“O objetivo é ter a representação parlamentar trabalhando em prol dos interesses da região, garantindo que os recursos gerados pela atividade industrial sejam adequadamente destinados para reduzir as desigualdades inaceitáveis da Amazônia.”
Entrevista com Luiz Augusto Barreto Rocha, presidente do Conselho Superior do CIEAM
Coluna Follow-Up
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up – “O Brasil não conhece o Brasil”. Por que razões o CIEAM, como representação do setor produtivo da ZFM, resolveu comprar este desafio?
Luiz Augusto Barreto Rocha – O CIEAM, como entidade associativa e representativa do setor produtivo da Zona Franca de Manaus, e atenta ao fato de que a Amazônia é um Brasil – com realidades e contradições específicas – que o Brasil desconhece, entende que é imperativo estar presente no centro do poder. Brasília é onde as decisões acontecem. E essas decisões sempre padecem de informações. Iniciativas sobre a economia regional representada pela ZFM, por exemplo, não levam em conta Manaus é um dos principais contribuintes da Receita Federal. Entretanto, o Amazonas enfrenta deploráveis indicadores de desenvolvimento humano. Há uma ironia inaceitável no fato de um estado com uma população empobrecida ser um dos maiores contribuintes da receita federal.
Nossa presença em Brasília é formada por conselheiros do CIEAM, investidores que ajudam a movimentar 85% da economia da região. Por isso, é crucial esclarecer ao Brasil sobre esse modelo de desenvolvimento e explicar seus paradoxos e equívocos sobre sua dinâmica. Se uma empresa deixar o Amazonas – como pretendem alguns agentes públicos – ela não se deslocará para outros estados brasileiros, mas sim para outros países. Muitos gestores no Brasil não compreendem as particularidades e importância da região. Considerando que estão em jogo investimentos, empregos e oportunidades, o CIEAM quer enfrentar esse desafio, buscar reconhecimento e mais equidade no trato da região.
FUp – Que resultados já podem ser anotados como conquistas dessa maior presença em Brasília?
LABR – O grande desafio já com alguns avanços é o envolvimento da representação parlamentar. Além disso, a tarefa é identificar quem transforma as grandes orientações do Congresso em ações do Executivo. Nem sempre os atores públicos conhecem a realidade amazônica, seus percalços e demandas. Do volume de recursos gerados na ZFM, o que fica na região não possibilita uma redução mais efetiva das desigualdades regionais.
Estar em Brasília significa que não queremos ser apenas espectadores na gestão das demandas emergenciais da região. Esses dilemas interferem no cotidiano do setor privado na medida em que os recursos poderiam mudar a paisagem socioeconômica e melhorar os indicadores de desenvolvimento humano. Não fazemos parte destes problemas mas podemos e queremos fazer parte das soluções.
FUp – Alguns ministérios estão interessados em bons resultados na questão ambiental enquanto outros não escondem interesses no setor mineral. Como a entidade pretende atuar em áreas tão distintas e estratégicas para atender seus objetivos?
LABR – É importante sublinhar que somos uma entidade dirigida por seus conselheiros que, por suas vezes, representam seus respectivos pares por setor. Ou seja, as empresas são o locus decisório. Antes da agenda ESG, a referência produtiva na ZFM é a sustentabilidade, temos leis próprias que orientam a conduta fabril do Polo Industrial de Manaus, e neste momento estamos envolvidos em demonstrar a contribuição da indústria para a transição rumo a uma economia de baixo carbono. A atividade industrial na Amazônia reduz o ímpeto pelo desmatamento e queimadas, possibilitando, historicamente, que os 500 mil empregos gerados a partir de Manaus impeçam que a floresta seja usada para atividade econômica.
A entidade defende industrialização em harmonia com a proteção florestal, uma alternativa sustentável que sugere equilibrar os interesses entre conservação ambiental e desenvolvimento econômico. Esse posicionamento nos autoriza a defender a exploração sustentável de recursos minerais estratégicos que podem atuar, fortemente, na interiorização sustentável do desenvolvimento. Desde que, é importante sublinhar, sejam resguardados os parâmetros da legalidade e da sustentabilidade.
FUp – Ao levar para Brasília seus conselheiros, a entidade acredita na importância de mobilização da bancada parlamentar da Amazônia. Quais os resultados esperados deste movimento?
LABR – Entendemos que a entidade só será forte se ela der voz aos associados. Temos várias lideranças jovens e entusiasmadas, experientes e entusiasmados. O que precisamos é do entusiasmo da juventude e da experiência, com suas competências técnicas apresentando o que é importante para o chão de fábrica. Como dizem as empresas japonesas “é preciso ver o gemba” (o lugar real, o chão de fábrica).
Estas pessoas sabem o que se passa no solo amazônico – vivem a nossa realidade que possui tantas restrições. Assim, elas possuem a legitimidade para conversar com o meio político, porque fazem a realidade e entendem os problemas e necessidades. Precisamos dar voz para estas pessoas. CIEAM trabalha por uma união mais forte entre os estados da Amazônia, com uma conduta parlamentar, empresarial e de entidades de classe alinhada.
Enquanto o setor produtivo busca transformar as potencialidades naturais da região em prosperidade compartilhada e ambientalmente equilibrada, a entidade acredita também na importância da consolidação da bancada parlamentar da Amazônia. Uma bancada que mais unida em seus propósitos será reconhecida nacionalmente por sua atuação e competência. O objetivo é ter a representação parlamentar trabalhando em prol dos interesses da região, garantindo que os recursos gerados pela atividade industrial sejam adequadamente destinados para reduzir as desigualdades inaceitáveis da Amazônia.
Luiz Augusto Barreto Rocha é advogado, CEO das empresas BDS Confecções e Fio de Água, Lavanderias, é presidente do Conselho Superior do CIEAM, conselheiro da Abit e da UEA.
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