“As iniciativas da Embrapa, do INPA e casos de sucesso como o da Fazenda Aruanã, são o início de uma nova era de negócios sustentáveis, centrada na ação imediata para proteger o planeta e garantir um futuro próspero e inclusivo.”
Coluna Follow-Up
Por Alfredo Lopes
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Nada mais insensato e temerário do que promover queimadas quando o planeta padece as mais ameaçadores experiências do aquecimento global. A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, está em chamas, conforme alerta do jornalista Carlos Madeiro em reportagem no UOL, baseado nos satélites globais que registram a cada instante o que é a civilização do caos. A região enfrenta desafios sem precedentes devido à mudança climática e ao desvario do negacionismo que transforma o fogo em instrumento destrutivo dos estoques naturais de vida.
Você sabe o que é REMATAMENTO?
Estudos recentes, como o Relatório sobre o Estado Global do Clima, publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), evidenciam a gravidade da crise climática, ressaltando a necessidade urgente de ações eficazes. No Amazonas, o economista Denis Minev criou um termo eloquente – Rematamento – relacionado à recuperação do mato, da matas, como dizemos no linguajar coloquial para descrever o bioma florestal. A União Europeia, reconhecendo essa realidade, implementou leis que exigem a recuperação das florestas, destacando a importância global do reflorestamento, particularmente na Amazônia. Recuperar floresta no Velho Mundo agora é Lei. E no universo tropical onde o clima se anuncia mais ameaçador do que em outras regiões, quais são as medidas de urgência?
Identificação da ameaça climática
Pesquisas conduzidas pela USP, lideradas pela engenheira agrônoma Júlia Brandão Gontijo, revelaram um aspecto crítico da crise climática: a resposta das comunidades microbianas da Amazônia ao aumento das temperaturas. Esses microrganismos, responsáveis pelo ciclo do metano, um potente gás de efeito estufa, têm sua capacidade de consumir metano reduzida drasticamente com o aquecimento. O metano possui um poder de aquecimento cerca de 27 vezes maior que o dióxido de carbono, tornando a mitigação desse gás uma prioridade urgente para evitar consequências climáticas devastadoras.
Soluções Sustentáveis
Diante desse cenário alarmante, o reflorestamento na Amazônia emerge como uma solução essencial para mitigar os efeitos do aquecimento global. Iniciativas como os sistemas agroflorestais e o manejo florestal sustentável, promovidas por instituições renomadas como a Embrapa e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), representam estratégias eficazes para alinhar a preservação ambiental com o desenvolvimento econômico.
Sistemas Agroflorestais, o caminho para a sustentabilidade
Os sistemas agroflorestais combinam a produção agrícola com a recuperação da floresta e preservação da vegetação nativa, oferecendo uma solução imediata e eficaz para a crise climática. A Embrapa tem sido pioneira na adaptação dessas práticas para a floresta amazônica, permitindo que agricultores integrem culturas comerciais e alimentares com espécies florestais. Esses sistemas não só diversificam a renda dos agricultores, mas também contribuem para a captura de carbono, melhoram a saúde dos solos e dos recursos hídricos.
Manejo Florestal Sustentável, preservação e desenvolvimento
O manejo florestal sustentável, promovido pelo INPA, sob a coordenação científica de Niro Higuchi, permite a extração de recursos florestais sem comprometer a regeneração natural das áreas exploradas. Essa abordagem garante a preservação da biodiversidade e a geração de empregos para as comunidades locais, além de abrir novas oportunidades de negócios sustentáveis, em um mercado global cada vez mais consciente das questões ambientais.
Transformando desafios em oportunidades
A recuperação da floresta degradada na Amazônia, aliada a práticas sustentáveis como os sistemas agroflorestais e o manejo florestal, oferece uma oportunidade única para transformar desafios ambientais em ativos econômicos valiosos. O Fundo Banco Mundial, por exemplo, emitiu recentemente um título de US$ 225 milhões, vinculado ao reflorestamento. Essa iniciativa demonstra o potencial econômico dessas práticas e sublinha a importância de um mercado emergente onde o desenvolvimento econômico caminha junto com a conservação ambiental.
De pasto degradado ao reflorestamento recordista
A história da castanheira na Fazenda Aruanã é um emblema notável de recuperação ambiental na Amazônia, a domesticação da castanheira no Estado do Amazonas, na Fazenda Aruanã, localizada em Itacoatiara, Amazonas. Em uma área de 12 mil hectares, 3 mil foram transformados de pastagens improdutivas em um vasto plantio de castanheiras, totalizando impressionantes 1,3 milhão de árvores. Essa iniciativa começou na década de 1970, quando empreendedores de São Paulo, incentivados por políticas fiscais, migraram para a Amazônia.
