A presença ostensiva da fiscalização ambiental na Terra Indígena Yanomami vem diminuindo a atividade de garimpo no território. Dados apresentados pela Agência Pública indicam que os alertas de garimpo na região do rio Uraricoera, uma das mais visadas pelos garimpeiros, desabaram 88% desde que o IBAMA instalou uma base de fiscalização e bloqueou a passagem de embarcações ilegais.
Os números animam, mas não contam a situação completa. Em todo o território Yanomami, a queda do garimpo foi menor, de 60% e, mesmo assim, foram identificados 94 pontos de garimpo novo ou ampliações de áreas de extração já existentes desde o dia 20 de fevereiro.
E a despeito das restrições definidas pela Aeronáutica, o garimpo segue intenso em áreas mais afastadas, beneficiado pelo transporte aéreo irregular. Além disso, como destacamos aqui, os fiscais do IBAMA continuam sendo alvo dos criminosos, com pelo menos dois episódios de ataque armado contra os servidores pelos garimpeiros.
O g1 informou que a Polícia Federal deteve três homens na região de Palimiú, dentro da Terra Yanomami, no último domingo (2/4). Os suspeitos portavam arma de fogo, munição, balança de precisão e um mineral semelhante ao ouro.
Além do garimpo, outras atividades criminosas continuam acontecendo na Terra Yanomami. Em entrevista ao UOL, a ministra Sônia Guajajara (Povos Indígenas) relatou que casos de abuso sexual de jovens e mulheres indígenas por garimpeiros seguem sendo reportados. “Isso está acontecendo porque a prostituição ali dentro acontece e segue acontecendo, uma vez que não se conseguiu tirar todos os garimpeiros ainda”, disse.
Para os Yanomami, mesmo com a saída da maior parte dos garimpeiros e o apoio do governo federal nos últimos meses, a situação continua crítica. “O cenário é mais grave do que se imaginava.
A fome é um problema sério, e a malária se alastrou muito. Houve também um surto recente de COVID-19”, disse o médico Ricardo Affonso Ferreira, da organização Expedicionários da Saúde, à Deutsche Welle.
Já o Brasil de Fato destacou um novo estudo feito pela Transparência Brasil que expôs as conexões entre o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, e a crise humanitária na Terra Yanomami.
Integrante da comissão temporária do Senado que acompanha a crise, ele é acusado de ter indicado o ex-coordenador do Distrito de Saúde Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), Rômulo Pinheiro de Freitas, investigado pelo Ministério Público Federal por suspeitas de corrupção na gestão do atendimento médico aos indígenas do território.
Uma das suspeitas é de que Freitas e outros servidores do Ministério da Saúde na gestão passada tenham desviado verba da compra de remédio para os indígenas, deixando-os sem medicamentos importantes, inclusive vermífugos para crianças.
Em tempo: O presidente Lula editou nesta 2a feira (3/4) uma Medida Provisória (MP) que abre um crédito extraordinário de R$ 640 milhões, sendo quase 500 milhões de reais para o atendimento e proteção dos Povos Indígenas.
De acordo com a Folha, o Ministério dos Povos Indígenas e a FUNAI devem receber cerca de R$ 146,7 milhões, voltados para a regularização, demarcação e fiscalização de Terras Indígenas. A MP também abre R$ 63,8 milhões para o IBAMA, com foco na fiscalização ambiental relacionada à proteção da vida, da saúde e da segurança nos Territórios Indígenas.
Texto publicado em CLIMA INFO
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