Ser poronga na Amazônia, portanto, significa identificar os arautos da propaganda perversa e mal intencionada que defende o desmatamento para atividades nocivas ao tecido social, ao clima e ao país. Ser poronga é cuidar do meio ambiente e, principalmente, clarear resguardar os direitos civis das 30 milhões de pessoas que aqui vivem, sabem proteger a floresta e devem ser tratados como protagonistas de sua gestão sustentável e da distribuição dos benefícios da prosperidade inteligente e coletiva.
Por Alfredo Lopes
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A poronga há se continuar a alumiar as sombras da floresta! Que motivos temos para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente na Amazônia? O desmatamento com seus índices alarmantes dos últimos anos, as queimadas, o Dia do Fogo, uma data sombria inserida no calendário oficial da República, a disseminação do mercúrio nas águas da vida amazônica pelo garimpo ilegal em terras indígenas, a criminalidade, a violência, o tráfico humano e o conjunto de sequelas climáticas e humanas que tudo isso representa? Isso, é óbvio, não começou há pouco. Podemos dizer que a depredação criminosa é a melhor/pior descrição da presença dos não-indígenas na floresta, faz mais qde cinco séculos, desde os genocídios dos primeiros navegantes, passando pela Cabanagem e outros desastres/atrocidades socioambientais que temos padecido impunemente.
O Último Jardim do Mundo está ameaçado por esta civilização predatória e suicida. A gravidade dessa constatação pode ser ilustrada nos desvios de verbas destinadas a prevenção de catástrofes ambientais por agentes públicos, como se constatam nos últimos eventos de calamidade pública e climática no Brasil. O vetor da destruição transforma sua prevenção em delito. Estamos caminhando sob o signo da escuridão e da opressão em suas refinadas versões.
E o qual o sentido de escolher a poronga—um artefato essencial da rotina diária dos seringueiros da Amazônia, usado durante o ciclo da borracha para gerar uma riqueza generosa a partir de uma só espécie da Amazônia, a árvore da fortuna, a Hevea brasiliensis. Tratava-se de uma lamparina, uma luminária individual presa na testa dos operários da borracha para proceder à coleta do leite da seringueira nas madrugadas escuras de cada dia. Naquela época, ainda não haviam descoberto a tecnologia para evitar a coagulação do leite/látex em contato com a luz solar. Esta invenção revolucionou o beneficiamento da Borracha e gerou um ciclo de riqueza.
Celebrar o Meio Ambiente na Amazônia significa refletir sobre a relação entre os recursos naturais do banco genético da Amazônia e os imperativos da inovação tecnológica, Bio&TIC uma sigla criada pelo encontro de suas esfinges amazônicas, a bioeconomia e a tecnologia da informação e da comunicação. O fator humano é o substrato de aceleração deste acasalamento. Segundo Samuel Benchimol, nos apontamentos que rechearam sua tese de mestrado sobre Manaus, no século XX, e os aspectos socioeconômicos do desenvolvimento do Amazonas, estão assentados cearenses no desembarque de meio milhão de nordestinos, em sua maioria cearenses, na Amazônia, fugidos das grandes secas do semiárido nordestino.
São eles os inventores da poronga, um instrumento capaz de iluminar caminhos, espantar predadores e organizar a cadeia extrativa e participativa do látex, o precioso ouro branco, que fez da Amazônia um contribuinte generoso para a República desde então: por três décadas, contribuímos com 45% da formação do produto interno bruto do país. E por que destacar esses dados emblemáticos da formação econômica de uma Amazônia hoje entregue à gestão do crime organizado, legalizado e naturalizado pela omissão ou silêncio obsequioso das autoridades constituídas? E por que será que, ironicamente, nas aferições de voto das populações ribeirinhas da Amazônia, a atual administração pública do Brasil tem destacado apoio e confere confortáveis índices de adesão eleitoral a seus protagonistas? Duas hipóteses podem ser aventadas. Uma delas é a familiaridade e a naturalidade com que a barbárie se infiltrou no imaginário social dos nativos, marcados por indicadores de desenvolvimento humano de níveis deploráveis na Amazônia profunda. O estereótipo, segundo o qual essa população adere a todo aquele que chegar com uma sinalização de receita, emprego e renda, é, entretanto, questionável. A segunda hipótese apenas confirma a relação atávica entre os nativos e os exploradores desde os primórdios coloniais. Não significa adesão, nem recusa, este acolhimento é consequência pura e simples da necessidade de sobrevivência. Alguns tostões e eventos de cultura/fake/sertanejava dos gustavos laranja lima da vida, cumprem o papel de pão e circo, a fórmula eficaz de opressão/distração bem sucedida desde o império romano, antes da Era Cristã. Apesar, ou por causa, de tudo isso, festejar a poronga significa exaltar a necessidade de iluminação dos caminhos, que passam necessariamente pela informação objetiva e coletiva que mergulhe na esfinge amazônica, através de educação científica, priorização da inovação tecnológica a partir dos primórdios da educação escolar.
Ser poronga na Amazônia, portanto, significa identificar os arautos da propaganda perversa e mal intencionada que defende o desmatamento para atividades nocivas ao tecido social, ao clima e ao país. Ser poronga é cuidar do meio ambiente e, principalmente, clarear resguardar os direitos civis das 30 milhões de pessoas que aqui vivem, sabem proteger a floresta e devem ser tratados como protagonistas de sua gestão sustentável e da distribuição dos benefícios da prosperidade inteligente e coletiva.
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