Integrante destacado do setor varejista e industrial, Azevedo vai ser encontrado sempre e com singular dedicação nas reuniões do que era chamado de Santa Aliança, a gestão articulada do setor privado do Amazonas através de suas lideranças nas entidades de classe. Era neste contexto que José e também Antônio Azevedo passaram a atuar em sintonia pela integração no setor privado, insistindo sempre na necessidade de interiorizar o desenvolvimento como o melhor modelo e estratégia de preservação/conservação da Amazônia.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up
Há 59 anos, Brasil passava por fortes transformações e o Amazonas seguia isolado e dependente da boa vontade federal. A base econômica era o extrativismo e algumas indústrias de beneficiamento de produtos da floresta, As casas de aviamento, ou os grandes armazéns dos J, todos de origem portuguesa, J.A. Leite, J. G de Araújo, J. Amorim, que abasteciam o beiradão amazônico, eram vestígios melancólicos do fausto da Borracha.
De suntuoso, apenas o conjunto arquitetônico da Belle Époque puxado pelo Teatro Amazonas e demais arroios do governador Eduardo Ribeiro e sua visão cosmopolita. Foi neste cenário que começa a se ensaiar o Sonho José dos Santos Azevedo, o embrião de um programa empreendedor empurrado pelo ousadia impregnada de humildade e determinação de construir a saga Azevedo. O patriarca e seu sonho – uma unidade transformada em ícone – iniciavam trajetória vitoriosa de mudar para melhor a vida das pessoas e expandir o progresso na paisagem paradisíaca da Amazônia, o universo que ele adotou.
Omnia Vincit Labor
Extraída do fronstipício da antiga escadaria central do Colégio Dom Bosco, em Manaus, a frase em latim – visível a todos os alunos que subiam as escadas do Colégio Dom Bosco – ficou marcada no coração e mente de Azevedo. “O trabalho persistente vence tudo”, de um poema de Virgílio (70a.C. – 19 a.c.), a sentença descreve a jornada Azevedo, sua postura visionária e seu compromisso cívico com uma terra que passou a chamar de sua, o Amazonas das mulheres guerreiras, no centro da maior floresta tropical do planeta e sede da ZFM, Zona Franca de Manaus, o maior acerto fiscal da história da República para o desafio de redução das desigualdades regionais.
Aluno salesiano do Colégio Dom Bosco, onde foram forjados muitas lideranças empresariais e destacados entes públicos do Amazonas, desde os anos 20, quando foi fundado, o Colégio influenciou fortemente o futuro comendador Azevedo, que foi discípulo de Padre Agostinho Caballero, uma referência de bondade e solidariedade humana, e contemporâneo de Gilberto Mestrinho, três vezes governador do Amazonas. Estudaram lado a lado no Curso de Contabilidade, uma ferramenta escolar decisiva no desempenho de ambos pela vida afora. Tornaram-se grandes amigos.
Vivíamos a Era do Rádio
Em ondas curtas e depois tropicais, o rádio era febre nos anos 60 na Amazônia, mas a televisão já fazia história com Assis Chateaubriand desde 1950. Quando teve início a primeira loja da TV Lar, sua instalação ocorreu na sala de estar da residência da família Azevedo em 1964, na Rua Henrique Martins, onde o patriarca, ainda jovem, consertava aparelhos de rádio. Manaus soube que a Seleção Brasileira de Pelé, o rei do futebol, fora bicampeã do mundo nas ondas do rádio. Por aí se deduz o destaque e a fama de José Azevedo no cotidiano de Manaus, a Cidade Sorriso, como era conhecida, com seus 160 mil habitantes.
Em pouco tempo, aquela loja de ambiente estritamente familiar, foi dado corpo e alma à veia empreendedora, escrevendo a cada dia um capítulo da história Azevedo. O cenário original era a Rua Henrique Martins, no Centro histórico de Manaus. A duas quadras, fica a Praça da Polícia, conhecida por conta do quartel que ali existia. A praça, Heliodoro Balbi, homenageia um advogado de origem italiana que honrava a categoria por seu espírito público e extrema ousadia na defesa da ética, democracia e cidadania. Para quem conviveu com José dos Santos Azevedo esses valores são recorrentes em sua trajetória e manifestações nas tribunas das entidades de classe do setor produtivo onde sempre brilhou. Daí tantas homenagens em sua trajetória de vencedor.
Antônio Azevedo, o continuador
Ele nasceu um pouco antes da intervenção militar de 1964, um ano de reboliços políticos e sacolejos institucionais. Logo depois, em 28 de fevereiro de 1967, com o Decreto-Lei 288/67 estava criada a Zona Franca de Manaus, uma Área de Livre Comércio que tirou o Amazonas do marasmo econômico em que se encontrava depois do esvaziamento do II Ciclo da Borracha. Fundada em três pilares, Comércios, Indústria e Agricultura, o boom inicial se deu com o comércio de importados. O Brasil era um país fechado ao comércio internacional, por isso a ZFM foi uma explosão de negócios.
Acompanhando o patriarca em sua caminhada de sucesso, Antônio Azevedo foi descobrindo o mundo a partir da oficina que ficava numa das dependências da casa, foi contagiado pelas referências do ambiente de empreendedorismo. Essa vivência que foi formalizada no que hoje seria menor aprendiz, teve sua carteira de trabalho assinada aos 12 anos. Desde criança, porém, pelo simples olhar em torno, entendeu o sentido do verso de Virgílio.
A dimensão tomada pelo sonho Azevedo
Nada como compartilhar condutas, crenças e vivências. Antônio teve que buscar soluções estratégicas, gerenciais, tecnológicas que a academia e as diversas economias do mundo podem oferecer. Seu pai havia se associado à Yamaha, fabricante japonês de motocicletas. Participação modesta, diza sempre o patriarca para não dizerem que ele queria ser melhor do que o calendário marca. Nunca foi. Como é comum aos sábios, José Azevedo sempre primou pela simplicidade e pela modéstia de seus costumes.
Olhando o conjunto de sua obra, mesclada e expandida com a agregação de valor do conhecimento acadêmico e operacional de seu sucessor, podemos deduzir algumas ponderações. Uma delas é a presença constante e atuante de José dos Santos Azevedo no processo de transformação regional a partir do Amazonas. Integrante destacado do setor varejista e industrial, Azevedo vai ser encontrado sempre e com singular dedicação nas reuniões do que era chamado de Santa Aliança, a gestão articulada do setor privado do Amazonas através de suas lideranças nas entidades de classe.
Era neste contexto que José e também Antônio Azevedo passaram a atuar em sintonia pela integração no setor privado, insistindo sempre na necessidade de interiorizar o desenvolvimento como o melhor modelo e estratégia de preservação/conservação da Amazônia. Antônio, nos últimos anos, focou um pouco mais no estudo, planejamento, mobilização dos atores sociais, para pensar, preparar e trabalhar na construção do futuro que já começou a partir de Manaus e tem se espalhado pelos mais distantes rincões amazônicos.
De Itacoatiara à Nhamundá, no Médio e Baixo Amazonas; de Borba a Apuí, no rio Madeira; de Barcelos a São Gabriel da Cachoeira, no rio Negro; de Iranduba a Fonte Boa, no Médio e Baixo Solimões; de Tonantins a Atalaia do Norte, no Alto Solimões e Japurá; de Beruri a Guajára, nos rios Juruá e Purus; em Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e em quase todos os bairros de Manaus; de Boa Vista a Rorainopólis, em Roraima, tem sempre uma loja TVLar testemunhando o comprometimento dos Azevedo com a Amazônia e seu povo.
À essa que é a maior rede de varejo da região Norte junta-se ainda mais de uma dezena de concessionárias Yamaha, também espalhadas pela região, e mais o Manaus Plaza Shopping e a longeva sociedade na Yamaha Motor da Amazônia, e ter-se-á a dimensão que alcançou o sonho modesto iniciado pelo visionário José Azevedo, nos idos dos anos 60: um grande legado em prol do desenvolvimento regional, gerando trabalho e renda para milhares de famílias, recolhendo vultosos valores como tributos e fazendo-se presente em quase uma centena municípios.
E o sonho prossegue. Antônio, desde a primeira hora, integrou-se de corpo e alma no CODESE, Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico de Manaus, um movimento que começou em vários municípios do país visando desenhar e implantar uma cidade para seus cidadãos, justa, fraterna, sustentável e próspera. Um ensaio, mais um, que descrevem a utopia Azevedo, que materializa um sonho, isto é, antecipar uma utopia de uma cidade, um Amazonas e sua articulação Amazônia a favor de sua gente, de mãos dadas e braços abertos, no modo Azevedo.
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