Por Roberto Rodrigues
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Estudos recentes especulando sobre as macrotendências globais para os próximos 20 anos tem recorrentemente assinalado suas 4 grandes determinantes, que são:
– crescimento, urbanização e envelhecimento da população;
– aumento da renda per capita e do PIB;
– desenvolvimento tecnológico;
– e sustentabilidade.
Obviamente deveriam se encaixar nessa rotulagem questões como educação, saúde, paz, segurança jurídica, segurança alimentar, habitação, mobilidade, democracia e tantas outras, mas uma vertente da sustentabilidade, a que trata do meio ambiente, tem sido objeto prioritário em qualquer evento no mundo.
Pontos críticos no seu entorno são objeto de discussões infindáveis: mudanças climáticas, aquecimento global, eventos extremos, saneamento básico, desmatamento, uso da água e do solo, descarbonização, emissões de gases de efeito estufa, sistemas de produção, rastreabilidade, certificação, e mais recentemente – a partir da COP 26 – a regulamentação do mercado de carbono a nível mundial e a dos pagamentos por serviços ambientais aqui no Brasil compõem uma agenda formidável.
Como jovens de todos continentes estão super interessados na proteção ao meio ambiente, o tema estará na agenda por algumas décadas ainda, visto que eles estarão assumindo posições protagônicas nas instituições públicas e privadas, e acabarão descobrindo o que deve ser feito na realidade, com base na ciência e no conhecimento técnico acumulado. Nem sempre é isso que se comunica, a vinculação da tecnologia com a sustentabilidade. Ocasionalmente, interesses menos republicanos se sobrepõem ao conhecimento científico de maneira que a essencial defesa da preservação dos recursos naturais pode ser usada como argumento a favor ou contra o comércio de alimentos, por exemplo. É preciso escoimar o mal-uso das informações na comunicação sobre sustentabilidade, privilegiando sempre a ciência, a verdade que emerge do conhecimento cientifico, doendo isso a quem doer. Isso é justiça!
Não é por outra razão que desenvolvimento tecnológico e sustentabilidade representam a metade dos fundamentos para a perscrutação do futuro. E ambos estão indissoluvelmente ligados. Não haverá sustentabilidade legítima sem desenvolvimento tecnológico. E a tecnologia estabelecerá as práticas sustentáveis, com ênfase para a preservação do meio ambiente.
A esta relevante circunstância se soma outra bastante enfatizada pela trágica pandemia da Covid-19 que varreu o planeta no final da segunda década e começo da terceira do século XXI: a segurança alimentar.
Muitos países sem autossuficiência na produção de alimentos trataram de se abastecer para garantir a segurança alimentar de suas populações. O conceito é muito importante: o desabastecimento causa distúrbios sociais e até políticos, leva a insurreição e chega a derrubada de governos. Em outras palavras, segurança alimentar é sinônimo de estabilidade sócio-política. O crescimento da demanda coincidiu com estoques globais abaixo da média em 2019 e 2020, o que fez os preços das principais commodities aumentarem espetacularmente em dólares, gerando uma inflação de alimentos no mundo todo. Produtores de todos os quadrantes aumentaram suas áreas de cultivo para aproveitar os bons preços e demandaram muito mais insumos, tais como fertilizantes, pesticidas, máquinas e equipamentos agrícolas, e seus fabricantes tiveram que aumentar investimentos para garantir a oferta, e também aí os preços explodiram, realimentando a inflação já potencializada por complicações logísticas dadas pela pandemia.
Estas questões todas colocaram a segurança alimentar sustentável como a maior demanda de curto prazo da humanidade: comida garantida e meio ambiente preservado!
Ora, qual é o setor que cuidará de ambos? É sem dúvida a agricultura. Mas qual agricultura? A tropical, porque é no cinturão tropical do planeta que existe disponibilidade de terras para incorporar aos cultivos, bem como espaço para aumentar a produtividade por hectare com a introdução de tecnologias tropicais.
E o Brasil terá um papel primordial nesse crescimento de oferta de alimentos para consumidores do mundo todo. Atualmente, segundo a EMBRAPA, o país já alimenta mais de 800 milhões de pessoas em 190 países.
Estudos recorrentes da OCDE, da FAO e do USDA adiantam que, para não faltar comida para ninguém ao final de dez anos, a oferta mundial de alimentos terá que crescer 20%. Mas para isso acontecer, o Brasil terá que aumentar a sua oferta em 40%, o dobro da mundial. As instituições referidas justificam a previsão com base na tecnologia tropical sustentável aqui desenvolvida, na disponibilidade de terras e na competência de recursos humanos encontrados em todos os elos das diversas cadeias produtivas do agro.
Sobre tecnologia, o quadro abaixo mostra números impressionantes.
