“Visita de especialistas a Manaus reforça a importância da Zona Franca de Manaus e propõe ampliação do debate para São Paulo e outros centros econômicos”
Por Alfredo Lopes
Por muito tempo, a Zona Franca de Manaus (ZFM) tem sido alvo de percepções distantes, muitas vezes equivocadas, sobre seu impacto econômico, social e ambiental. Para quem nunca esteve na região, a ideia predominante é a de uma área incentivada, sem grandes contribuições ao país e à indústria nacional. sem conhecer, condenam o modelo fabril que dá suporte à economia regional. Entretanto, para aqueles que a visitam e conhecem sua dinâmica de perto, a realidade se apresenta de forma muito diferente.
Essa foi a experiência de Haroldo da Silva e Carolina Pavese, dois especialistas em desenvolvimento industrial sustentável, economia circular, que estiveram recentemente em Manaus e puderam vivenciar in loco o funcionamento da ZFM, suas indústrias e seu ambiente institucional. O contraste entre a visão de quem nunca esteve na região e a percepção de quem a experimenta ao vivo ressalta a necessidade de um debate mais aprofundado e realista sobre o modelo econômico amazônico.
“Se não fosse a Zona Franca, teríamos o caos”
Haroldo da Silva, economista e especialista em desenvolvimento industrial, destacou que a ZFM não é apenas um modelo de benefícios fiscais, mas uma correção necessária diante das desigualdades regionais do Brasil. “Os paulistanos, por exemplo, nem se dão conta de que o motoboy que entrega seus pedidos de comida usa uma motocicleta fabricada em Manaus. O ar-condicionado que ameniza o calor da Faria Lima provavelmente veio de uma fábrica daqui. E até mesmo a Coca-Cola, que harmoniza com a pizza paulista, tem um elo com a Amazônia”, pontuou.
Para ele, a inexistência da Zona Franca significaria um cenário de caos econômico e social na região Norte. “Olhando de fora, talvez se tenha a impressão de que a ZFM é apenas um privilégio concedido a uma parte do país. Mas, ao observar de dentro, vemos uma estrutura institucional bem organizada, uma coesão de objetivos e um modelo econômico que precisa ser fortalecido, e não atacado”, argumentou Haroldo.
“Levar essa agenda para São Paulo”
Carolina Pavese, especialista em economia circular e ESG, reforçou a importância de ampliar o debate sobre a Zona Franca para outros centros econômicos, especialmente São Paulo. Para ela, há eventos importantes no calendário de sustentabilidade, como a Climate Week e as discussões do Itaú Cubo, onde se fala muito sobre a Amazônia, mas raramente se ouvem representantes da própria região.
“Precisamos levar essa história para São Paulo. Nada melhor do que um interlocutor local para explicar a importância da ZFM e como ela contribui para o desenvolvimento sustentável do Brasil”, defendeu Carolina.
Além disso, ela ressaltou que a economia circular pode ser um fator estratégico para fortalecer a ZFM no cenário nacional e internacional. “Muitas empresas ainda veem ESG como um custo, algo que só entra no orçamento se houver lucro no fim do ano. Mas aqui em Manaus, percebemos que o conceito já está sendo incorporado na gestão de muitas indústrias. A exigência de um planejamento de economia circular para empresas incentivadas é um avanço que pode tornar a ZFM uma referência global no tema”, afirmou.
ZFM: um modelo replicável?
Haroldo da Silva fez ainda uma provocação: será que a Zona Franca de Manaus já não representa um modelo de economia sustentável que poderia ser replicado em outras regiões? Ele citou a teoria da economista Kate Raworth, autora da “Economia Donut”, que defende um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
“A Zona Franca já opera dentro dessa lógica. O problema é que o mundo ainda enxerga apenas o PIB como métrica de sucesso, sem considerar aspectos sociais e ambientais. Se conseguirmos avançar nessa tese, podemos mostrar que Manaus já é um laboratório da economia do futuro”, concluiu.
Por fim, os depoimentos de Haroldo da Silva e Carolina Pavesi reforçam que a percepção sobre a Zona Franca de Manaus muda radicalmente quando se tem a oportunidade de conhecê-la de perto. Mais do que um polo industrial, a ZFM representa um modelo de desenvolvimento regional que equilibra economia, meio ambiente e inclusão social.
A questão agora é ampliar esse debate para que mais pessoas e tomadores de decisão entendam sua relevância e contribuam para sua evolução. Afinal, como bem pontuou Haroldo: “O que o Brasil fará? Acolherá aqueles que querem se integrar ou ignorará um dos modelos mais sólidos de desenvolvimento sustentável do país?”.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora