Relatório denuncia que, em modelo de transição energética desigual, o Sul Global arca com os custos da energia limpa, enquanto países centrais concentram lucros e ampliam violações ambientais e sociais.
Um relatório da Oxfam Internacional alerta que a transição energética desigual está sendo conduzida de forma a repetir padrões coloniais históricos. Intitulado “Transição Injusta: Resgatando o futuro energético do colonialismo climático”, o documento aponta que países e populações do Sul Global arcam com os custos sociais, ambientais e financeiros da corrida por energia limpa, enquanto os lucros e o controle permanecem concentrados nas nações ricas e nas elites globais.
O estudo cita o caso da Tesla, que em 2024 obteve lucro de US$ 5,63 bilhões com seus veículos elétricos, ganhando US$ 3.145 por unidade. Em contraste, a República Democrática do Congo, de onde vem o cobalto essencial para esses carros, recebeu menos de US$ 10 por veículo em royalties. Segundo a Oxfam, se o valor fosse integralmente retido pelo país, seria possível garantir energia limpa para metade de sua população.
O relatório também denuncia o consumo desproporcional do Norte Global. Nos últimos 60 anos, os países mais ricos usaram mais de 3.300 petawatt-hora em excesso — energia suficiente para abastecer o planeta por mais de duas décadas. Apenas o 1% mais rico poderia, com seu consumo anual, suprir as necessidades energéticas de todas as pessoas sem eletricidade no mundo sete vezes. Esses dados reforçam como a transição energética desigual amplia a distância entre países ricos e pobres.
A mineração de minerais críticos, como lítio e cobalto, e a instalação de grandes projetos de energia renovável frequentemente violam direitos humanos e ambientais, afetando 60% das terras indígenas reconhecidas no mundo. Apesar de concentrar 70% do potencial eólico e solar do planeta, a África recebeu apenas 2% do investimento global em energia limpa em 2024, ilustrando mais uma face dessa transição energética desigual.
Para enfrentar essas distorções, a Oxfam propõe um modelo energético descentralizado e descolonizado, baseado em financiamento público, reparações climáticas, soberania tecnológica e respeito aos direitos dos povos indígenas.
