A Manaus rica está pronta para pagar pelo trabalho dos seus irmãos do interior, desde que este trabalho lhe seja entregue. Porém, todos os dias as águas negras e amarelas do Rio Negro e do Rio Amazonas passam nos portos interioranos e quase nada recolhem, chegando vazias à ZFM, ávida e frustrada consumidora.
Juarez Baldoino da Costa
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A cada semana, mais de um dos 62 municípios do Amazonas faz aniversário de emancipação, mas somente Manaus é notícia de destaque.
Mesmo os caçulas trigêmeos Apuí, Careiro da Várzea e Guajará, com 34 anos cada, também não recebem as homenagens que a capital, a irmã mais velha e com 352 anos, recebe.
A cidade-estado Manaus é a primeira colocada na região Norte do Brasil em valor de PIB, em população e em absorção de recursos públicos. É a mais rica do Amazonas e a cada ano vai se distanciando mais dos irmãos interioranos, como se fosse um xodó, sombreando os demais 61 municípios. Recebe homenagens fartas inclusive do governo estadual, até merecidas, porém, além de causar ciúme, este quadro revela na verdade o abandono a que o interior tem sido vítima.
Parte desta situação nos últimos 50 anos é resultado da forma de criação da ZFM (Zona Franca de Manaus) quando o DL 288 limitou em 10.000 Km² o seu tamanho, restrito a capital. Esta forma acabou determinando também a restrição da expansão econômica para o interior naqueles moldes, embora não fosse essa a intenção. Não havia viabilidade de instalar uma ZF em cada município do interior, como não há ainda hoje, mas os aniversários poderiam ser melhor comemorados se os produtores locais contassem com o pagamento de sua produção de forma institucional, assistida e garantida, sem os entraves de escoamento e sem a incerteza do mercado. Este papel de logística e suporte, para o Amazonas, só pode ser exercido pelo poder executivo, e seria um papel muito mais relevante do que um mero papel de presente de aniversário ou de uma publicação de Feliz Aniversário num jornal.
A Manaus rica está pronta para pagar pelo trabalho dos seus irmãos do interior, desde que este trabalho lhe seja entregue. Porém, todos os dias as águas negras e amarelas do Rio Negro e do Rio Amazonas passam nos portos interioranos e quase nada recolhem, chegando vazias à ZFM, ávida e frustrada consumidora.
É impraticável transformar no curto prazo os ribeirinhos e suas canoas em classe média motorizada a 4 rodas. E se um local para se considerar desenvolvido pressupõe que exista uma classe média, qual é e como seria a classe média do interior do estado? Se moveria em canoas?
Enquanto isso, não seria mais rápido e efetivo garantir melhora na renda dos ribeirinhos lhes pagando pelo que podem oferecer, num gesto que demonstre o desejo de Feliz Aniversário que representaria muito mais do que um anúncio festivo?
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