O anúncio de investimentos de R$800 mil em kits para seringueiros e subvenções por parte do governo estadual mira impulsionar a cadeia produtiva da borracha e beneficiando mais de 850 extrativistas. Destaques da safra de 2023 incluem premiações por liderança e engajamento, enquanto o projeto “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica” promove a conservação de vastas áreas da Amazônia, gerando renda significativa para centenas de famílias e reforçando a importância das economias baseadas na sociobiobiodiversidade.
A administração estadual do Amazonas, representada pela Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), divulgou na última terça-feira (27/02) um aporte financeiro de R$ 800 mil. Esse valor será destinado à compra de cerca de 400 kits destinados aos trabalhadores da extração de borracha, com o objetivo de impulsionar este segmento produtivo no território amazonense.
Márcio Abreu, que ocupa a posição de gerente de Florestas na Sepror, destacou a importância dessa iniciativa: “Como executora de políticas públicas, a Sepror tem em seu planejamento para 2024, a entrega de 400 kits seringueiros. Então, essa é uma forma de incentivar a produção e a melhoria dessa cadeia produtiva no estado”.
Encontro dos seringueiros
Este anúncio foi feito no contexto do 2º Grande Encontro dos Seringueiros do Amazonas, um evento que teve início na segunda-feira (26/02) e se estendeu por três dias. O local escolhido para o encontro foi a Avenida Mandii, situada no Distrito Industrial de Manaus, na zona sul da cidade.
A assembleia contou com a presença de seringueiros representando associações de diversos municípios, incluindo Canutama, Eirunepé, Manicoré, Pauini, Itacoatiara, Novo Airão, Boca do Acre, entre outros que estão se destacando na produção de borracha.
O evento foi organizado por uma colaboração entre o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o Memorial Chico Mendes, a WWF-Brasil, a Fundação Michelin e várias associações de produtores de borracha do Amazonas.
Dione Torquato, secretário-geral do CNS, explicou que o propósito do encontro era revisar os resultados da safra 2022/2023 e planejar estratégias para fortalecer e expandir a cadeia produtiva da borracha a partir de 2024. “Então, hoje nós temos quase 600 famílias incluídas na cadeia produtiva da borracha, em vários municípios e a expectativa é de ampliar essa participação e consequentemente aumentar a produção”, afirmou Dione.
Fortalecimento do extrativismo
Nos anos de 2020 e 2021, o Governo do Amazonas, através da Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror), promoveu o extrativismo sustentável e o incremento na produção de borracha natural, distribuindo 600 kits seringueiros por meio de um edital de chamamento público. Esses kits foram destinados aos trabalhadores dos municípios de Lábrea, Manicoré, Canutama, Carauari e Itacoatiara, visando apoiar diretamente a atividade extrativista.
Em 2023, a iniciativa continuou com a entrega de 160 kits adicionais para os municípios de Boca do Acre, Lábrea, Humaitá e Pauini, reforçando o compromisso do estado com o setor.
Cada um desses kits é cuidadosamente montado, contendo 400 canecas ou tigelas de 600 ml, 400 bicas-suporte, um balde tipo bombona com capacidade para 10 litros, uma lanterna de cabeça, duas facas de sangria amazônica e um facão, ferramentas essenciais para a atividade de extração da borracha.
Entre 2021 e 2023, a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS) desempenhou um papel crucial no apoio aos extrativistas de borracha, através do pagamento de uma subvenção totalizando R$ 443.022,00. Este incentivo financeiro beneficiou cerca de 854 extrativistas de oito diferentes municípios, demonstrando um esforço significativo para melhorar a vida desses trabalhadores e suas famílias.
Durante este período, foram comercializados 278.706 quilos de borracha natural, evidenciando o impacto positivo da subvenção na produção. Os municípios beneficiados por essa ação incluem Humaitá, Boca do Acre, Itacoatiara, Manicoré, Pauini, Canutama, Lábrea e Carauari, marcando um avanço importante na sustentabilidade e no desenvolvimento econômico da região.
Reconhecimento e impacto na Cadeia Produtiva da Borracha
Prêmios de destaque na safra de 2023
Na recente celebração dos esforços na cadeia produtiva da borracha, foram entregues prêmios nas categorias de Volume de Produção, Qualidade, Organização e Engajamento, Liderança Engajadora e Engajamento Feminino, como reconhecimento às contribuições significativas para o setor. Reginaldo do Nascimento Freitas, destacado pela sua Liderança Engajadora na Reserva Extrativista do Lago do Capanã Grande, em Manicoré, articulou 91 seringueiros, resultando na entrega de 21 mil toneladas de borracha em 2023. Freitas expressou seu orgulho e gratidão, enfatizando o valor do trabalho coletivo na defesa da floresta.
Este projeto transformador já beneficiou diretamente 500 famílias, promovendo a conservação de mais de 145 mil hectares da Amazônia através do manejo sustentável. Seu impacto ambiental se estendeu a mais de 1,3 milhão de hectares, incluindo quatro unidades de conservação e cinco municípios do Amazonas, uma área maior que a própria capital, Manaus. Com a produção de mais de 130 toneladas de borracha nativa no segundo ano, o projeto gerou aproximadamente R$ 1,8 milhão em renda para as famílias envolvidas.
Os esforços conjuntos de organizações como o CNS, Memorial Chico Mendes, Michelin Brasil, Imaflora, WWF-Brasil, e o apoio da USAID, PPA, Alliance Bioversity International – CIAT, CGIAR, Fundação Michelin e Conexsus, foram cruciais para esses resultados.
Economias da Sociobiobiodiversidade
As economias baseadas na sociobiobiodiversidade representam mais do que a simples comercialização de produtos; elas refletem o conhecimento tradicional e a utilização sustentável dos recursos naturais por comunidades que habitam diversos ecossistemas. Claudia de Pinho, diretora de Gestão Socioambiental e Povos e Comunidades Tradicionais no Ministério do Meio Ambiente, destacou a importância da identidade e autoafirmação dos povos da floresta. Este enfoque não apenas valoriza a produção tradicional, mas também celebra as pessoas que estão por trás dessas atividades, movimentando políticas e práticas sustentáveis.
Com informações do Governo do Amazonas e da WWF
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