma neutralização efetiva das emissões pelo desmatamento evitado pelas empresas. Isso ocorre porque ajudam, ao fornecerem emprego, renda e oportunidades, a manter mais de 90% da cobertura vegetal do Amazonas.
A insanidade das queimadas, entre tantos malefícios socioambientais, econômicos e climáticos, pois, comprometem diretamente a demonstração científica da neutralidade nas emissões de carbono das indústrias instaladas em Manaus. Ou seja, a responsabilidade pela insensatez é coletiva pois a insanidade do crime atinge a todos, muito mais do que poderíamos supor.
Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras pelo Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor geral do portal BrasilAmazoniaAgora.
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