Pesquisa inédita revela que bactérias fixadoras de nitrogênio sustentam a vida sob o gelo no Ártico e podem aumentar a absorção de carbono pelos oceanos.
A retração do gelo marinho no Ártico, considerado uma ameaça ambiental, revelou um processo natural capaz de impulsionar a vida sob o gelo no Ártico e aumentar a capacidade do oceano de absorver carbono. Um estudo liderado pela Universidade de Copenhague identificou que bactérias presentes sob o gelo realizam a fixação de nitrogênio, um processo que transforma o gás dissolvido na água do mar em amônio, nutriente essencial para o crescimento de algas.
A pesquisa contou com a participação de universidades e institutos da Dinamarca, Suécia, Alemanha, França e Reino Unido, e se baseou em expedições científicas realizadas a bordo dos navios quebra-gelo IB Oden e RV Polarstern. Ao todo, foram coletados dados em 13 pontos do Ártico central. As descobertas trazem um novo entendimento sobre os ciclos biogeoquímicos na região, mostrando que, mesmo em ambientes extremos, a vida sob o gelo no Ártico consegue prosperar.

As algas desempenham um papel duplo no ecossistema: formam a base da cadeia alimentar marinha e atuam como importantes captadoras de CO₂ atmosférico. Publicado na revista Communications Earth & Environment, o estudo revelou que a fixação de nitrogênio ocorre mesmo tanto nas áreas mais remotas quanto nas centrais do Oceano Ártico, contrariando a crença anterior de que as condições sob o gelo seriam hostis demais para esse processo.
As maiores taxas de fixação foram registradas nas bordas do gelo marinho, onde o derretimento é mais intenso. Nessas zonas de transição, bactérias não-cianobactérias prosperam, fornecendo nitrogênio para as algas e sustentando indiretamente toda a cadeia alimentar, incluindo crustáceos e peixes.

Com o avanço do aquecimento global e a contínua perda de gelo, essas zonas de fixação tendem a se expandir — o que pode aumentar a disponibilidade de nutrientes, estimular o crescimento de algas e ampliar o sequestro de carbono pelo oceano. Embora os pesquisadores evitem conclusões definitivas, o estudo aponta que esse processo precisa ser considerado nos modelos climáticos que projetam o futuro do Ártico.
“Para o clima e o meio ambiente, isso provavelmente é uma boa notícia. Se a produção de algas aumentar, o Oceano Ártico poderá absorver mais CO₂, pois ele será incorporado à biomassa das algas. Mas os sistemas biológicos são muito complexos, então é difícil fazer previsões exatas”, explica Lasse Riemann, professor do Departamento de Biologia e autor sênior do estudo.
