Com o retorno da produção de borracha seguindo padrões sustentáveis, os Rikbaktsa pretendem que os territórios indígenas voltem a fornecer a matéria-prima à empresa francesa Michelin, que realiza compras de borracha na Amazônia
Uma atividade tradicional do povo indígena Rikbaktsa, do noroeste do Mato Grosso, abandonada há mais de uma década, está retornando com protagonismo entre as atividades econômicas locais: a produção de borracha. Com potencial de unir preservação ambiental e geração de renda, a extração do látex das seringueiras volta agora como uma alternativa viável para o fortalecimento econômico das aldeias e a valorização do conhecimento ancestral.
O diferencial do povo Rikbaktsa está na forma como tratam a floresta — não como recurso a ser explorado indiscriminadamente, mas como um legado a ser preservado para os netos, bisnetos e futuras gerações. Os ciclos da planta são respeitados, os cortes não são profundos e são feitas pausas na extração, para garantir que a planta se recupere.
Dessa forma, eles pretendem que os territórios indígenas voltem a fornecer a matéria-prima à empresa francesa Michelin, uma das maiores fabricantes de pneus do mundo, que realiza compras de borracha na Amazônia.
Patrocínio da borracha sustentável
Um dos principais impulsionadores da retomada da produção de borracha é o projeto Juntos pela Amazônia – Revitalização da Cadeia Extrativista da Borracha, uma iniciativa que reúne organizações nacionais e internacionais, além de empresas interessadas em práticas de comércio sustentável, como a Michelin. Entre os parceiros está também a ONG Memorial Chico Mendes, que atua como elo entre as comunidades extrativistas e o mercado comprador.
Nas terras indígenas do povo Rikbaktsa, o suporte direto vem do projeto Biodiverso, responsável por articular ações locais e facilitar a conexão com o Memorial Chico Mendes. Juntos, esses projetos constroem uma rede de apoio técnico e comercial que fortalece a cadeia da borracha nativa.
De acordo com o Biodiverso, a meta é comercializar 90 toneladas de borracha nativa até 2027, considerando toda a área atendida pelo projeto. Isso inclui diversas Terras Indígenas (TIs): Erikpatsa, Japuíra, Escondido, Arara do Rio Branco, Aripuanã e a Reserva Extrativista Guariba Roosevelt.
“Antes, a produção de borracha era uma produção explorada, associada a trabalho escravo, por conta de figuras como atravessadores e do próprio patrão. Então, esse novo paradigma que essas empresas estabeleceram é eliminar a figura do patrão e ter contato direto com as associações [das terras indígenas e extrativistas]. Retomaram com o que a gente chama de um preço justo, que elimina a figura do patrão”, explica Jhassem Siqueira, analista de sustentabilidade da ONG Memorial Chico Mendes em entrevista à Agência Brasil. O veículo visitou três aldeias Rikbaktsa a convite da Petrobras – patrocinadora do projeto Biodiverso.
Segundo o assessor de Mercados do Biodiverso, Renato Pereira, a extração de látex tem como objetivo “garantir que essas famílias de extrativistas indígenas permaneçam nas suas áreas, protegendo seus territórios, sendo guardiões dos seus territórios, trabalhando com a floresta de pé, agregando o valor produto”.
“Aquilo que é extraído de uma maneira sustentável, tem mais valor”.
-Renato Pereira