Relatos do Curupira | O Tornado, o Tempo e o Reverso

Eu vi, lá de cima das copas altas, o redemoinho rasgar os céus de Rio Bonito do Iguaçu, enquanto os homens e mulheres de terno e microfone debatiam o clima na COP da Amazônia. O vento não esperou o consenso. O tornado chegou antes das promessas e falou a sua língua antiga: a Terra está no limite.

Paulo Artaxo, o físico que escuta o planeta com ouvidos de ciência, disse o que eu, Curupira, já grito há séculos pelos igarapés:

O tornado foi o tradutor desse aviso. E não foi coincidência. Foi sinal.

Enquanto os líderes discutem créditos de carbono e cifras bilionárias, a floresta seca observa — porque dinheiro não regenera o ciclo da água. A Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, já sente sede. O tempo da estiagem se alonga, os rios recuam, e o verde começa a tossir poeira.

Não há protocolo que segure o sopro do planeta quando ele decide responder. O clima não obedece decreto, nem mercado de carbono, nem ata de reunião.

A floresta sabe: o que se chama “desenvolvimento” ainda é reverso, ainda é predação travestida de progresso. E talvez o que precisamos não seja de mais metas, mas de coragem para fazer o reverso do que se fez errado nos últimos 50 anos. Mais urgência para o Mapa do Caminho.

CURUPIRA
Curupira da Amazônia

O reverso

Artaxo falou de limites planetários. Eu, Curupira, falo de limites morais. A ciência mede as partes por milhão de CO₂. Eu meço o que se perdeu de sensibilidade e escuta.

Os dois medem o mesmo:

O esgotamento de um mundo que trocou sabedoria por lucro, floresta por pasto e rio por minério.

O reverso que o planeta pede é simples: Menos discursos, mais raízes. Menos compensação, mais recomposição. Menos promessa, mais floresta viva.

O tempo do retorno

Tudo o que sobe, volta. E volta em dobro, às vezes em triplo — como o vento que arranca o telhado e devolve o esquecimento.
A Terra devolve o que lhe tomam. O tornado é o novo mensageiro. O calor é a sua resposta. E a seca é o espelho.

A floresta não quer vingança. Quer justiça ecológica. E quem não ouvir agora, ouvirá o silêncio da Terra depois.

Epílogo do dia

Eu, Curupira, caminho de costas para que pensem que fui embora. Mas sigo aqui, vigiando as intenções, ouvindo os discursos, medindo a distância entre as palavras e as ações. A ciência e a floresta falam juntas. Paulo Artaxo traduziu o planeta em números.
Eu traduzo o planeta em sinais.

E os dois dizem a mesma coisa:

O tempo de alertar acabou. É hora do Reverso.

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

Artigos Relacionados

Na COP30, UEA transforma ciência amazônica em propostas de impacto para o clima

UEA apresenta na COP30 projetos inovadores que aliam ciência amazônica, justiça climática e soluções sustentáveis para o clima.

Denis Minev defende agroflorestas para impulsionar Amazônia na COP30

Na COP30, Denis Minev defende agroflorestas para regenerar terras e impulsionar uma economia sustentável na Amazônia.

COP30 apresenta “Pacote Azul”, plano de US$ 116 bilhões para proteger oceanos

COP30 lança o Pacote Azul, plano de US$ 116 bilhões para integrar oceanos às metas climáticas.

Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 — A Última Chamada

"A Avaliação da Amazônia, apresentada por mais de uma centena...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, insira seu comentário!
Digite seu nome aqui