Starlink, a constelação de satélites que se propõe a prover internet global está espantando até militares americanos, ao resistir aos russos
Starlink é uma empresa derivada da SpaceX, que se propõe a fornecer acesso de Internet de alta velocidade e baixa latência, via satélite, em qualquer lugar do mundo. Ainda está em sua infância, mas já está fazendo diferença. De vida ou morte, em alguns casos.
Com os ataques russos dizimando cidades inteiras na Ucrânia, é natural que a infraestrutura de comunicações seja bastante afetada. Com isso pessoas ficam isoladas, notícias da guerra não chegam e não saem das cidades, entes queridos não conseguem saber se seus familiares estão vivos ou mortos.
Em 26 de fevereiro de 2022, Mykhailo Fedorov, Vice Primeiro-Ministro da Ucrânia fez um pedido público para Elon Musk, solicitando que ele liberasse o sinal dos satélites Starlink na Ucrânia, e enviasse terminais. Em menos de dois dias a primeira carga de terminais chegou à Ucrânia.
Até a primeira semana de abril haviam sido enviados mais de 5000 terminais para a Ucrânia. Desses a Starlink doou 3670. A US Aid, agência do Governo dos Estados Unidos que coordena programas de ajuda internacional, como auxílio em terremotos e tsunamis comprou e doou 1500 terminais. França e Polônia doaram uma quantidade indeterminada de terminais, fora outros parceiros que contribuíram com a complexa logística de transportar os equipamentos por meio mundo, contornando barreiras alfandegárias,e virando que ficassem parados em Curitiba, etc.
O resultado tem sido muita informação, pessoas chorando de gratidão por poder se comunicar em meio a um cenário apocalíptico, e russos muito, muito contrariados.
Antes da Guerra começar os russos já haviam hackeado a ViaSat, empresa que também fornece serviço de internet via satélite, só muito ruim. Com a Starlink não deram muita sorte.
Em 5 de março os russos começaram a atacar a Starlink. Imediatamente as principais equipes de engenheiros de computação da SpaceX e da Starlink interromperam seus trabalhos normais e foram redirecionados para CyberSegurança. Começou uma briga de gato e rato, que se tornou uma disputa desigual.
De um lado soldados de um exército corrupto e acomodado, acostumados a um combate cibernético ocorrendo em velocidade glacial. Um ataque de um tipo A é respondido de forma X, que por sua vez é contra-atacada de forma Y, segundo o manual, que já está empoeirado.
Os russos basicamente estão acostumados a usar equipamentos projetados nos Anos 60 para interferir em tecnologia militar americana projetada nos Anos 70 e “modernizada” nos Ano 80. Acha que estou exagerando? O caça de superioridade aérea mais avançado dos EUA, o F-22, surgiu de uma concorrência lançada em 1981.
Do lado da Starlink, a empresa é formada por engenheiros jovens, brilhantes, ambiciosos e acostumados a virar noites, todo mundo entra sabendo que vai ser muito exigido, não vai ter vida social, mas após dois ou três anos vai poder arrumar emprego onde quiser, tendo SpaceX no currículo.
Imagine uma equipe treinada para pensar fora da caixa, sabendo que pode apresentar idéias malucas sem medo de ser chicoteado pela gerência, enfrentando uma situação de guerra eletrônica. Cada um deles deve ter se sentido o Neo… Ou pelo menos o Hackerman.
O resultado foram respostas imediatas, que deixaram de queixo caído um tal Dave Tremper, Diretor de Guerra Eletrônica do Pentágono. Ele acompanhou as respostas da Starlink aos ataques russos, e ficou espantado com a agilidade.
Algumas mudanças da Starlink foram no código-fonte dos satélites e dos terminais. Alterações foram propostas, desenvolvidas, testadas, homologadas e implementadas em questão de horas. NENHUM sistema militar no planeta teria essa agilidade.
Em horas você não consegue nem definir o fluxo de informações do projeto. Cada um dos departamentos envolvidos precisa de pelo menos um mês para preparar os documentos para tirar o seu da reta.
O documentário The Pentagon Wars mostra muito bem em uma cena como foi o desenvolvimento do blindado Bradley, e a mentalidade por trás de projetos militares.
Um funcionário da NASA certa vez comentou sobre essa diferença de filosofia. A NASA segue bem o modelo militar. Eles tiveram um problema com um sistema na cápsula Dragon. Fizeram uma reunião na SpaceX. O tal funcionário estava acostumado a um modelo onde naquela reunião iriam apresentar o problema, e definir datas para que as duas equipes acordassem terminologia, metas, datas de reuniões futuras, etc.
Ele não entendeu nada quando Elon Musk chamou os engenheiros da SpaceX, e resolveram o problema na hora.
Mr Tremper diz que os Estados Unidos precisam ter essa agilidade em seus sistemas de guerra eletrônica, e é verdade. Assim como os russos, os EUA andam muito acomodados. Após anos alguém no Iraque descobriu que o link de vídeo dos drones Predadores americanos era transmitido em sinal aberto, sem criptografia. Algum burocrata achou que os drones só iriam ser usados contra shitholes sem tecnologia, então não valia à pena gastar dinheiro com criptografia.
Outro caso vergonhoso foi um drone secreto avançado americano que sofreu spoofing de GPS sendo convencido a pousar em uma base militar iraniana.
A guerra na Ucrânia está sendo um grande campo de provas para um monte de tecnologias, mas o uso dos terminais Starlink foi uma surpresa, ninguém havia pensado nisso antes do pedido ucraniano. Elon Musk conseguiu uma oportunidade para testar sua tecnologia em condições de combate, mandou uma grande dedo médio para os russos e os militares americanos, que já estavam interessados no Starlink, agora devem estar brigando para ver quem consegue contratos primeiro.
Fonte: Meio Bit
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