Quadro 1: área plantada com grãos e sua produção
De 1990 (ano emblemático por ter sido o do Plano Collor) até hoje, a área plantada com grãos cresceu 91%, enquanto a produção cresceu 363%, ou quase 4 vezes mais. Se esses dados são espetaculares, muito mais é a informação de que hoje são cultivados 72 milhões de hectares com grãos no Brasil. Mas se a produtividade por hectare fosse hoje igual a de 1990, seriam necessários mais 103 milhões de hectares para atingir a colheita de 2022. Em outras palavras, estes milhões de hectares foram preservados, numa eloquente demonstração da sustentabilidade da tecnologia aqui desenvolvida.
A mesma vertente de crescimento se observa no quadro 2 com relação a proteína animal;
Quadro 2: carnes
Aliás, o quadro 3 mostra que as áreas de pastagem estão diminuindo enquanto a produção de carne bovina aumentou.
Quadro 3: pastagem x carne bovina
Esta tendência acontece com plantações permanentes ou semi, fruticultura, café, horticultura, etc. E tudo isso tem base na inovação tecnológica que segue avançando com os programas de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono – o ABC – cujo ponto alto passa pelo Integração Lavoura Pecuária Floresta, pelo plantio direto, pela recuperação de áreas degradadas, pela fixação biológica do N ao solo e tantos outros.
Extraordinária é a sustentabilidade da matriz energética brasileira, da qual 48% são renováveis, enquanto a do mundo inteiro só tem 15% renováveis. E boa parte disso se deve a agroenergia, responsável por 19% da oferta de energia no país, com ênfase para a cana-de-açúcar que origina o etanol (que emite apenas 11% do CO2 que a gasolina emite) e mais a bioeletricidade a partir do bagaço e das folhas. Temos também o etanol de milho, crescendo muito. A produção de etanol substitui, em média, 31 bilhões de litros de gasolina por ano, reduzindo a demanda de petróleo importado.
O biodiesel a partir de culturas oleaginosas como a soja e a palma, ou de resíduos como o sebo animal emite 20% dos GEE emitidos pelo diesel fóssil.
E as florestas plantadas para fins industriais já somam 10 milhões de hectares.
Aliás, vale lembrar que, segundo a EMBRAPA, o Brasil ainda tem mais de 65% de seu território coberto com vegetação nativa, e que, devido ao Código Florestal mais rigoroso do Mundo que exige reservas florestais em todas as propriedades rurais privadas, nelas são preservadas matas que representam 25% do território total, por conta e risco dos seus proprietários. E ainda mais: todas as plantas cultivadas no Brasil, exceto pastagens, ocupam apenas 9% dos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do país. As pastagens ocupam outros 21%, mas vem sendo paulatinamente substituídas por agricultura.
Toda essa numerologia leva a novas informações relevantes.
Pelo quadro 4 se pode ver o avanço das exportações do agro brasileiro por produto desde o ano 2000 até agora.
Quadro 4: exportações por produtos
E o quadro 5 mostra os destinos das exportações, explicitando o crescimento das mesmas para os países em desenvolvimento.
Quadro 5: destinos das exportações
Com esses dados, fica evidenciado, no quadro 6, que o saldo comercial brasileiro tem sido sistematicamente crescente por causa do agronegócio, sempre superavitário.
Quadro 6: saldo comercial
É absolutamente fundamental assinalar que este sucesso do agronegócio brasileiro pode ser replicado no cinturão tropical do planeta que incorpora praticamente a América Latina inteira, toda a África Subsaariana e boa parte da Ásia.
Isso mostra o potencial de geração de empregos e renda nessas regiões todas, além da tranquilidade social e política garantidas e a contribuição do mundo tropical à segurança alimentar global.
Claro que não se realiza isso tudo só com ciência e tecnologia. Temas como a logística e a infraestrutura, a política comercial que abra mercados, políticas de renda no campo (com crédito rural e seguro funcionais), e segurança jurídica são essenciais para as coisas evoluírem na direção desejada. Muitas delas dependem de ações governamentais, assim como a exigência de cumprimento das leis. Incrível que, no Brasil, este ponto se concentre, ainda em pleno século XXI, na eliminação de desmatamentos ilegais sobretudo na Amazônia, de incêndios criminosos, de invasões e grilagem de terras, de garimpos clandestinos, de regularização fundiária. Tudo dependendo de fiscalização e controle dos poderes constituídos, nos seus 3 níveis: federal, estaduais, municipais.
Por outro lado, exige-se do setor privado a melhor organização das cadeias produtivas, sobretudo tendo em vista a agregação de valor das commodities através da indústria de transformação. Neste ponto é exemplar o movimento cooperativista brasileiro que responde por 54% da originação agrícola do país, e que deve ser estimulado para cumprir seu histórico papel na inclusão social de milhares de pequenos produtores que ainda estão fora do mercado.
Ao sistema produtivo do mundo tropical está reservado um papel absolutamente central na alimentação de populações de todos os Continentes, com a certeza de que se o cumprirem, estarão assegurando a paz universal: não haverá paz enquanto houver fome.
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