A parceria entre o CIEAM, SUFRAMA e Laboratório de Manejo Florestal do INPA representa um importante passo na busca por soluções para os desafios socioambientais na Amazônia. A aproximação entre o programa de Manejo Florestal Sustentável do LMF-INPA e a comissão ESG do CIEAM, mostra que ambos os grupos estão evoluindo em direção a objetivos mais amplos. O LMF-INPA está expandindo sua visão além das árvores, enquanto o CIEAM está olhando além da indústria, ou seja, construindo um futuro que já começou na Zona Franca de Manaus. Esse encontro é promissor, beneficiando não apenas a economia, mas principalmente a floresta.
Entrevista com o cientista Niro Higuchi LMF-INPA
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Coluna Follow-up – Na Amazônia, academia e economia deveriam atuar mais entrelaçadas neste desafio chamado esfinge amazônica. Com descrever esta aproximação do programa de Manejo Florestal Sustentável que você dirige e a comissão ESG do CIEAM?
Niro Higuchi – Os dois grupos distintos dão o primeiro passo de aproximação. Eu acho que são dois grupos distintos em fase de mudança ou de flexibilização. O Laboratório de Manejo Florestal (LMF) do INPA começa a perseguir objetivos além da árvore e o CIEAM, no mesmo caminho, começa a buscar objetivos além da indústria. O encontro foi inevitável. Ganharão todos e, em especial, a floresta. Afinal, esta é a primeira missão científica reunindo cientistas do INPA e lideranças empresariais com o objetivo replicar estudos na margem direita da estrada vicinal ZF2, que pertence à SUFRAMA. Esses estudos envolvem monitoramento de longo prazo da floresta, coletando dados importantes sobre ciclagem de água, carbono e energia.
FUp – Desde 2014, quando foi entregue ao governo japonês o resultado do projeto CADAF, sobre a dinâmica do carbono na floresta, grandes mudanças e avanços foram anotados neste setor. Quais avanços você considera mais importantes?
Niro – O projeto Dinâmica do Carbono da Floresta Amazônica (CADAF, sigla em inglês) foi financiado pelo governo japonês durante o período 2009-2014 e foi executado pela cooperação entre o Instituto de Florestas e Produtos Florestais do Japão (FFPRI, sigla em inglês) e o LMF-INPA. Durante a execução do CADAF, o governo japonês aprovou um mecanismo para mitigação de suas emissões por meio de projetos da modalidade REDD. Em 2011, o Japão realizou dois estudos de viabilidade na Amazônia, um no Acre e outro no Amazonas. Nos dois estudos, o método utilizado foi o do CADAF.
FUp – Através de vídeos didáticos o Laboratório de Manejo Florestal busca envolver a opinião pública no debate da descarbonização emergencial. O que esperar do setor produtivo para que essa consciência climática seja ampliada?
Niro – Esperamos uma mudança de atitude em relação às emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera. A conscientização per si só não basta; há necessidade de ajudar a floresta a exercer o seu papel de removedor de CO2 da atmosfera por meio da fotossíntese. Além disso, também é preciso utilizar tecnologias que emitam menos e, mais importante, os humanos têm que reduzir as suas emissões diretas e indiretas.
Os vídeos didáticos feitos pelo Laboratório de Manejo Florestal é uma estratégia de mobilização. Assim como é essencial que o setor produtivo, através da Comissão ESG, siga avançando seus alertas em relação às emissões de gases de efeito estufa, mostrando a cada um que é necessário fazer bem sua parte. A conscientização só ocorre quando é seguida por ações concretas que permitam assegurar a capacidade da floresta em absorver CO2.
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FUp – Entre os propósitos que reúnem academia e economia da ZFM, algumas iniciativas estão em andamento. Quais você considera mais importante?
Niro – Talvez, a mais importante é a decisão tomada pelo CIEAM e SUFRAMA em utilizar uma parte do distrito agropecuário, ainda protegido, para neutralizar o carbono emitido pelo Polo Industrial de Manaus. De quebra, essa área protegida servirá também de um importante abrigo para a biodiversidade. A ideia do consórcio CIEAM, SUFRAMA e instituições de ensino e pesquisa é consolidar o vale da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.
FUp – Neste fim de semana, ocorrerá a primeira missão científica reunindo cientistas do INPA e lideranças empresariais. Qual é o escopo principal desta iniciativa?
Niro – A ideia principal é replicar os estudos que estão sendo realizados pelo INPA à margem esquerda da vicinal ZF2, para o lado direito da vicinal, que pertence à SUFRAMA. Do lado do INPA há estudos de monitoramento da floresta desde 1980 e estudos mais recentes relacionados com ciclagens de água, carbono e energia. Os trabalhos de campo envolvem coletas no solo, nos troncos, raízes e folhas das árvores e acima das copas das árvores.
Para isso, há uma grua de 26 metros de alcance que se desloca em trilhas dentro da floresta e uma torre de 51 metros de altura, que está aparelhada para coletar dados da troca gasosa entre a biosfera e atmosfera. Com esta iniciativa, a Comissão ESG do CIEAM já pode mobilizar o setor produtivo da ZFM na direção da demonstração da efetiva possibilidade de neutralização do carbono emitido pelo Polo Industrial de Manaus.
Niro nasceu no Paraná, em 1952, e trabalha em Manaus, no Inpa, desde 1980. É Engenheiro Florestal (UFPR 1975), Mestre (UFPR -1978), Doutor (Michigan State University 1987) e Pós-Doutor (University of Oxford 1998). Pesquisador em Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Inventário e Manejo Florestal, é membro titular da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Um dos únicos brasileiros a receber o prêmio Nobel da Paz, em 2007, com outros cientistas que trabalham na ONU, para estudos e defesa do Clima.
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