Novo estudo aponta para relação entre tráfico de drogas e desmatamento na Amazônia

Estudo revela correlação surpreendente entre tráfico de drogas e desmatamento na Amazônia. Operações policiais tem revelado e desarticulado rotas criminosas e aumentam apreensões.

Um novo estudo ainda em estado preliminar do Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc), vinculado à Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça, revelou que os estados da Amazônia Legal que reduziram o desmatamento entre 2022 e 2023 também registraram aumento nas apreensões de drogas. O estudo, intitulado “Tráfico de Drogas na Amazônia e Efeitos no Meio Ambiente: Uma Análise Exploratória“, será divulgado em uma cerimônia em Brasília.

Segundo o levantamento, estados como Acre, Amazonas, Pará e Rondônia conseguiram reduzir o desmatamento por quilômetro quadrado e registraram um aumento significativo nas apreensões de maconha ou cocaína. Em Rondônia, por exemplo, a redução do desmatamento foi de 25,1%, com uma diminuição de 41,4% nas áreas desmatadas, enquanto as apreensões de maconha aumentaram em 179,5% e as de cocaína em 8,1%.

Estudo revela correlação surpreendente entre tráfico de drogas e desmatamento na Amazônia enquanto operações policiais em São Paulo desarticulam rotas criminosas e aumentam apreensões.
Foto: Felipe Werneck/Ibama

O Pará, que teve um aumento mínimo no desmatamento de 1,4%, viu as apreensões de maconha crescerem 200,1% e as de cocaína 124,3%. No Amazonas, houve uma queda de 20,6% no desmatamento e de 37,9% nas áreas desmatadas, mas as apreensões de cocaína aumentaram 50,8%.

O estudo também destacou que o Amapá, apesar do aumento de 58,3% nas taxas de desmatamento, registrou um crescimento de 256,5% nas apreensões de cocaína, enquanto as apreensões de maconha caíram 33,6%.

Entre esses quatro estados, somente o Amazonas não registrou aumento na apreensão de maconha, apresentando uma queda de apenas 3,7%, o que é relativamente pequeno considerando a magnitude das variações nas demais unidades federativas”, diz o estudo.

Os autores do estudo alertam para a tendência de desmatamento próximo a terras indígenas e a proliferação de pistas de pouso não registradas nessas áreas. O levantamento do Mapbiomas identificou 2.869 pistas na Amazônia, das quais 28% estão em áreas protegidas, facilitando o tráfico de drogas e a degradação ambiental.

Estudo revela correlação surpreendente entre tráfico de drogas e desmatamento na Amazônia enquanto operações policiais em São Paulo desarticulam rotas criminosas e aumentam apreensões.
Pista de pouso ao lado de garimpo clandestino na região do rio Rato, afluente do Tapajós, em Itaituba (PA) – Lalo de Almeida/Folhapress

A Rota Amazônica do Tráfico de Drogas

O Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), tornou-se uma rota de interesse para o tráfico de drogas. Toda semana, ao menos uma apreensão é realizada no terminal. A Polícia Federal e a Receita Federal têm intensificado a fiscalização, revelando uma rota específica que liga a Amazônia a São Paulo.

As drogas, como cocaína e maconha, são produzidas na Colômbia e no Peru e enviadas de barco pelo Rio Solimões até a Região Metropolitana de Manaus. De Manaus, são transportadas por via aérea para aeroportos em São Paulo, como Viracopos, escondidas em cargas ou com passageiros aliciados, conhecidos como mulas.

Operações conjuntas das delegacias da Polícia Federal em Campinas e Manaus têm desarticulado quadrilhas que utilizam Viracopos como rota. Em 2023, mandados de prisão e busca foram cumpridos em vários estados, resultando em apreensões de drogas, armas e bens de luxo. “Ano passado tivemos a Operação Campinas Connection, justamente para entender, prender e aprofundar investigações relacionadas às associações criminosas que têm pessoas sediadas no Amazonas e no sul do país utilizando aqui, esse aeroporto, como uma forma de rota”, explicou Edson Geraldo de Souza, chefe da PF em Campinas.

Rota amazonica droga entra de barco no Brasil e depois vai para o sudeste de aviao diz PF Foto Arte g1
Foto: Arte/g1

Aqui no aeroporto de Manaus toda semana varias prisões em flagrantes são feitas de mulas que tentam embarcar transportando drogas. Com base em uma dessas prisões, foi iniciada uma investigação em que foi possível identificar uma organização criminosa de aliciamento de mulas. Além de aliciar essas mulas, essa organização tinha um núcleo de lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas”, disse Sávio Pinzon, delegado Policia Federal do Amazonas.

Operações e esforços contínuos

Os dados revelam a magnitude das apreensões e prisões em Viracopos. Em 2023, foram apreendidos 261 kg de drogas e 55 pessoas foram presas. No primeiro quadrimestre de 2024, 164 kg de drogas foram apreendidos e 21 pessoas foram presas.

A intensificação da fiscalização em Viracopos, combinada com o treinamento de policiais e a integração com outras forças de segurança, aumentou a eficiência das apreensões. A Receita Federal realiza fiscalização contínua no aeroporto, operando 24 horas por dia. “Nós intensificamos a fiscalização, nos aprimoramos por meio do treinamento dos policiais, troca de informações, por meio da integração da PF com as demais forças de segurança. Além disso, o serviço de inteligência vem acompanhado de uma série de recursos de fiscalização aeroportuária, quer pelo operador aeroportuário, quer pela própria PF e ainda pela Receita Federal”, detalhou Edson Geraldo de Souza.

A relação entre a redução do desmatamento na Amazônia e o aumento das apreensões de drogas ressalta a complexidade dos desafios enfrentados na região. Estudos buscam entender melhor essas dinâmicas, enquanto operações policiais continuam a desarticular redes de tráfico, evidenciando a necessidade de ações coordenadas entre segurança pública e políticas ambientais.

Com informações da Folha e do G1

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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