“‘Bioeconomia para quem?’ é um convite à ação, a disseminação e ao debate em ambiente comunitário, e até escolar e universitário, na busca de transformar o conhecimento científico em políticas públicas e ações práticas. A bioeconomia, pois, pode ser uma ferramenta poderosa para promover a vida e combater a violência, integrando esforços de diversas áreas do conhecimento e promovendo uma nova era de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.”
Anotações de Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A obra “Bioeconomia para quem?”, um compilado de estudos, abordagens e proposições estratégicas que ilustram o tamanho do desafio que a Amazônia nos impõe. Evidencia a dificuldade da virtuosa empreitada para colocar a riqueza da biodiversidade da Amazônia a serviço dos 30 milhões de habitantes que nela vivem. Como introduzida no último artigo da coluna, a obra – fruto da organização de dois grandes e necessários defensores da floresta em pé como motor de desenvolvimento, Jacques Marcovitch e Adalberto Val, – revela a necessidade urgente de transformar as oportunidades do patrimônio natural da região em benefícios sociais e econômicos, visando salvar este acervo da depredação e remover os deploráveis índices de desenvolvimento humano que caracterizam a população amazônica.
Fica claro a necessidade de uma mobilização institucional governamental e da sociedade civil organizada para promover a gestão deste cenário de contradições e paradoxos, onde a exclusão da absoluta maioria está imersa num universo de alternativas de toda a ordem, com respostas para a segurança alimentar, medicinal e dermocosméticas. Em certo nível, a civilização já se deu conta deste Eldorado verde, mas o poder público e a iniciativa privada, no geral, até aqui, demonstraram pouca habilidade para o necessário e urgente gerenciamento.
Nas páginas de cada capítulo e no conjunto dos pontos abordados pelos cientistas, destacam-se a necessidade de políticas públicas voltadas para a segurança na região e a promoção de uma economia sustentável que respeite a biodiversidade e os direitos das populações locais. Este é o desafio e o enigma que inspira mobilização.
Outro assunto geralmente ignorado é o da violência na Amazônia brasileira. Questão que se estende por quase toda sua dimensão continental, e que se apresenta como um dos grandes desafios contemporâneos com gravidade crescente nos últimos ano: a região enfrenta uma ocupação por grupos criminosos e facções que atuam em 178 municípios, ampliando os conflitos e dificultando a implementação de iniciativas ambientais e de desenvolvimento sustentável. Membros de organizações não governamentais e instituições públicas já relataram ter sido impedidos de acessar determinadas áreas sob ameaças ou até disparos de arma de fogo.
Estudos como o “Cartografias da Violência na Amazônia” publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em 2023, apoiado por ONGs, fundações e empresas, trazem um panorama detalhado sobre a criminalidade, apontando que 23% do território da Amazônia Legal está sob influência do crime organizado, afetando diretamente as populações locais e desafiando as autoridades.
A coletânea também aborda o impacto ambiental e social do desmatamento e da contaminação dos rios por mercúrio, utilizado ilegalmente no garimpo. A publicação do FBSP e a Nota Técnica da Fiocruz de 2023, revelam que milhões de habitantes ribeirinhos consomem alimentos contaminados, principalmente peixes, o que resulta em graves problemas de saúde pública. Estudos indicam que a contaminação por mercúrio provoca doenças neurológicas e psicológicas em adultos e crianças, perpetuando o ciclo de pobreza e desigualdade na região.
Entre as propostas para um futuro sustentável, destacam-se a substituição do mercúrio por bioextratos obtidos de árvores nativas da Amazônia, como o pau-de-balsa, e a aplicação de tecnologias limpas para a mineração de ouro. Instituições como a Embrapa, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e outras estão desenvolvendo alternativas que podem ser adotadas em larga escala, minimizando os danos ambientais, contribuindo para organizar o uso sustentável de seus ativos.
Nesta semana, durante a realização da Iniciativa de Bioeconomia, dos países ligados ao G20, ora sob a liderança do Brasil, Rodrigo Rollemberg, Secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, fez um apelo para que os países desenvolvidos cumpram seus compromissos financeiros para a preservação das florestas tropicais. “Se a floresta queimada ou derrubada traz um prejuízo, a floresta preservada traz um benefício global”. A cooperação internacional é vista como essencial para enfrentar os desafios da Amazônia.
A Declaração dos Chefes de Estado da Cúpula de Belém, em 2023, por sua vez, enfatiza a necessidade de ações conjuntas para combater a mineração ilegal, o tráfico ilícito e outros crimes relacionados, além de promover a vigilância da qualidade da água e a saúde das populações expostas a substâncias tóxicas.
“Bioeconomia para quem?” também destaca outro grave problema e alerta para a importância de uma política de segurança pública específica para a Amazônia, que considere suas peculiaridades geográficas, econômicas, sociais e culturais. A proteção da floresta está diretamente ligada à proteção das pessoas que nela vivem, especialmente povos indígenas e comunidades tradicionais, cujos direitos territoriais e culturais são frequentemente violados.
É um convite à ação, a disseminação e ao debate em ambiente comunitário, e até escolar e universitário, na busca de transformar o conhecimento científico em políticas públicas e ações práticas.
A bioeconomia, pois, pode ser uma ferramenta poderosa para promover a vida e combater a violência, integrando esforços de diversas áreas do conhecimento e promovendo uma nova era de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.
Leia a obra na íntegra clicando aqui
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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