A crise política criada pelo governo federal impede que o Banco Central tenha sucesso no combate à inflação e coloca em risco o cumprimento da meta para 2022.
A avaliação é do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), que também vê o risco de que sua projeção de crescimento da economia de 1,5% para o próximo ano seja frustrada por conta da necessidade de um aperto monetário cujo limite depende dos riscos trazidos pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido).
Nesta quinta-feira (9), o IBGE informou que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu em agosto o maior patamar em 21 anos, com uma inflação acumulada de quase 10% nos últimos 12 meses.
“Ele (BC) vai ter que subir mais os juros, infelizmente, e não dá para acreditar que isso é culpa do BC. Temos de colocar a culpa em quem realmente merece. Os juros vão continuar subindo, a gente não sabe onde vai parar. Vai ficar lutando aí sozinho por muito tempo, e espero que esse tempo não seja tão demorado, porque o custo para a sociedade fica mais alto”, afirmou a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, durante o 3º Seminário de Análise Conjuntural da instituição, em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo.
Matos prevê crescimento de 4,9% para este ano e de 1,5% no ano que vem, mas com risco para esses números, muito influenciados pelo carregamento estatístico da recuperação com a abertura da economia a partir do início da vacinação.
“O cenário atual pode até levar a um crescimento abaixo de 1% (em 2022). Eu já tinha uma visão muito negativa em relação ao ano de eleição, mas não tinha colocado na conta um cenário tão dramático como estamos vivendo atualmente”, disse.
Armando Castelar, pesquisador associado do FGV Ibre, afirma que a crise política faz com que o Brasil abra mão de se beneficiar dos efeitos positivos da reabertura da economia e de um cenário externo positivo para economias emergentes.
Castelar ironizou o que chamou de “surpresa inflacionária”, ao afirmar que a inflação vem surpreendendo o governo e analistas há muito tempo e que parece não ter havido um aprendizado. Por conta disso, ele se mostrou cético em relação à queda da inflação para um patamar próximo de 4% em 2022, conforme previsão da pesquisa Focus do BC. A meta de inflação do próximo ano é um IPCA de 3,5%, com tolerância de até 5%.
“Uma surpresa, que é surpresa a toda hora, é a subestimação das projeções de inflação pelo mercado e pelo Banco Central”, afirmou. “Acho que tem muito otimismo em relação ao ano que vem, achar que vai trazer uma inflação de 10% para 3,9%. Parece um não aprendizado com todas essas subestimações que a gente vê desde o final do ano passado”.
O economista José Júlio Senna, também do FGV Ibre, afirma que a inflação é um fenômeno mundial raro provocado pela pandemia, que interrompeu cadeias de suprimento e desviou o consumo de serviços para alguns bens, mas destacou que o problema no Brasil também inclui a questão da crise hídrica e os impactos da questão política e incertezas fiscais sobre o câmbio.
“Aqui é um processo muito mais difícil de ser combatido, em especial porque isso não é tarefa apenas do Banco Central, mas tarefa de governo como um todo, e o interesse do governo por questões de economia parece bastante modesto”, afirmou.
Ele afirma que o que o BC está fazendo em matéria de juros era para levar a taxa de câmbio para um patamar muito mais confortável – o dólar está atualmente em torno de R$ 5,30 –, mas que a crise política impediu a valorização do real e aumentou o custo do combate à inflação.
“Não precisaria ter um aumento de juros tão expressivo para combater a inflação. Sem a ação do governo, acalmando os ânimos, o BC sozinho não vai resolver essa parada. Não há a menor chance. Toda a confusão política que está armada agrava muito o problema”, disse.
Fonte: Amazonas Atual
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