“É preciso muita humildade para integrar a Companhia de Jesus, e não esquecer que Judas Iscariotes era do time, um de seus mais atormentados militantes.”
Wilson Périco
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Curiosa a frequência com que o padre Sandoval Rocha, lembram dele? – que se qualifica como integrante da Companhia de Jesus – se dedica a atacar insistentemente a empresa concessionária de serviços públicos de saneamento, com um discurso que não avança nem permite ressignificação. O que sugere essa cantilena, senão um mal disfarçado descompromisso com o interesse público? Doutor em Ciências Sociais, o reverendo deveria saber que há caminhos mais sensatos, no viés sociológicos ou jurídico, para encontrar soluções. A comunicação violenta não dá o menor espaço para interlocução construtiva. A meta é desconstruir a qualquer custo. No caos em que se encontra o país é isso que mais lhe importa?
Em junho último, na primeira onda da COVID-19, enquanto trabalhávamos, lado a lado, com a Arquidiocese de Manaus e a representação local da Cáritas Internacional, para coletar e distribuir alimentos destinados aos segmentos sociais com maior vulnerabilidade, onde estava o reverendo? Espalhando injúrias, coletando desinformações para distribuir o arsenal maldoso de sua sacristia do ódio… Não é nossa responsabilidade coletar e amenizar a fome de tanta gente. O fazemos por espírito cristão e solidariedade voluntária. Nossa especialidade, em tempos de paz, é gerar 500 mil empregos diretos e indiretos e financiar integralmente a Universidade do Amazonas, dando cidadania acadêmica e dignidade aos jovens e adultos nos 61 municípios do Amazonas.
Vamos recapitular suas peças destrutivas. Num artigo panfletário, de maio de 2020, (Uma Gestão Excludente), ele disparou: “Para que serve o vistoso PIB produzido pela Zona Franca de Manaus, elevando a cidade à sexta posição entre as mais ricas do Brasil (…) para enriquecer ainda mais os grandes empresários e elites financeiras, residentes, na sua grande maioria, fora do país?” No desfecho do impropério, com a inconsequência de quem fala sobre o que não conhece, conclui: “Eles, os empresários, extorquem as populações locais, e exploram os recursos naturais pouco colaborando para a melhoria da qualidade de vida do povo manauara”. São insinuações rasteiras, afirmações ocas, que repudiamos, não apenas como representante da indústria mas também como cristão católico, e ficamos espantados com a grosseira manifestação clerical, em total desacordo com a missão evangélica que deveria cumprir. A propósito, eis nossa manifestação. (Para conferir: clique aqui).
Sabem o que ele respondeu a respeito?
A história da planta industrial do Amazonas – literatura que lhe escapa – é estigmatizada com a imagem de paraíso fiscal e, na verdade, se trata de um verdadeiro paraíso da Receita, ou seja, aquela que mais recolhe impostos, fundos e contribuições para os cofres públicos. Estamos, por isso, entre os cinco estados que mais recolhem aos cofres da República, ou seja, ajudamos o Brasil a carregar o país nas costas. Segundo a FGV, uma das mais respeitáveis instituições de pesquisa do Brasil, a cada real que o país deixa de recolher em termos de Custo Brasil na Amazônia Ocidental e no Amapá, o cidadão põe no bolso pelo menos R$1,40. E segundo a FEA USP, temos a planta industrial em que as empresas têm a menor taxa de retorno de seus investimentos e é aquela que mais remunera trabalhadores/colaboradores.
Neste ambiente de caos, a nação precisa de corações e mentes mais generosos de alma, mais dispostos à solidariedade de quem estende a mão aos despossuídos da pandemia e prioriza o que nos une e deixa de lado nossas diferenças e opções. É isso que pede o Papa Francisco, citando o Papa João XXXIII. O padre desconhece a história da privatização de serviços de distribuição de água em Manaus. Se ocupa em publicar indicadores falsos, em lugar do consolidar o conhecimento sadio, premissa da informação verdadeira. Vejamos um exemplo. Sua difamação no último ataque ignora propositalmente a comparação de indicadores das duas principais capitais da Amazônia, onde uma faz saneamento com empresa pública, e a outra foi privatizada. Os avanços, em menos de três anos, que a empresa privatizada consignou no nosso município são extraordinários, a outra, o padre escondeu. Manaus é atendida pelo maior e mais premiado grupo privado de serviços saneamento do País. Se atentarmos para a cobertura de água, Manaus avançou para 98% da sua população com acesso a água tratada enquanto a outra grande capital da região Norte continua estacionada em 72,1%. Se compararmos o SNIS 2017 com o SNIS 2019, Manaus cresceu em 2 anos mais de 80% sua cobertura de esgoto e vem avançando significativamente, com metas contratuais claras para chegarmos a 80% de cobertura de esgotamento sanitário em 2030. Importante questionar o padre Sandoval quanto avançou a outra capital, ou ainda quanto o contribuinte estadual tem que colocar todo mês para fechar as contas da prestação do serviço deficitário. Nossa cidade, para simbolizar compromisso, é aquela com maior volume de domicílios com Tarifa Social conferida pela empresa que administra o saneamento nos municípios do Norte. O nome disso é Ética Social em movimento.
Ora, com a narrativa de quem se diz teólogo e sociólogo, os textos agressivos do reverendo se apartam da realidade e se esconde nos Pampas da difamação. Não é isso que se espera da Companhia de Jesus, escalada pela Madre Igreja, desde Inácio de Loyola, para zelar pela Doutrina Cristã, que se resume à solidariedade transformada em atitudes. Dos membros da sagrada Companhia se espera a comunhão de esforços, a distribuição da fé, de alimentos, da fraternidade efetiva e do despojamento das vaidades que impede a construção de uma nova ordem social. É miserável o maniqueísmo que define o tecido social como o confronto entre justos e gentios, muito comum ao farisaísmo que o Nazareno tanto combateu. É preciso muita humildade para integrar a Companhia de Jesus, e não esquecer que Judas Iscariotes era do time, um de seus mais atormentados militantes.
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