“…para acessar este bioma, seus habitantes e seus benefício para o Brasil e para o planeta como um todo, é necessário promover/debater o conhecimento e o entendimento abrangente e consistente desta região emblemática e promissora.”
Alfredo Lopes
_________________
Há muita narrativa e pouca informação consistente para ampará-las no debate da questão amazônica, seu uso sustentável e os riscos de sua depredação como fizeram com a Mata Atlântica e como o mundo fez com suas reservas florestais. O alarido cumpre várias finalidades. Muitas delas buscam bafejar o narcisismo ambiental daqueles supostos vanguardistas, um sucedâneo do esquerdismo infantil desde a queda do muro de Berlim. Há também narrativas mais explícitas de interesse institucional como o dos patrocinadores do Fundo Amazônia, com destaque para Noruega que acende uma vela à divindade da floresta e outra aos seus negócios poluentes que comprometem o clima desde a segunda revolução industrial.
Excelente notícia
A iniciativa evento Entendendo a Amazônia vem em boa hora e se origina de atores do agronegócio, o que não deixa de ser uma excelente notícia. Tudo o que puder agregar informação densa com dados procedentes no critério científico e histórico do conhecimento são importantes e merecedores de gratidão e aplauso amazônida. Afinal, um de nossos maiores embaraços é justamente essa desinformação perversa que se espraia até mesmo nos limites domésticos das planícies e dos planaltos. Ou será que faz sentido advogar a remoção da floresta para transformá-la em pasto, ou extrair madeiras ilegalmente e aferir-lhe certificação fake do poder público federal como se os tempos do mandonismo autoritário devesse voltar para justificar o ilícito?
Desmatar é matar o agronegócio
Ora, desmatar é destruir no curto e médio prazo as fontes hídricas do agronegócio, ou seja, é destruir essa base nacional de valor. Estudos da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, publicados na revista Nature, em maio último, demostram objetivamente que o desmatamento diminui a capacidade do bioma amazônico de regular padrões de chuva, colocando os sistemas agrícolas do país em perigo. Os cientistas da UFMG bem que tentaram repercutir o alerta mas como se sabe as instituições de ensino e pesquisa estão correndo da sala pro banheiro tal o corte visceral de recursos para fazer Ciência. Com menos árvores, menos chuva, é inevitável inversão desastrosa no ciclo das águas. A Amazônia está experimentando a maior enchente dos últimos 120 anos e o resto do Brasil a pior seca das últimas décadas, Sudeste incluído. Em algumas regiões a redução é de 50%. Ou seja, menos árvores significa agro-suicídio, menos energia para mover o maior fornecedor de ar refrigerado do planeta. Como serão os futuros verões de Cuiabá no coração do agronegócio?
Tem até candidato a Prêmio Nobel
E como será o evento, quem será chamado, quem deve ser evitado por negacionismo excessivo? Terraplanistas são personas non-gratas. Foram convocados e já confirmados referências mundiais do agronegócio estribado na sustentabilidade. Allysson Paolinelli, um dos criadores da Embrapa, nosso maior orgulho, candidato ao Nobel da Paz por seu trabalho de segurança alimentar em sentido amplo e transformação do cerrado em patrimônio agroindustrial do país. E o ministro Roberto Rodrigues, outra referência de igual envergadura, de braços dados com Sérgio Vergueiro que veio para o Amazonas fazer pecuária a convite do governo militar há 50 anos e se converteu ao reflorestamento de espécies nativas, como a castanha do Brasil, ou do Pará, cuja domesticação conquistou com apoio da Embrapa e INPA. Hoje é o maior plantador de árvores atuante da região.
Estrelas e muitas bagagens
Do lado de cá, no meio do mato, estudiosos da Amazônia, teremos estrelas do INPA, Embrapa, como Roberval Lima, Niro Higuchi, Adalberto Val, Gleriani Ferreira, Jacques Marcovitch e Paulo Artaxo, uspianos que mergulham corpo e alma na floresta, ao lado de Estevao Monteiro de Paula, entre outros caboclos. E no segmento empresarial, representando a saga dos Pioneiros e Empreendedores da Amazônia judaica, desde o ciclo da Borracha, Denis Benchimol Minev, que hoje é referência de valorização da floresta em pé como o maior ativo da sustentabilidade e da Bioeconomia no país.
Grátis, virtual, internacional
Em tempos de pandemia, o evento Entendendo a Amazônia escolheu o melhor caminho. É gratuito, virtual e internacional. Suas premissas são admiráveis: “…para acessar este bioma, seus habitantes e seus benefício para o Brasil e para o planeta como um todo, é necessário promover/debater o conhecimento e o entendimento abrangente e consistente desta região emblemática e promissora”. Isso significa considerar as diversas manifestações do bioma florestal, suas potencialidades e fragilidades, para que este aprendizado – disponível para o maior número de pessoas – possa assegurar sua preservação e formatos de desenvolvimento necessariamente sustentáveis a favor das pessoas que lá vivem e da Humanidade.
Comentários