Com o tempo, perceberam que as pastagens estavam em declínio – ocorrência intensiva de fatores patogênicos na alimentação do rebanho – e, orientados por técnicos locais da Embrapa, decidiram plantar castanha-do-Brasil, ou do Pará, como é conhecida. Hoje, os plantios de castanheira na fazenda exibem características próximas às de uma floresta natural, reforçando a importância dessa espécie na restauração de solos degradados e na geração de renda.
Ação Imediata é Imperativa
O Brasil tem hoje cerca de 2,4 milhões de hectares desmatados somente em terras indígenas, conforme um estudo inédito do Instituto Escolhas. Desse total, aproximadamente metade (1,1 milhão de hectares) apresenta um alto potencial de regeneração natural. Isso é particularmente relevante na Amazônia, onde 82% de toda a área com potencial de regeneração natural estão localizadas, representando 1,03 milhão de hectares que podem ser restaurados com métodos de baixíssimo ou nenhum custo.
A pesquisa também propõe que os 1,3 milhão de hectares restantes sejam restaurados por meio de sistemas agroflorestais, gerando renda e produzindo alimentos para os povos indígenas. Esse dado reforça a viabilidade econômica e social das iniciativas de reflorestamento, especialmente em terras indígenas, onde a recuperação da vegetação nativa não apenas combate a crise climática, mas também melhora a qualidade de vida das populações locais.
Floresta em pé
Diante da gravidade da crise climática, torna-se evidente que o reflorestamento na Amazônia é uma obrigação moral, alem de uma oportunidade econômica e ambiental que pode desenhar o futuro da questão climática. As iniciativas da Embrapa, do INPA e casos de sucesso como o da Fazenda Aruanã, são o início de uma nova era de negócios sustentáveis, centrada na ação imediata para proteger o planeta e garantir um futuro próspero e inclusivo. A floresta em pé é um símbolo de prosperidade e resiliência, mas também uma necessidade urgente para enfrentar os desafios climáticos e assegurar a sobrevivência das futuras gerações.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
FAQ
Por que as queimadas na Amazônia são tão perigosas?
As queimadas agravam a crise climática ao liberar grandes quantidades de carbono, reduzir a biodiversidade e prejudicar a capacidade da floresta de regular o clima global e continental.
O que significa o termo “rematamento”?
O termo Rematamento, cunhado por Denis Minev, refere-se à recuperação das matas ou biomas florestais, destacando a importância de restaurar áreas degradadas na Amazônia.
Qual é a importância do reflorestamento na Amazônia para a mitigação das mudanças climáticas?
O reflorestamento na Amazônia é crucial para capturar carbono, restaurar habitats, e estabilizar o clima, contribuindo significativamente para a redução dos efeitos do aquecimento global.
Como as comunidades microbianas da Amazônia estão respondendo ao aquecimento global?
Pesquisas mostram que o aquecimento global reduz a capacidade dos microrganismos amazônicos de consumir metano, um potente gás de efeito estufa, exacerbando os impactos climáticos.
Quais são os benefícios dos sistemas agroflorestais para a floresta amazônica?
Os sistemas agroflorestais combinam agricultura e florestas, promovendo a sustentabilidade ao melhorar a saúde do solo, capturar carbono, e diversificar a renda dos agricultores.
O que é o manejo florestal sustentável e como ele contribui para a preservação da Amazônia?
O manejo florestal sustentável é um conjunto de práticas que visa a administração responsável das florestas, equilibrando a exploração econômica com a conservação ambiental e o bem-estar social. Essa abordagem é fundamental para a preservação da Amazônia, uma vez que promove a utilização dos recursos florestais de maneira que respeite a capacidade de regeneração dos ecossistemas.
Ele permite a exploração dos recursos florestais sem comprometer a regeneração natural, preservando a biodiversidade e criando oportunidades econômicas para as comunidades locais.
Qual é o potencial de regeneração natural das áreas desmatadas na Amazônia?
Estudos indicam que aproximadamente 1,03 milhão de hectares na Amazônia têm alto potencial para regeneração natural, oferecendo uma solução de baixo custo para a recuperação da floresta.
Por que o reflorestamento é considerado uma obrigação moral e uma oportunidade econômica?
O reflorestamento na Amazônia é essencial para proteger o planeta e garantir um futuro sustentável, ao mesmo tempo em que cria novas oportunidades econômicas centradas na preservação ambiental.
Como o Brasil pode liderar os esforços globais para mitigar a crise climática através da Amazônia?
Ao investir em reflorestamento, sistemas agroflorestais, e manejo florestal sustentável, o Brasil pode se tornar um líder global na luta contra as mudanças climáticas, preservando a Amazônia para as futuras gerações.
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