Postado em 10/11/2020 00:01
A Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) estima que, nos próximos 20 anos, a biotecnologia industrial pode somar cerca de US$ 53 bilhões à economia brasileira, se durante as duas décadas forem investidos US$ 132 bilhões anuais. O investimento traria cerca de 217 mil novos postos de trabalhos ao fim de duas décadas. E, se a biotecnologia alcançar esse rendimento estimado, a arrecadação de impostos seria de US$ 9,5 bilhões anuais.
Contudo, para alcançar tais resultados, o Brasil deve inserir a bioeconomia como estratégia de crescimento. É o que preconiza o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. “Precisamos aproveitar esse momento para construir as bases para avançar, já que o Brasil é o país com maior potencial nessa agenda”. Ele aponta que a bioeconomia seria uma alternativa para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
“A floresta em pé passa a gerar mais riquezas e, com isso, aumentar o seu valor frente às outras alternativas”, observou. O mesmo pensamento é compartilhado por de Ana Carolina Cagnoni, diretora de Propriedade Intelectual e Compliance da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). “O setor passa por uma transformação de redução de uso de compostos químicos e aumento na inserção de materiais biológicos nos medicamentos, o que pode trazer uma vantagem para o Brasil, que tem a maior biodiversidade do mundo”, salientou.
Óleos essenciais
Um exemplo disso é o Grupo Centroflora, de São Paulo, que produz óleos essenciais e ativos isolados para a indústria farmacêutica. A empresa reuniu uma biblioteca inédita de produtos naturais com extratos da flora de quatro biomas brasileiros: Caatinga, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. O objetivo é coletar essas plantas e encontrar as substâncias “mais preciosas e reunir esse acervo no que pretende ser uma das maiores bibliotecas de produtos naturais do mundo”, explica Cristina Ropke, diretora de Inovação da empresa.
Mas o avanço da bioeconomia depende do aperfeiçoamento do sistema de inovação do Brasil. O professor Roberto Berlinck, do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que é necessária a liberação dos recursos para não interromper as pesquisas e explica que o investimento em estudos volta em forma de resultados para o país.
Atualmente Berlinck se dedica a pesquisar substâncias anti-cancerígenas da própolis vermelha, extraída de colmeias em Alagoas, que são mais raras que a própolis verde, amarela e marrom. “Tínhamos um conhecimento tradicional que relacionava o uso da própolis vermelha com a inibição de células cancerígenas. E isso se comprovou nas pesquisas, quando descobrimos substâncias isoladas da classe dos polifenóis (antioxidantes vegetais)”, revela.
Para obter o resultado e chamar atenção para a bioeconomia, o Instituto Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Inovação em Biossintéticos, em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), estão com projeto de emenda parlamentar para desenvolver um estudo econométrico para ajudar o país a alavancar a bioeconomia. “A proposta é dividir esse estudo por partes, começando pelas grandes cadeias brasileiras, como cana-de-açúcar e celulose, com dados detalhados para avaliar a viabilidade econômica de produtos a partir dessas cadeias”, explica Paulo Coutinho, diretor do Instituto Senai de Inovação em Biossintéticos.
Fonte: Correio Braziliense
Comentários