Artigo de abertura publicado na última edição de 2021 do Jornal da Ciência – Economia Sustentável
Ondas de calor e frio, estiagens, tempestades, incêndios florestais, enchentes, nevascas e tornados. O ano de 2021 foi marcado por extremos climáticos que geraram milhares de mortos e desabrigados, além de prejuízos bilionários em todos os continentes.
Como os cientistas do clima vêm alertando – vide o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado em agosto – esse é o “novo normal” para o qual a humanidade deve se preparar. O cenário coloca a necessidade não só de adaptação, mas de criação de novas formas de produzir e consumir recursos naturais cada vez mais escassos.
É nesse contexto que desponta o tema desta edição especial do Jornal da Ciência: bioeconomia. Pesquisadores e especialistas analisam na reportagem de capa o surgimento e desenvolvimento deste que está sendo considerado um novo modelo de desenvolvimento econômico. Um modelo capaz de mobilizar investimentos, emprego, renda para uma economia “verde” e descarbonizada.
Ficou claro na 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26), realizada em Glasgow, Escócia em novembro, que o mundo tem que encontrar alternativas econômicas que abandonem os combustíveis fósseis e atividades geradoras de Gases de Efeito Estufa (GEE) para enfrentar a emergência climática e seus efeitos que já batem à nossa porta.
O Brasil joga em uma importante posição nesse cenário e a bioeconomia tende a ganhar o protagonismo quando se fala em desenvolvimento que proteja os biomas e descarbonize as atividades humanas.
No entanto, os especialistas esclarecem que a bioeconomia não significa a reprodução da matriz econômica em vigor, que precisa de crescimento constante a todo custo. Há limites que a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) conhecem e serão fundamentais na implementação de um novo modelo.
Conforme registram os pesquisadores Adalberto Luis Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Jacques Marcovitch, da Universidade de São Paulo (USP), em artigo especial para o Jornal da Ciência, o avanço do conhecimento em bioeconomia teve uma evolução expressiva. O conjunto de publicações científicas no Brasil cresceu de 13.474 em 2007-2011 para 24.026 em 2012-2016 e para 36.820 nos últimos cinco anos. O conjunto de dados no Brasil como um todo cresceu 78% entre o primeiro quinquênio e o segundo, e 53% do segundo para o terceiro. A produção de publicações originárias de instituições sediadas na Amazônia brasileira mais do que triplicou comparando os períodos 2007-2012 e 2017-2021: de 3.027 para 10.577.
O desafio agora é colocar toda essa produção científica em prática. Nas próximas páginas, o leitor vai conhecer algumas pesquisas que usam alta tecnologia e inteligência artificial no manejo de peixes e alguns projetos que já estão andando com sucesso, como o “Amazônia 4.0”, conduzido pelo biólogo Ismael Nobre.
Essa edição traz ainda uma reportagem sobre o relançamento da revista Ciência & Cultura cujo tema de capa será o Bicentenário da Independência. Publicação científica da SBPC que teve atividades interrompidas no início deste ano, a Ciência & Cultura voltará a circular em 2022 reformulada, em formato inteiramente digital e online – mas sem perder seu perfil original, que a tornou um dos mais importantes e históricos veículos de divulgação científica do país.
Renato Janine Ribeiro | Presidente da SBPC
Fernanda Sobral | Vice-presidente da SBPC
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