Estudo aponta que produtos florestais não madeireiros podem financiar reflorestamento

Pesquisa da USP revela 167 espécies, com potencial bioeconômico para gerar produtos florestais não madeireiros, que podem financiar o reflorestamento e garantir manutenção de ecossistemas.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) aponta que a exploração de produtos florestais não madeireiros pode ajudar a viabilizar economicamente projetos de restauração da Mata Atlântica. Publicado na revista Ambio, o trabalho identificou 167 espécies nativas com potencial bioeconômico, entre as 329 analisadas na região do Vale do Paraíba do Sul, que abrange São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Segundo o levantamento, 59% das espécies avaliadas apresentam algum tipo de aplicação: 58% na área médica, 12% em cosméticos e 5% no setor alimentício. Do total, 78 espécies (46,7%) possuem patentes registradas em 61 países, mas apenas 8% no Brasil. Para os autores, esse dado revela tanto o potencial econômico e comercial já reconhecido em escala global quanto o espaço ainda existente para novas descobertas e aplicações.

De acordo com o artigo, o manejo de produtos florestais não madeireiros – como folhas, galhos, frutos e sementes – é uma alternativa de baixo impacto, que mantém a floresta em pé e pode gerar receita em médio prazo, diferentemente da exploração de madeira, que exige ciclos longos e não é permitida em Áreas de Preservação Permanente. Essa estratégia pode reduzir custos da restauração e tornar os projetos mais atrativos para produtores rurais, ao mesmo tempo em que assegura serviços ecossistêmicos como provisão de água, proteção do solo, sequestro de carbono e polinização.

Pinhão, semente da araucária, mostrando o uso de produtos florestais não madeireiros na restauração florestal.
O pinhão, semente da araucária, é alimento tradicional no Sul e Sudeste do Brasil e representa uma das aplicações econômicas da espécie em reflorestamento. Foto: Priscilla Gomes/Getty Images.

O estudo alerta que o aproveitamento econômico dessas espécies deve ser acompanhado por planos de manejo e regulação para evitar a superexploração. Como exemplo, cita o pau-rosa, árvore amazônica explorada intensamente nas décadas de 1940 e 1950 pela indústria de perfumaria e hoje ameaçada de extinção.

Medidas de incentivo, como compras públicas e certificações, podem abrir novos mercados para os produtos florestais não madeireiros e ajudar a financiar projetos de recuperação florestal. Se o Brasil cumprir a meta do Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, estima-se a geração de até 2,5 milhões de empregos no país.

Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu
Bruna Akamatsu é jornalista e mestre em Comunicação. Especialista em jornalismo digital, com experiência em temas relacionados à economia, política e cultura. Atualmente, produz matérias sobre meio ambiente, ciência e desenvolvimento sustentável no portal Brasil Amazônia Agora.

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