Régia Moreira Leite
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O Brasil voltou ao Mapa da Fome oficialmente no mês passado. Faz 50 anos que o organismo de combate à fome, a FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – um dos braços de assistência mais importantes da ONU, juntamente com a UNICEF – publica o Mapa da Fome, denominado Indicador de Prevalência de Subalimentação. Somos um dos 3 maiores produtores de alimentos do mundo, uma atividade que responde 50% de nossa balança comercial. Entretanto, 90% cumpre apenas o papel de colaborar com os 10% dos proprietários do país. E só no Amazonas, o maior estado da federação em tamanho e em riquezas naturais, temos mais da metade da população passando necessidades básicas, ou seja, fome. Um problema que se agrava no ciclo das chuvas. Muitos municípios estão com casas debaixo d’água. Falta comida para toda a família. No caso das crianças, isso significa exposição às doenças e retardo intelectual. Aqui não importa debater as origens dessa paisagem desumana, muito menos apontar esta ou aquela entidade do poder público ou privado como responsáveis. Aqui nós interessa apenas e simplesmente buscar ajuda para quem precisa.
Mobilização local, nacional… contra a fome
Em outro momento até podemos promover um debate público sobre as razões que levam as elites a virar as costas para os resultados/sequelas do desequilíbrio perverso na péssima distribuição de renda. Por enquanto, a hora é de constatar e aplaudir o crescimento da mobilização local e nacional, certamente mundial, para amenizar a fome que não cessa de se agravar e espalhar seus danos, em alguns casos, irreparáveis. Empresários de nossa convivência nas entidades da indústria tem sido , sensíveis à causa e comparecem com respostas robustas aos apelos de voluntários obstinados. Isso nos enche de uma indescritível satisfação. Na rotina da Ação Social Integrada das entidades da ZFM, entretanto, um cinturão de pobreza e abandono cresce, aparece e constrange nossa consciência cristã. Com raras exceção, temos nos deparado com a generosidade de muita gente, além das empresas. Crescem dentro de todas as classes e segmentos socioeconômicos o espírito da partilha.
Generosidade e sintonia
Teríamos muitas ações e entidades a destacar, entretanto, vamos pinçar das Minas Gerais exemplos da multiplicação de iniciativas, ao todo 175, segunda noticiário do fim-de-semana, na capital, Belo Horizonte. Entre tantas demonstrações fraternas, um testemunho de obstinação em favor da vida e do combate obcecado contra a fome: Trata-se do servidor público, Vaildo dos Santos, socorrista do SAMU e agente municipal de serviços comuto. Com alegria e insistência, consegue coletar alimentos para atender 50 associações comunitárias que atuam com pessoas em extrema vulnerabilidade social. Aqui, a calamidade ganhou um empurrão com as imagens da enxurrada, na manhã desta segunda-feira, arrastando dezenas de pessoas, muitas crianças, destruindo o abrigo dos refugiados venezuelanos, um retrato sinistro da miséria social. Os tomadas feitas por transeuntes, entretanto, mostram pessoas comuns arriscando a própria vida para socorrer seus semelhantes. E ninguém, graças a Deus, veio a óbito.
E por que a miséria se agravou?
No final final de 2020, com o fim do Auxílio Emergencial, foram contabilizadas 116 milhões que estavam passando fome no Brasil, segundo Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan). Com a demora do governo em 2021 para viabilizar algum tipo de benefício, somente em abril último veio o alento com redução em 80%. Não é difícil para imaginar a ampliação no sofrimento desta imensidão de pessoas. E para piorar, mais uma vez, Manaus ganhou as manchetes mundiais com a crise do oxigênio na segunda onda da pandemia, mais agressiva e letal, no Amazonas. “Desses 116 milhões, cerca de 43 milhões (20,5% dos brasileiros) não contavam com alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões da população (9%) estavam passando fome, maior taxa desde 2004. Além de ser o maior índice em 17 anos, é quase o dobro do registrado em 2018, quando o IBGE identificou 10 milhões de brasileiros nessa condição”, diz o Relatório. Imaginem a periferia de Manaus.
Negra, pobre e com baixa escolaridade
Para mostrar que a fome tem rosto, peculiaridades e caracteres do preconceito e da discriminação que não recuam nem se disfarçam no Brasil, a pesquisa destaca um fato: quando a pessoa responsável é uma mulher, insegurança alimentar ainda é mais grave, ou seja, a fome é muito superior à média nacional. E o que é mais grave: se essa mulher for de cor preta ou parda e de baixa escolaridade, essa insegurança é ainda maior. O problema não está ligado exclusivamente à pandemia, claro. Em 50 anos, citando novamente a FAO, o Brasil ficou de fora do Mapa da Fome apenas de 2013 a 2017. Não iremos resolver este problema de forma isolada, obviamente, pois se trata de uma mazela estrutural da sociedade que permanece fora da pauta dos representantes por ela escolhidos. Entretanto, como setor produtivo temos de cobrar do setor público uma gestão mais participativa no enfrentamento do caos, que possa fazer chegar a quem precisa a massa absurda de impostos e contribuições que recolhemos, uma das maiores do mundo. Enquanto isso não se equaciona, a fome se agrava e não pode esperar. Precisamos de seu apoio.
Confira as informações para colaborar
Chave Pix – [email protected]
Dados para depósito:
Banco: Caixa Econômica Federal – 104
Nome: Centro da Indústria do Estado do Amazonas – CIEAM
Agência: 1549
OP: 003
Conta Corrente: 00002679-7
CNPJ: 04.603.213/0001-69
Mais informações:
(92) 3627-3800
www.cieam.com.br
Régia Moreira Leite (IMPRAM) – 98 981273131
Cordenadora da Ação Social Integrada
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